Monday, August 31, 2009

O (não) escolhido!

O (não) escolhido!

Conta-se uma história, que não é do tempo dos zagais, mas é, com certeza, do tempo dos pastores regionais. Havia uma paróquia, há já certo tempo, com seu campo de trabalho vago. Sendo paróquia da IECLB, seguiu os trâmites legais; publicou a vaga no quadro de vagas, comunicou o Pastor Regional, estabeleceu um limite para o envio de currículos e ficou esperando candidatos. Como era uma paróquia bem conceituada e que oferecia muitos benefícios aos seus obreiros, houve muitos candidatos que enviaram seus currículos. Pastores de todos os tipos físicos: magros, gordos, altos, baixos, loiros, morenos; de todas as etnias e raças: alemães, italianos, suíços e até um negro se arriscou – uma raridade na IECLB; Com todos os conhecimentos e formações: que falavam alemão, inglês, italiano, com conhecimentos de mecanografia (informática ainda não existia), com bom domínio de público, com experiência de trabalho com casais, JE, OASE, que fazia programa de TV, rádio, montava boletim com normógrafo e decalco (sem Office, já pensou!); de todas as idades: jovens, meia idade e próximos da aposentadoria.

Muitos foram convidados a se apresentar, cada um, como “laranja de amostra”, fez uma pregação e passou por uma sabatina, onde foi “apertado” por todos. No entanto, ninguém foi escolhido. Todos apresentavam um defeito, ou mais de um defeito. Se era jovem, não tinha experiência, se era velho, próximo da morte. Se sabia trabalhar com os idosos, não sabia trabalhar com a JE. Se trabalhava bem com os homens da LELUT, ia ter problemas com a OASE.

Cada um foi rejeitado depois de ser examinado por um motivo diverso. Alguém disse: Ah! Bom seria se pudéssemos pegar o que cada um sabe de melhor, misturar t
udo e fazer disto um único pastor. Um SUPERPASTOR! O pastor ideal!

Depois de prorrogar o envio de currículos por mais 3 meses não houveram mais inscrições e o conselho paroquial foi buscar socorro junto ao Pastor Regional. Este então disse que mandaria um último currículo a ser estudado e apreciado pela comunidade, mas
ele não faria apresentação, nem estaria disponível para fazer pregação ou ser sabatinado.

A paróquia se resignou e teve de aceitar a proposta.

O currículo era assim:

• Experiência: Nunca trabalhou em uma comunidade, mas passou por muitas, tendo sempre entrado em atrito com os dirigentes políticos locais. Muitas vezes esta divergência chegou ao ponto da violência física.
• Condições de saúde: dificuldades fortes de visão, precisando de auxiliares para escrever seus materiais e estado de saúde que carece cuidados.
• Personalidade e posicionamentos: Extremamente duro e intransigente em seus posicionamentos, somente mudando de posição quando é fisicamente atingido pelas suas próprias posições. Extremamente radical em seus posicionamentos teológicos e sem espaço para negociação.
• Pregação: Costuma fazer longas explanções e conta-se de pregações que passaram das três horas de duração, ao ponto de um dos ouvintes ter pegado no sono e caído da janela onde estava sentado sobre o peitoril, tendo um fratura craniana.
• Informações pessoais: Solteirão convicto que desaconselha o casamento.
• Formação: Formação fora do cristianismo em regime de acompanhamento pessoal e individualizado.

• Backgroud familiar: nascido em família de elite.

• Este currículo é apresentado a partir da secretaria regional, sem nome ou
procedência do candidato, para que não se formem preconceitos.
• Este será o último currículo que será enviado a esta paróquia.


A paróquia estava com o currículo na mão e, desesperados pelas qualificações do candidato, se lastimavam, pois frente a tal currículo, principalmente de alguém que não iria se apresentar, haviam rejeitado tantos candidatos com bem melhores qualificações. Chamaram o Pastor Regional para uma reunião e colocaram seu desespero e que não tinha como aceitar um candidato com as qualificações que estavam sendo apresentadas. Assim seria melhor que eles buscassem um dos candidatos anteriores, pois este último apresentado pelo Pastor Regional era inaceitável e não teria a mínima condição de atuar em paróquia alguma.

O Pastor Regional, muito calmamente mandou que eles pegassem as suas bíblias. Depois que todos estavam de posse delas, foi passando texto por texto para lhes mostrar uma coisa importante. O CANDIDATO QUE ELES ESTAVAM REGEITANDO ERA O APÓSTOLO PAULO!!!!!
O currículo montado pelo Pastor Regional era do Apóstolo Paulo, o maior pregador e pai da Igreja. Quantas vezes nossas paróquias perdem boas oportunidades de ter bons obreiros por ficarem somente procurando os defeitos e pensando nas dificuldades que um obreiro possa ter. Estão tão preocupados com a sabatina à “laranja de amostra”, apertando o candidato para pegá-lo em falhas, que esquecem de imaginar as possibilidades diferentes que um ou outro candidato apresenta.

Não existe um superpastor. Pegar o melhor de cada um e fazer um novo pode produzir um Fanquenstein, um monstro, que não consegue se comunicar. Da mesma forma, às vezes que sabe de tudo, acaba não sabendo nada de nada. “Eu sei que nada sei, e isto é tudo que eu sei”, disse Socrates, mas isso se enquadra às paróquias? Afinal, que se quer de um pastor?

1 comment:

  1. E isso não acontece só em paróquias... São situações que se preesenciam em vários segmentos da sociedade.
    Sempre reflexivos os teus textos e repletos de verdades.
    Um abraço fraterno.

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