Esta semana vi, entristecido, que mais um animal foi
declarado extinto. Este foi declarado extinto funcional, pois, apesar de ainda
existirem exemplares, estes já não têm mais condições de recuperar o número a
ponto de não se extinguir completamente. O coala, este animalzinho da foto, vem se juntar a uma extensa
lista publicada pela ONU neste mês.
O coala, animal parecido com um pequeno urso de pelúcia, que
se alimenta de folhas de eucalipto, vive, ainda, na Austrália. Chegou a este
ponto a partir das políticas de flexibilização das normas ambientais e normas
trabalhistas executadas na Austrália nos anos de 1980. Muitas destas questões
das flexibilizações, principalmente trabalhistas, foram levantadas pelo grupo
de rock Midnight Oil em seus discos carregados de crítica política e social,
como “Diesel and Dust” – 1987, “Blue Sky Mining” – 1990, “Place without a
Postcard” – 1981, “Scream in Blue” – 1992. Sobre a extinção de espécies
australianas, em especial o álbum “Secies Decieses” de 1985. Além de serem
músicas excelentes para ouvir, trazem uma crítica muito forte, como deve ser um
bom rock.
Levanto isso quando é nos apresentado múltiplas propostas de
flexibilização de direitos e normas, em favor de empresas e aglomerados
econômicos, com a garantia de que tudo vai gerar ganhos e empregos. O exemplo
do coala nos aponta resultado diferente do anunciado. As flexibilizações na
Austrália garantiam ganho econômico, principalmente para as mineradoras, que
tomaram conta da região do Autback derrubando florestas e criando imensas minas
a céu aberto (blue sky mining), imensos buracos que são como feridas, junto de
imensas montanhas de rejeito. Reservas indígenas dos aborígenes australianos
foram desfeitas, para dar lugar às minas, e a flexibilização dos direitos
trabalhistas trouxe perdas de salário com aumento de horas de trabalho – a música
Beds are Burning nos conta.
As propostas de flexibilização sendo colocadas no Brasil
seguem este mesmo caminho nefasto. Flexibilização das leis ambientais para se construir
megalojas, para facilitar a mineração, para explorar minerais em meio a
reservas indígenas e florestais, bem como para prática do “esporte” da caça e
da pesca em áreas protegidas. Flexibilização dos direitos trabalhistas para que
empresas tenham mais lucro e se crie um exército de desempregados e escravos.
Flexibilização e desmonte da aposentadoria, para que os bancos lucrem ainda
mais. Flexibilização da saúde, encaminhando para a privatização. Flexibilização
e desmonte da educação, para beneficiar instituições privadas e formar
trabalhadores.
Assim como na Austrália, as propostas parecem ser excelentes
para os apoiadores incondicionais do governo, mas carregam dentro de si a
semente da extinção. Extinção da natureza, extinção da educação, principalmente
para os mais pobres, extinção de todos os direitos trabalhistas, extinção das
aposentadorias.
Flexibilização, hoje, se torna sinônimo de extinção.
Extinção de toda a vida como conhecemos, e do viver como direito para todos,
afinal, “pobre não tem direito”, como disse Gilberto Gil em sua crítica, “pobres são como podres”.
Para quem quer ver e ouvir as músicas e clipes do Midnight Oil: https://www.youtube.com/watch?v=V3nOnJMs7xc