Saturday, November 27, 2010

Reflexões e orações sobre a situação da cidade do Rio de Janeiro


Venho motivá-las e motivá-los a incluírem na celebração do Primeiro Domingo de Advento reflexões e orações que tenham como referência a situação de violência instalada nos últimos dias na cidade do Rio de Janeiro. As comunidades cristãs e outros grupos religiosos da cidade e do Estado do Rio de Janeiro, com medo e angustiados, clamam a Deus por socorro, proteção e salvação.

Além do conteúdo de fé do tempo de Advento, revelador da necessidade de recomeço e de preparação para a celebração da dádiva da presença de Deus entre nós, ainda sugiro o versículo bíblico, lema da semana: “Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação”. (Sl 85.7).

As comunidades do Sínodo Sudeste são chamadas para unirem-se ao povo de Deus que clamam misericórdia e salvação. Pela fé e em comunhão acreditamos que o mundo é sustentado pelo amor e pela misericórdia de Deus. Cremos no Deus doador da vida, o Cristo da cruz, que salva a vida na realidade de morte, que revela misericórdia e salvação de dentro da morte.

Ao orarmos pela misericórdia e pela salvação, denunciamos os valores e poderes da morte. Anunciamos a esperança de que chegará o dia em que a guerra urbana não será o caminho para a PAZ.

Em comunhão, fé e esperança

Guilherme Lieven, Pastor Sinodal

Sínodo Sudeste - IECLB

Guerra contra o tráfico. Violência contra as mulheres



Estimadas irmãs, estimados irmãos:

Estamos profundamente impactados pelas imagens da violência no Rio de Janeiro, violência que tem sua causa maior no tráfico de drogas, alimentado pelo consumo de drogas. Essa situação só pode ser superada através de uma política conjugada de repressão ao tráfico, prevenção do consumo e recuperação de pessoas dependentes. Tampouco podemos deixar a questão simplesmente para as autoridades e instâncias governamentais. Também a família, as comunidades e a igreja têm um papel importante na educação de crianças e jovens, construindo relações de paz e fraternidade, criando espaços seguros e iniciativas de acompanhamento a jovens.

Há também outras formas de violência que devem nos preocupar como uma igreja que se empenha pela paz de Deus em todas as relações humanas. Uma delas é a violência contra a mulher, triste realidade que muitas vezes é ocultada, mas ocorre no seio de muitas famílias. Hoje também tem início a Campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher (25 de novembro a 10 de dezembro). Realizada internacionalmente desde 1991 em aproximadamente 130 países, a campanha busca evidenciar que a violência contra as mulheres é uma gravíssima violação aos direitos humanos. Por essa razão, o dia 25 de novembro - Dia Internacional da Não-Violência contra as Mulheres - marca seu início e o 10 de dezembro - Dia Internacional dos Direitos Humanos – seu encerramento. O dia 25 de novembro é reconhecido pela ONU como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher.

Integram ainda a Campanha dos 16 Dias de Ativismo o dia 1.º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids, e o dia 6 de dezembro, data do Massacre de Mulheres de Montreal, que fundamenta a Campanha Mundial do Laço Branco – Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres. A campanha brasileira foi ampliada de maneira a incluir o dia 20 de novembro, data em que celebramos o Dia Nacional da Consciência Negra.

Violência é uma das marcas mais visíveis de uma sociedade doente e injusta, que discrimina e exclui pessoas. Violência está presente no nosso dia a dia e todas as pessoas sofrem com esta situação. No entanto, a situação das mulheres é agravada pelas diferentes formas de violência a que estão submetidas, como a física, psicológica, sexual e até mesmo religiosa.

Estatísticas disponíveis revelam que grande parte da violência acontece dentro de casa, sendo agressor o próprio marido ou companheiro. Violência deixa lesões corporais graves, decorrentes de socos, tapas, chutes, amarramentos, queimaduras, espancamentos e até estrangulamentos. Dados de 2006 revelam que a cada 4 minutos uma mulher sofre violência e, em média, ela a denuncia só depois da décima agressão.

Um passo significativo no enfrentamento à violência contra a mulher foi a promulgação da Lei Maria da Penha (Lei nº. 11340, de 07/08/2006), que coíbe a violência doméstica e familiar contra a mulher. A lei é um forte incentivo para que as mulheres rompam o silêncio, que é o maior aliado da violência e da impunidade. Mas é preciso ir ainda mais fundo. É preciso desconstruir e acabar com o machismo e o patriarcalismo, segundo os quais o ser humano masculino é superior e deve ter poder sobre o feminino. Deus criou os seres humanos à sua imagem e semelhança – homem e mulher ele os criou. Colocar um/a à frente do/a outro/a é afrontar o próprio propósito da criação divina.

Tudo isso é um contraste muito grande com o espírito de Advento, período em que recordamos e celebramos um Deus de paz que vem a nós. Diante da situação pecaminosa descrita que insulta a Deus, conclamamos a que nossa intercessão comum em toda a IECLB, nos cultos deste fim de semana e/ou do próximo, seja:

Intercedemos pelo fim da violência em nosso país.
Lembramo-nos
em particular da violência contra as mulheres.

Intercedemos pelas organizações, movimentos e campanhas
que clamam por vida digna

e se opõem a todos os tipos de violência.

Faz-se necessário que a comunidade seja informada sobre os motivos que levam ao pedido desta oração de intercessão comum e que ela estará sendo orada em toda a IECLB, num gesto de unidade.

Na paz de Cristo,

Walter Altmann

Pastor Presidente

Monday, November 15, 2010

Calem a boca, nordestinos!



Por José Barbosa Junior
 
A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.
Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o Serra… outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro.

Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: "Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!".

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros "brasileiros" também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos "amigos" Houaiss e Aurélio) do nosso país.
E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?
Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano. Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo "carioca" Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…
Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…

E não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melodias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…
Ah! Nordestinos…
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?

(...)

Minha mensagem então é essa: – Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: "O sertanejo é, antes de tudo, um forte!"

Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!

Wednesday, November 03, 2010

Negras e negros na Bíblia? - Por Edmilson Schinelo



Negras e negros na Bíblia?

Segunda-feira, 1 de novembro de 2010 - 11h39min

por CEBI

Edmilson Schinelo

Os evangelhos sinóticos são unânimes em afirmar que um certo Simão de Cirene ajudou Jesus a carregar a cruz, a caminho do Calvário (Mt 27.32; Mc 15.21; Lc 23, 26). Ora, Cirene fica no norte da África, mas alguma vez você ouviu em prédica ou sermão, na catequese, na escola dominical ou no ensino confirmatório, que um africano ajudou Jesus a carregar a cruz? Estudiosos dirão que se trata de um judeu da diáspora, visto que no norte da África havia várias colônias judaicas. Mas com que argumentos ou intenções fazem esta escolha na interpretação?

Por contrariar os interesses da corte de Jerusalém, pouco antes da destruição da cidade pelas tropas babilônicas, o profeta Jeremias foi preso e lançado numa cisterna. Um africano, funcionário do rei (seu nome, Ebed-Melec, significa "ministro do rei"), liderou um movimento para libertar Jeremias (Jr 38,1-13). Quantas vezes você se lembra de ter estudado este texto, dando atenção a este "detalhe"?

Moisés, conta-nos Nm 12, casou-se com uma africana, da região de Cush - Etiópia. Na verdade, quase toda a historia do êxodo se passa na África. Uma simples leitura do Canto de Miriã (Ex 15,19-21), com certeza um dos textos mais antigos de toda a Bíblia, nos permite notar a proximidade da cena com a rica cultura dos povos negros: canto e dança ao redor dos tambores. Você já parou para pensar nisso?

O missionário Filipe, ao "aceitar a carona" na carruagem do negro e alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, tem uma grata surpresa: o africano já tem em suas mãos o livro do profeta Isaías (At 8, 26-40). E há quem continue afirmando que os foram os europeus que levaram a Bíblia para a África!

Pois bem, os exemplos acima são suficientes para nos provocar ao desafio: olhar a Bíblia na perspectiva da negritude!

Em primeiro lugar, porque seguimos acreditando que o Deus da Bíblia faz opção pelas pessoas e pelos grupos mais marginalizados. Em nossa sociedade, as mulheres, as pessoas negras e indígenas continuam sendo as maiores vítimas da gritante exclusão social. Com elas aprendemos a resistir. Em segundo lugar, porque queremos e podemos descobrir as raízes negras do povo hebreu e de toda a Bíblia. De fato, antes de ser européia, a Bíblia é afro-asiática. Não negamos a contribuição européia ao nosso continente, queremos seguir trocando saberes com o chamado "Velho Continente". Mas denunciamos o cristianismo branco e opressor, com teologias que chegaram ao absurdo de justificar a escravidão negra (feita pelos brancos) e que continuam, muitas vezes, negando nossas raízes.

Não queremos fazer isso apenas pinçando textos bíblicos nos quais apareçam personagens africanas. Este até pode ser o primeiro passo, um exercício necessário e interessante. Mas é preciso mais do que isso, é preciso olharmos toda a Bíblia na perspectiva da negritude. Porque essa é nossa experiência, ainda que negada: vivemos num país onde metade da população é afro-descendente. "Coincidentemente", é a metade mais pobre.

Que aceitemos o desafio de mergulharmos na Bíblia e na vida com nosso olhar afro-descendente. Afinal, por muitos séculos, fizemos isso apenas com o olhar europeu. Erramos e acertamos, agora vemos que é preciso mais. Ou manteremos a opção, muito mais cômoda e bem menos questionadora para nossa sociedade preconceituosa e racista, de continuar enxergando apenas um Jesus loiro, de olhos azuis e cabelos cacheados?

Extraído de Bíblia e Negritude - Pistas para uma leitura afro-descendente.

Christians and Muslims call for mutual commitment to justice


For immediate release: 03 November 2010

Two panel discussions in Geneva, Switzerland highlighted the second morning of the “Transforming Communities” international consultation on Muslim-Christian relations. Panellists focused the attention of approximately 60 delegates on the topics “Beyond Minority and Majority” and “From Conflict to Compassionate Justice.”

The day’s first speech was offered by Lebanese minister of information Dr Tarek Mitri. He expressed his view that discussion of religious “minorities and majorities” has become “a sterile duality” in political discourse.

It is more important, Mitri said, to recognize that all are citizens with a shared responsibility for national life and a mutual obligation in securing justice for all. This corresponds to the call, made by the WCC general secretary during the opening consultation's session, for a proper use of the word "we" in our societies.

Professor Mahmoud Ayoub of the Hartford Seminary Foundation in the USA, a member of the world Islamic council of the World Islamic Call Society, called for followers of different faiths to “deal with our conflicts through compassionate justice.” In the case of Muslim communities in the West, he described the “dilemma” of raising children in such a way as to maintain their traditional religious and cultural identity while also encouraging them “to live meaningfully” in their new homeland.

The panel examining the journey “From Conflict to Compassionate Justice” featured three speakers: Dr Aref Ali Nayed, director of the Kalam Research and Media Centre in Dubai; the Rev. Kjell Magne Bondevik, former prime minister of Norway, president of the Oslo Centre for Peace and Human Rights and moderator of the WCC commission on international affairs; and Dr Farid Esack, a professor in the study of Islam at the University of Johannesburg in South Africa.

Nayed recommended dialogue as a means of helping “to keep each other honest” in the quest for justice and peace. Through dialogue, he added, it is possible to “grow ecologies of peace and forgiveness.” Bondevik agreed: “I would argue that dialogue is not only a meaningful tool; it is perhaps the only tool to build better relations. It is a tool for the building of shared societies.” Esack, acknowledging that “ultimate answers do not belong to humankind,” suggested that one moves in the right direction if one admits one’s own culpability in systems of injustice and recognizes oneself in others who suffer from that injustice: “The idea of justice without compassion is somehow a betrayal of justice.”

Tuesday morning’s panel discussions were moderated by Dr Mohammed al-Sammak, general secretary of Lebanon’s National Committee for Dialogue and of the Islamic Summit, and by the Rev. Dr Bernice Powell-Jackson, the World Council of Churches president for North America and a minister of the United Church of Christ in the USA.

Metropolitan Emmanuel of France, president of the Conference of European Churches (CEC) delivered greetings on behalf of CEC and of the Ecumenical Patriarchate of Constantinople to the participants. He stated that the conference contributed to the constitution of a set of values that could strengthen the exercise of religious freedom and human rights.

Tuesday, November 02, 2010

Peleja

Mário Pirata é um poeta Gaúcho, que, como bom poeta, brica com as palavras. Vale a pena ler suas poesias!


Peleja

por Mario Pirata, segunda, 1 de novembro de 2010 às 22:09

Nossa bombas são de chimarrão.

Nossos tanques, para lavar roupa.

Nossas correntes movem rios, lagoas e lagos.

Nosso armamento é feito de pensamentos.

Nossas lanças, de Santa Bárbara e de São Jorge.

Nós somos ecologistas, navegamos campos e mares.

Nossa balas são de guaco e agrião.

Nossos ideais, as mãos da natureza.

Nossos sentinelas, os Quero-queros do pampa.

Nosso munição tem o calibre dos sentimentos.

Nossa política é a poesia dos abraços.

Nós somos ecologistas, caminhamos com os ventos.

Nosso comandante tem a voz do coração.

Nosso uniforme é verde como a floresta,

prateado como o luar, dourado como o sol.

Nossas palavras de ordem são sementes,

brotam limpas e claras em nossas mentes.

Nós somos ecologistas, nos movemos com o tempo.

Nossos territórios não possuem cercas,

seguimos fortes com a guarnição

da paz das estrelas no firmamento.

Nosso compromisso é com o plantio

do amor entre todos os povos.

Nós somos ecologistas, estamos vivos, e prontos.

http://mariopirata.blogspot.com/