Friday, February 19, 2010

O Incômodo Censo Agropecuário.


O Incômodo Censo Agropecuário.

Roberto Malvezzi (Gogó)


O último censo agropecuário trouxe verdades incômodas, que atiçaram a gira do agronegócio brasileiro. Afinal, a pobre agricultura familiar, com apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área agrícola, é responsável ?por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café , 34% do arroz, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do

trigo.

A cultura com menor participação da agricultura familiar foi a soja (16%). O valor médio da produção anual da agricultura familiar foi de R$ 13,99 mil?, segundo o IBGE. Quando se fala em agricultura orgânica, chega a 80%. Além do mais, provou que tem peso econômico, sendo responsável por 10% do PIB Nacional.

Acontece que a agricultura familiar, além de ter menos terras, tem menos recurso público como suporte de suas atividades. Recebeu cerca de 13 bilhões de reais em 2008 contra cerca de 100 bilhões do agronegócio.

Portanto, essa pobre, marginal e odiada agricultura tem peso econômico, social e uma sustentabilidade muito maior que os grandes empreendimentos.

Retire os 100 bilhões de suporte público do agronegócio e veremos qual é realmente sua sustentabilidade, inclusive econômica. Retire as unidades familiares produtivas dos frangos e suínos e vamos ver o que sobra das grandes empresas que se alicerçam em sua produção.

Mas, a agricultura familiar continua perdendo espaço. A concentração da terra aumentou e diminuiu o espaço dos pequenos. A tendência, como dizem os cientistas, parece apontar para o desaparecimento dessas atividades agrícolas.

Porém, saber produzir comida é uma arte. Exige presença contínua, aproximidade com as culturas, cuidado de artesão. O grande negócio não tem o ?saber fazer? dessa agricultura de pequenos.

E, bom que se diga, não se constrói uma cultura de agricultura de um dia para o outro. A

Venezuela, dominada secularmente por latifúndios, não é auto suficiente em nenhum produto da cesta básica. Exporta petróleo para comprar comida.

Chávez, ao chegar ao poder, insiste em criar um campesinato. Mas está difícil, já que a tradição é fundamental para haver uma geração de agricultores produtores de alimentos.

O Brasil ainda tem ? cada vez menos ? agricultores que tem a arte de plantar e produzir comida. No Norte e Nordeste mais a tradição negra e indígena. No sul e sudeste mais a tradição européia de italianos, alemães, polacos, etc. É preciso ainda considerar a presença japonesa na produção de hortifrutigranjeiro s nos cinturões das grandes cidades.

Preservar esses agricultores é preservar o ?saber fazer? de produtos alimentares. Se um dia eles desaparecerem, o povo brasileiro na sua totalidade sofrerá com essa ausência. Para que eles se mantenham no campo são necessárias políticas que os apóiem ostensivamente, inclusive com subsídio, como faz a Europa.

Do contrário, se dependermos do agronegócio, vamos comer soja, chupar cana e beber etanol.

Mais, muito mais do que pão. Reflexão na Campanha da Fraternidade Ecumênica



LEMA DA SEMANA:

"Jesus respondeu ao tentador: está escrito: Não só de pão viverá o ser humano, mas de toda palavra que procede da boca de Deus". Mateus 4.4.

Esta palavra é uma resposta para todas as tentativas de escravizarem o ser humano. Somos diariamente atordoados por propostas mágicas para alcançar uma vida material melhor, riquezas, etc. A economia de hoje é um grande mercado. O mais importante é comprar e vender. Propagam a magia de transformar pedras em pão. As "coisas materiais" valem mais do que a vida dos seres humanos. Somos seduzidos pela proposta do tentador.
Jesus, no entanto, com amor sem fim diz não para a magia. E nessa palavra anuncia que a vida não é só pedra / pão, mas é vida / pão. Aquele pão que inclui a paz, a dignidade, a esperança, a comunhão, a diaconia a esperança e a fé.
De Deus procede a vida / pão. Posso não ter nada, nem onde morar confortavelmente, mesmo assim posso ter dignidade, esperança, horizontes abertos, sensibilidade e forças para buscar a paz e a justiça, o pão de cada dia em comunhão com Deus.

Mensagem do pastor Dr. Walter Altmann para a abertura da CAMPANHA DA FRATERNIDADE ECUMÊNICA.

Boletim Semanal do Sínodo Sudeste - IECLB

Wednesday, February 17, 2010

Lançamento da CF ecumênica

Pastor Presidente da IECLB Walter Altmann comenta o lançamento da CF ecumênica.

Friday, February 12, 2010

Campanha da Fraternidade 2010 - Ecumênica

CF

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2010 ECUMÊNICA

Tema: ECONOMIA E VIDA
Lema: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24)

Objetivos desta Campanha da Fraternidade Ecumênica
Objetivo geral: Unir Igrejas Cristãs e pessoas de boa vontade na promoção de uma economia a serviço da vida, sem exclusões, contruindo uma cultura de solidariedade e paz.

Objetivos específicos:
- denunciar a perversidade de um modelo econômico que visa em primeiro lugar o lucro, aumenta a desigualdade e gera miséria, fome, morte
- educar para a prática de uma economia de solidariedade, de cuidado com a criação e valorização da vida como bem mais precioso
- conclamar as Igrejas, as religiões e toda a sociedade para a implantação de um modelo econômico de solidariedade e justiça para todos.

Esses objetivos devem ser trabalhados em quatro níveis:
- social – eclesial – comunitário - pessoal

Por que escolhemos esse tema?
Um olhar, mesmo rápido, sobre o mundo em que vivemos nos mostra sinais preocupantes, em relação ao sistema econômico e cultural em que estamos vivendo. Alguns são fatos bem comuns do cotidiano. À nossa volta estão coisas assim: Diz o anúncio de automóvel: É carro silencioso, mas fala muito sobre você. - Bill Gates anuncia que o objetivo de seu negócio é “tornar nossos produtos obsoletos, antes que os concorrentes o façam”. - Tantas vezes se diz: Não vale a pena consertar... é melhor jogar fora. - O anúncio de cartão de crédito promete: “As melhores coisas da vida passam por aqui.”: O jornal narra o dia de uma coletora de lixo. Ela não tem o mínimo necessário, mas o filho quis e ela arranjou para ele um video game e um celular. Mas vemos à nossa volta também outra vida e outro mundo Gente sofre nas filas dos hospitais... e o dinheiro que deveria ir para a saúde tem outros destinos. Crianças estão na escola, mas não aprendem a ler... Idoso aposentado sustenta a família desempregada.

Pense no que está por trás de tudo isso, condicionando os desejos da população e/ou criando situações desumanas. As necessidades básicas são atendidas? Como o desejo do supérfluo acaba se tornando mais dominante? Há pessoas enriquecendo a cada dia e pessoas pedindo esmola. Há corrupção e aplicação de dinheiro público para favorecer os que já têm demais e falta de recursos para saúde, educação, alimentação. Há pessoas egoístas e há pessoas generosas e solidárias.

Que sistema é esse? Que política é essa?

Enquanto isso, continuamos vendo gente vivendo na rua, migrantes que deixam sua terra com tristeza, enganados por falsas promessas ou expulsos pelo avanço de uma indústria que consegue tudo o que quer, serviços públicos funcionando mal enquanto o dinheiro dos impostos acaba servindo para proteger os mais poderosos.

Multidões não têm o necessário. Mas uma minoria não consegue nem usufruir o que têm, por excesso de riqueza. E, no meio, gente de todas as classes está sendo pressionada a se avaliar pelos padrões do consumo e não por seu valor pessoal.

Criticando com ironia esse sistema que faz das pessoas meras vitrines do que o mercado exibe, que faz cada um se auto afirmar pelos objetos que usa, Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema “Eu, etiqueta”, que termina assim:

Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de não ser eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.

O poeta não queria gente se comportando como coisa, escrava do mercado. Deus também não quer. O ser humano tem um valor que precisa estar acima de tudo que é “coisa”, lucro, pressão de mercado.

O planeta, uma grande vítima da idolatria do mercado
Deus criou a vida. O planeta tem o necessário para sustentá-la e para nos maravilhar com a variedade, a sabedoria e a beleza da Criação. As montanhas, rios, florestas bonitas que Deus nos deu não podem ser sepultadas sob as conseqüências das sobras dos sistemas de produção que servem ao lucro. Nossa casa planetária precisa ser bem cuidada, é a única que temos e pertence a todos.

Uma forte motivação bíblica
A Bíblia é um livro sagrado muito ligado ao que acontece aqui neste mundo. Nela fica claro que a maneira fundamental de agradar a Deus é cuidar bem daquilo que ele criou com sabedoria e amor. É isso que Deus quer: gente feliz, em segurança e fraternidade, numa terra bem cuidada que pertence a todos. É por isso que a missão que o ser humano recebe ao ser criado é “cultivar e guardar” o jardim do Éden (Gn 2,15), símbolo da vida em harmonia, paz e justiça. Não é difícil imaginar como é impossível haver “paraíso” para todos numa sociedade de tão profundas e injustas desigualdades econômicas. É por isso também que, na descrição do final feliz da Humanidade, o Apocalipse nos mostra uma cidade em que as portas não precisam ser fechadas (Ap 21,25) e onde a “árvore da vida” dá fruto todos os meses (Ap 22,2). É a segurança que vem de uma vida sem medo, sem injustiças, com fraternidade e partilha.

Um grande fato, centro da memória do registro do Antigo Testamento, é a libertação da escravidão do Egito. Deus não quer seu povo – como não quer nenhum povo – explorado nos seus direitos e no seu trabalho. Mas não basta libertar, é preciso educar para a liberdade, a partilha, a igualdade. Os judeus até hoje dizem: “Foi preciso um dia para o povo sair do Egito e quarenta anos para o Egito sair do povo.” Ou seja: o povo precisou um tempo maior para aprender como deveria viver, para não repetir o esquema de injustiça do qual havia sido libertado. As leis de Deus são parte importante dessa “educação” para a vida livre, fraterna e solidária.

Nisso podemos destacar alguns exemplos:
- Até hoje os judeus se destacam pela estrita observância do sábado. É dia de honrar a Deus de modo especial. Mas, que interessante! Deus se sente honrado se nesse dia ninguém pensar em lucro (não se trabalha), se o escravo e o trabalhador tiverem direito ao descanso, se até os animais puderem repousar. Esse ritmo de vida ligado ao número sete tem outros desdobramentos. No sétimo ano, o escravo é libertado e não pode ser jogado na sociedade sem recursos, para virar escravo de novo: deve ser dispensado com uma indenização, meio de recomeçar a viver com liberdade. ( Dt 15,12-15). De sete em sete anos se proclama o perdão das dívidas (Dt 15,1-2). A terra também descansa no ano sabático (Ex 23,10-11). Depois de 7x7 anos, vem o ano do jubileu, em que cada um retoma a propriedade que havia vendido em momento de aperto (Lv 25, 8-13).
- Na caminhada pelo deserto, a distribuição do maná é um símbolo importante da partilha que Deus deseja para seu povo (Ex 16,4-21). O maná, como toda a obra de Deus na natureza, é dado de graça para todos. Cada um tem o direito de recolher o que precisa, mas se pegar demais, o excesso apodrece. É um retrato simbólico da podridão que acompanha, ainda hoje, o acúmulo indevido de bens, que lesa o direito de outros.
- Os profetas clamam por justiça econômica: o órfão, o estrangeiro e viúva (símbolo dos mais carentes) não podem ficar desamparados sem que isso configure uma ofensa a Deus. Eles cobram dos governantes, a honestidade e o compromisso com os direitos dos mais fracos. Isaías, por exemplo, denuncia:

Ai daqueles que promulgam leis injustas, que redigem medidas maliciosas, para tapear o fraco na justiça, roubar o direito de meu povo explorado, para fazer viúvas suas vítimas e roubar dos órfãos. (Is 10,1-2)

Deus não aceita nem culto, homenagem, sem a prática da justiça e da fraternidade que se reflete no uso dons bens materiais. O mesmo Isaías nos mostra Deus advertindo:

Quando estendeis para mim as mãos, desvio meu olhar. Ainda que multipliqueis as orações, de forma alguma atenderei. É que vossas mãos estão sujas de morte. Limpai-vos, limpai-vos, tirai da minha vista as injustiças que praticais. Parai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, buscai o que é correto, defendei o direito do oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva. Depois podemos discutir, diz o Senhor. (Is 1, 15-18)

Em outras palavras: sem a justiça da economia que não desampara os pequenos, Deus não quer conversa conosco. Muitos outros textos proféticos teriam indicações semelhantes, muitas leis do Pentateuco visam proteger trabalhadores e pobres, para que um filho ou filha de Deus não seja sacrificado no altar idolátrico da economia.

Jesus age também colocando o ser humano acima da pressão econômica
Ele adverte: Não ajunteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, juntai para vós tesouros no céu... (Mt 6,19)

Reconhecendo que nossas escolhas no uso do dinheiro revelam quem somos de fato, ele observa: Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. (Mt 6,21) E se, em vez dos tesouros do céu, nosso coração estiver com os tesouros da terra, não sobra lugar para o Deus verdadeiro e instala-se a idolatria de servir a outro tipo de “deus”. Então Jesus faz a advertência que serve de lema para a nossa Campanha:

Ninguém pode servir a dois senhores: ou vai odiar o primeiro e amar o outro ou vai aderir ao primeiro e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro! (Mt 6,24)

E Jesus não ficou só no discurso. Toda a sua vida foi um testemunho de simplicidade no uso dos bens materiais, de solidariedade com os pobres, de distribuição gratuita dos dons de Deus, sem nenhuma ambição de bens ou glórias mundanas.

Um texto básico, escolhido para iluminar nossa Campanha
A equipe que trabalhou na Campanha pensou em destacar uma passagem bíblica para ancorar a reflexão a ser feita. O grupo escolheu o encontro de Jesus com Zaqueu (Lc 19,1-10):

Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessou a cidade. Apareceu um homem chamado Zaqueu, chefe dos coletores de impostos, muito rico. “Zaqueu todo alegre acolheu Jesus em sua casa. Vendo isso, todos murmuravam; diziam: “É na casa de um pecador que ele foi se hospedar”. Mas Zaqueu, adiantando-se, disse ao Senhor: “Pois bem, Senhor, eu reparto aos pobres a metade dos meus bens e, se prejudiquei alguém, restituo-lhe o quádruplo”. Então Jesus disse a seu respeito: Hoje veio a salvação a esta casa.


Fonte: CONIC