Günter Wolf
Ameaça para quem? Ameaça para a igreja e para a sociedade capitalista.
Qual o papel dos/as pastores/as? É pregar pura e retamente o Evangelho do Reino de Deus, anunciado e vivido por Jesus Cristo, como uma nova proposta de organizar a vida e toda a sociedade em oposição à atual forma capitalista de organização social, que já começa aqui e agora e se completa na segunda vinda de Cristo com a ressurreição do corpo na vida eterna. Se o Evangelho do Reino de Deus é uma nova proposta para organizar a vida e toda a sociedade então qual é a velha proposta ao qual o Evangelho do Reino de Deus se opõe? Hoje a velha proposta é o capitalismo. Então, a essência do Evangelho do Reino de Deus é fazer oposição ao capitalismo e acabar com ele? É. Por isso os/as pastores/as são uma ameaça que precisa ser afastada ou no mínimo amenizada, de preferência cooptada, para que não preguem o Evangelho do Reino de Deus que pressupõe a eliminação do capitalismo e pressupõe a construção de uma nova sociedade igualitária, não classista e não capitalista.
E a salvação, como é que fica? É salvo quem participa deste processo, a partir da fé em Jesus Cristo, de construção do Reino de Deus. A salvação nos é dada de graça pela fé e por isso nós participamos, como conseqüência inerente à salvação, do processo de construção do Reino de Deus que aponta para a esperança da construção de uma nova sociedade não capitalista e igualitária, já aqui agora, pois a salvação já começou. E as pessoas que se dizem salvas, mas defendem o capitalismo como a única forma de organizar a vida e a sociedade? Estas pessoas ainda não entenderam o Evangelho do Reino de Deus e continuam separando a fé da vida. Tiago 2.17 fala disso: "Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta". A participação, a partir da fé em Jesus Cristo pela qual fui salvo de graça, no processo de construção do Reino de Deus são as obras das quais Tiago fala. Lutero lembra: “é impossível separar da fé as obras; é tão impossível como separar do fogo a chama e a luz”. Então esse papo: 'Eu tenho Jesus no coração' e fica nisso, é papo furado? É. Não tem nada a ver com a salvação dada de graça pela fé em Jesus Cristo, pois esta leva automaticamente a participar da construção do Reino de Deus, que significa: lutar contra o capitalismo, que é obra do diabo. Cristão que defende o capitalismo como única forma de organizar a vida e a sociedade não entendeu nada do Evangelho de Jesus Cristo, pois Jesus diz claramente em Lc 4.43 que a sua missão é anunciar o Evangelho do Reino de Deus e não dar sustentação ao reino deste mundo (Jo 16.33), hoje o capitalismo. Se a Igreja não deixa isto claro é culpa dela, pois foi cooptada pelo diabo que usa o capitalismo para tentar impedir a construção do Reino de Deus.
A pregação e a prática de Jesus Cristo dentro da Proposta do Evangelho do Reino de Deus foi uma ameaça ao Templo de Jerusalém e ao Estado Romano, por isso ele foi preso, torturado, julgado culpado de heresia e de subversão (Lc 23.1-5) e crucificado, mas ele ressuscitou com o corpo na Páscoa. Jesus Cristo propõe o Projeto do Reino de Deus em oposição ao projeto do reino do mundo, hoje o capitalismo. Jesus Cristo quer com o Projeto do Reino de Deus acabar com o projeto do mundo, como diz em 1 Co 15.24-26: "E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte". Diante desta subversão o capitalismo precisa se proteger. O capitalismo tem duas formas de se proteger contra o Evangelho do Reino de Deus: acabar com a Igreja (que não é possível, a história já mostrou isto, porque ela é fruto da ação do Espírito Santo) ou então cooptar a igreja (que é possível e isto a história também já mostrou). Estamos, pois hoje, vivendo na segunda opção: vivemos num processo de cooptação e de intimidação.
A proposta de Jesus Cristo, que é o Evangelho do Reino de Deus, deu origem à Igreja, portanto uma ameaça subversiva, já ao Império Romano que a perseguiu (Ap 6.9-11), e hoje se a Igreja for fiel à proposta do Evangelho do Reino de Deus ela vai ser uma ameaça ao mundo, ao capitalismo. Como resolver este problema de tornar a igreja, que é subversiva pela sua essência, aliada do mundo e não uma ameaça à ele?
Salomão, em sua sabedoria opressora, conseguiu isto com a construção do Templo de Jerusalém (1 Rs 5) legitimando o Estado e sua dinâmica espoliativa via tributo e mudando a teologia sobre Javé, de lutar pela terra e contra o Estado, para legitimar o Estado e abençoar o acúmulo da riqueza e a sociedade de classes. A classe economicamente dominante no decorrer da história aprendeu do rei Salomão e fez a mesma coisa: transformou a igreja de subversiva e revolucionária em sua essência para conformada com este século (Rm 12.2). Esta dinâmica a classe dominante quer manter a toda força. Para manter esta dinâmica de conformidade com este século é necessário convencer os/as pastores/as de pregar, não o Evangelho do Reino de Deus, mas transformar o Evangelho de Jesus Cristo em Religião para legitimar o status quo. A função da Religião sempre foi a de dar suporte à sociedade de classes, pois os templos e os sacerdotes sempre foram mantidos pelo Estado, e a função do Evangelho sempre foi a de subverter esta ordem estabelecida pela classe economicamente dominante que usa o Estado para se legitimar. Por isso Jesus Cristo foi crucificado.
Como fazer isto?
1° ensinar que a teologia é neutra e a igreja é neutra.
2° ensinar que vivemos numa sociedade harmoniosa e que a luta de classes não existe na sociedade e nem na igreja.
3° ensinar que o pecado é apenas individual e que não existe pecado coletivo e por isso a salvação é apenas individual sem conseqüências de um engajamento num processo coletivo de transformação da sociedade em direção ao Reino de Deus.
4° ensinar que há uma separação entre fé e vida.
5° ensinar que a ressurreição é a da alma e não a do corpo.
6° ensinar que a igreja não se mete em política e nem com o movimento popular e sindical, pois ela está acima dos problemas da sociedade por ser divina.
7° ensinar que quem crê em Deus ficará rico, pois ele só está com os ricos; pobre é pobre porque está longe de Deus, portanto ele é culpado de sua própria pobreza.
8° e outras "coisistas mas" neste estilo.
Se a questão da formação teológica não funcionar?
Então sempre existe a repressão do Estado e da própria igreja. Às vezes a repressão é dupla e às vezes apenas acontece via igreja. No processo da reestruturação da igreja efetivada em 1997 se compilou o EMO e no qual estão embutidos o TAM e a Avaliação, como mecanismos repressivos para acuar, acossar e meter medo na pastorada no caso de insistirem na pregação pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo que tem como mensagem central o Reino de Deus o qual se opõe ao capitalismo, por este ser o instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus.
Se o convencimento via teologia não funcionar então vai funcionar a coerção, via legislação eclesial. Não falou o que a direita permite o seu TAM será cancelado e não renovado, sem precisar de muita justificativa e explicação. O objetivo disto é impedir que a Igreja de Jesus Cristo não seja de Jesus Cristo, mas do deus capital. Impedir que a igreja seja subversiva, que é a sua essência. Impedir que a igreja ameace o modo de produção vigente, hoje o capitalismo. Garantir que o capital possa se reproduzir sem percalços e com a áurea de divino. Garantir a divinização do capital e seus métodos de reprodução.
Pastores/as que se negam a legitimar a dinâmica do capital terão como castigo, como coerção, sobre si as leis repressivas. Quem, dentre os/as pastores/as, não ameaça o capital não terá este problema. Mas mesmo que um pastor/a não ameace o capital também estará sujeito a estas leis repressivas e pode ser desligado do trabalho da paróquia por outros motivos quaisquer. Todos estão sob estas leis repressivas, ninguém escapa.
Como vencer esta dinâmica repressiva?
1° Criar uma unidade entre os/as pastores/as e ter clareza de nossas contradições internas que podem ser teológicas ou de outra ordem. Todos estão sob as leis repressivas então devemos deixar de lado nossas contradições internas dentro da igreja para podermos enfrentar estas leis e desativá-las.
2° É necessário criar uma articulação nacional e internacional.
Primeiro: para denunciar que estas leis são para impedir que a Igreja de Jesus Cristo seja de Jesus Cristo, mas seja do deus capital. Dirão que as leis repressivas da igreja não foram pensadas assim, etc. e tal, mas o seu efeito é exatamente este, pois por causa do medo do desemprego a pastorada normalmente só vai pregar o que a classe capitalista e seus aliados permitirem e desta forma estarão traindo o Evangelho de Jesus Cristo que propõe o Reino de Deus como nova forma de organizar a vida e a sociedade. TAM e Avaliação não têm apenas efeito eclesial, mas acabam servindo para legitimar o capitalismo que é inimigo do Projeto do Reino de Deus proposto por Jesus Cristo como uma nova forma de nós organizarmos a nossa vida e a nossa sociedade.
Segundo: seguir os mecanismos legais para anular estas leis (apresentar moção no Concílio da Igreja) com apoio massivo a nível nacional e de articulação internacional de igrejas luteranas de outros países denunciando que estas leis impedem e dificultam a pregação pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo. Esta articulação a APPPI pode fazer, pois é nosso instrumento organizacional. Conquistar apoiadores dentro da IECLB e fora dela. Ver quem apóia esta luta e quem não a apóia e exercer pressão. A APPI precisa reorganizar as seccionais para esta luta contra as leis repressivas e para a luta da reposição da defasagem da Subsistência Ministerial. A tarefa de organizar as seccionais da APPI é de cada pastor/a, pois ela continua sendo a nossa frágil organização construída ao longo dos anos. Os assuntos da APPI devem ser colocados na agenda de cada CO, pois são assuntos que dizem respeito a todos/as os/as pastores/as. Leve os assuntos da APPI para a próxima CO do setor, da UP ou da CO sinodal. Entre em contato com a presidência da APPI para relatar as discussões, colocar as demandas e pedir informações. Escreva para crisegerson@hotmail.com que é o email do presidente da APPI ou para o presidente do Conselho Deliberativo da APPI: valdirgromann@hotmail.com
3° Ter um Projeto Estratégico para a igreja para que seja missionária e fiel ao Evangelho do Reino de Deus que sempre aponta para a esperança da construção de uma nova sociedade igualitária e não classista que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. Missionária no sentido de não apenas ajuntar mais gente na igreja, mas ajuntar gente para participar da construção do Reino de Deus que se opõe ao capitalismo a partir da fé em Jesus Cristo que nos concede a salvação de graça o que nos leva a nos engajar na eliminação de tudo aquilo que impede a construção do Reino de Deus.
O ser humano só existe a partir e no coletivo. Ninguém existe sozinho. Por isso, e não só por isso, somos igreja, um coletivo, que se propõe a participar a partir do batismo da construção do Reino de Deus. A construção do Reino de Deus é um processo coletivo que é a tarefa da Igreja de Jesus Cristo, que é um coletivo. Por isso esse papo de salvação individual, sem compromisso de participar do processo coletivo eclesial e social na construção do Reino de Deus, é baboseira e é negação de seu batismo. Temos que acentuar que a salvação também é um processo coletivo (Mt 1.21; Zc 8.7; Dn 12.1; Sl 18.27; Sl 28.9; 2 Sm 22.28). Salvação individual fora de um processo de luta coletiva no processo construtivo do Reino de Deus é ilusão e demagogia que interessa ao capital, cuja ideologia acentua o sucesso individual como saída para todos. Somos salvos por graça e fé em nosso Senhor Jesus Cristo e por isso podemos sem medo nos jogar no processo de luta pelo Reino de Deus que vai destruir o projeto do mundo, hoje o capitalismo. Participamos do processo de construção do Reino de Deus porque fomos batizados e com isso marcados pela cruz de Cristo que perpassa o processo de construção do Reino de Deus, feito por Deus e nós somos seus convidados especiais para participar deste processo. Assim o/a batizado/a não pode se excluir deste processo porque faz parte do ser batizado. Se isentar deste processo é negar o seu batismo que é o mesmo que negar a fé em Jesus Cristo. O pior é que o grosso da pregação das igrejas cristãs passa por esse processo teológico de negar o batismo, pois pregam apenas a salvação individual sem compromisso de participação da luta na construção do Reino de Deus que se opõe ao capitalismo, que é o mesmo que negar e invalidar a salvação já recebida de graça pela fé.
Cristão isolado não existe. Cristão só existe dentro de um coletivo que nós chamamos de Igreja - assembléia do povo de Deus - com a proposta de não conformação com este século e se manter incontaminado do mundo. O Projeto de Igreja é a comunidade que se propõe a mudar o mundo no Reino de Deus. A Igreja é na sua essência revolucionária e insurgente porque quer mudar o mundo, hoje o capitalismo, no Reino de Deus. Isto significa que acabar com o capitalismo acontece num processo coletivo de luta econômica, política, cultural, ideológica e teológica conjugada entre Igreja e movimento popular (que inclui a luta das mulheres, dos povos originários e dos negros), sindical e político. A pessoa sozinha não muda o mundo, por isso existe a Igreja, que é um coletivo, que é convidada por Deus para participar do processo da construção do Reino de Deus. Igreja e capitalismo são opostos, pois tem projetos opostos porque a igreja é de Deus e o capitalismo é do diabo.
Assim o TAM e a Avaliação são leis repressivas eclesiais que estão servindo aos interesses do capital para que ele não seja ameaçado pela pregação do Evangelho do Reino de Deus que se opõe ao capital e à sua reprodução. A luta contra as leis repressivas da igreja é uma luta teológica de fidelidade à Jesus Cristo porque estas leis acabaram por acuar e acossar os/as pastores/as e eles não tem mais coragem de falar o que tem que falar porque estas leis lhes tiraram a liberdade da pregação pura e reta do Evangelho do Reino de Deus. São leis que escravizam a Palavra de Deus e a subordinam aos interesses do capital. Paulo diz em Gl 5.1: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão". Quem insistir na manutenção destas leis está fazendo um trabalho contra o Evangelho de Jesus Cristo por causa do efeito destas leis sobre a pregação pura e reta do Evangelho.
O papel da Igreja é a pregação (com palavras e ações) pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo, mas dentro da própria Igreja tem regras que atrapalham este papel primordial da Igreja. Então estas regras têm que ser eliminadas. Como o TAM e a Avaliação tem tido um papel de atrapalhar a pregação pura e reta do Evangelho então estas normas precisam ser afastadas em sua totalidade, por ser uma exigência do Evangelho. Não basta mudar a dinâmica na aplicação destas leis. Com sua manutenção a Igreja está dando um tiro no próprio pé.
Alguém vai dizer: Os pastores/as não devem temer pregar o Evangelho, pois Paulo diz: "Ai de mim se não pregar o evangelho". O que é mais importante: as leis eclesiais ou a liberdade da pregação do Evangelho? Vamos eliminar o Evangelho ou as leis repressivas? As nossas normas eclesiais devem facilitar a pregação do Evangelho e não ser um empecilho; devem trazer a liberdade e não o temor e o medo. Se o sistema deste mundo cria o medo e a repressão então isto é normal, pois esta é a sua função em impedir a construção do Reino de Deus, mas a própria Igreja não pode e não deve ter em seu seio leis que atrapalham a pregação do Evangelho e assim ajudar o nosso inimigo, o mundo, o capitalismo.
Tarefas:
- Criar uma seccional da APPI no Sínodo.
- Discutir a luta contra o TAM e a Avaliação na CO.
- Elaborar uma moção junto com a APPI para tirar do EMO o TAM e a Avaliação.
- Retirar-se das Equipes de Avaliação do Sínodo.
- Discutir a defasagem salarial de 70% a 80% desde 1997 e a sua conseqüente reposição de 20% em 2013 e mais 20% em 2015.
- Dialogar com os/as colegas que ainda apóiam a manutenção destas leis repressivas para conseguir sua adesão à Campanha para eliminar estas leis.
Observação:
Provavelmente muitas das pessoas leigas do Conselho Sinodal, da Assembléia Sinodal, do Conselho da Igreja e do Concílio e do Concílio junto com alguns pastores/as não vão querer acabar com as leis repressivas porque é um ótimo mecanismo de repressão sobre os/as pastores/as e assim viabilizar o projeto do capital; alguns farão isto conscientemente outros não. É claro que eles não vão admitir isto. Pastor/a não é inimigo da Igreja, mas aquele/a que a viabiliza junto com o povo pela ação do Espírito Santo. Reprimir e atemorizar os/as pastores/as é inviabilizar a Igreja, vai sobrar apenas Religião e nada de Evangelho.
Por que os capitalistas e seus apoiadores na Igreja e fora dela não querem que se pregue pura e retamente o Evangelho do Reino de Deus que sempre aponta para a esperança da construção de uma nova sociedade não classista e não capitalista? Exatamente por isto, por o Evangelho propor uma sociedade não capitalista e não classista.
O que o Evangelho de Jesus Cristo ameaça?
- Ameaça os 44% da terra dos 0,9% de proprietários no Brasil que são 47 mil de 5,2 milhões de proprietários.
- Ameaça os 75% da renda e riqueza que os 10% dos mais ricos controlam.
- Ameaça a vontade de expropriar a terra dos povos indígenas a ser usada para o agronegócio e para a mineração.
- Ameaça as benesses advindas do Estado para incentivar o capital.
- Ameaça os que se beneficiam dos altos juros pagos pelo endividamento externo e interno do Estado que em 2012 perfaz 910 bilhões de reais, igual a 47% do orçamento da União.
- Ameaça a não destruição da Amazônia, do Cerrado, do Pantanal, da Caatinga e do resto da Mata Atlântica.
- Ameaça acabar com a impunidade dos torturadores do tempo da ditadura.
-Ameaça acabar com a impunidade do agronegócio que assassina lideranças indígenas, camponesas, sindicais e ambientalistas.
- Ameaça acabar com o latifúndio e o trabalho escravo que nele há.
- Ameaça inviabilizar o imperialismo estadunidense, para dar alguns exemplos.
Por causa destes interesses do capital o Evangelho não deve ser pregado pura e retamente e por isso estas leis repressivas da igreja precisam ficar segundo os interesses do capital e seus apoiadores. Nossa ingenuidade e falta de informação são uma grande arma a favor do capital e contra o Evangelho de Jesus Cristo. Nós sabemos do que o capital é capaz para garantir o seu lucro e a sua reprodução. A história nos fala disto pelas ditaduras militares implantadas nos anos 60-80 pelo mundo afora e pelo massacre contra o povo organizado nestes países. A história recente e do passado nos mostra que se faz a guerra e se invade países e se mata milhões de seus habitantes por estarem no caminho do lucro dos capitalistas. Neste processo de ocupação militar se prende, se tortura e se mata sem a menor hesitação. Tudo isto o Evangelho de Jesus Cristo ameaça e por isso os pastores/as são uma ameaça que precisa ser calada! Pelos mesmos motivos o Império Romano, para legitimar o modo de produção escravista, assassinou cerca de 100 mil cristãos até 313 A.D., sem contar os torturados, expatriados, exilados, perseguidos e escravizados sob a acusação de subversão por não adorarem os deuses do Império que legitimavam a escravidão e o próprio Estado opressor, que segundo João em Ap 13 recebeu o seu poder do diabo.
Por que os/as pastores/as têm medo?
Porque são gente, são pessoas, não máquinas, como diria Chaplin. Sentem medo porque se sentem sozinhos, não apenas se sentem sozinhos como estão totalmente sozinhos e isto eles/as já descobriram há muito tempo. Ninguém olha por eles. Como diz o Coloninho: "O pastor sinodal tem tempo para inaugurar qualquer toco, mas não tem tempo para os/as pastores/as".
Um colega fez o seguinte comentário sobre a função do pastor sinodal: "A expressão "pastor dos pastores" muitas vezes é vista por nós de forma positiva, como aquela pessoa que pastoreia pessoas que exercem o pastorado. Contudo, olhando por outro lado, se pastores são "peões" (na tua linguagem), o "pastor dos pastores" é o peão que é pago para controlar os demais peões, só isto! Ou seja, se na cabeça de muita gente pastor é pago para fazer, então, "pastor dos pastores" é pago para fazer cumprir as leis. A gestão administrativa (poder!) é assumida por pessoas não ordenadas/remuneradas, mas estas não precisam controlar os peões, pois tem gente paga para fazer isto".
Os/as pastores/as por estarem sozinhos sentem medo e também não se encorajam de se organizar, se encontrar para conversar e estudar. Esquecem que os poderosos governam melhor e dominam melhor um povo dividido e desorganizado. Dividir para governar, é o slogan. Se a igreja começar a tratar os/as pastores/as como pessoas com suas fraquezas e virtudes então eles/as se sentirão valorizados/as e fortalecidos/as. Pastores/as não são super-homens e super-mulheres, são gente e querem ser tratados como gente. Porém o que ouvem da igreja é: faz isto e faz aquilo; se não fizer direito o TAM e a Avaliação pegam. A igreja não diz isto de forma tão clara, mas todos sabem que é isto.
Cada um está na paróquia se desdobrando em ser expert em tudo e ninguém é expert em tudo, mas a paróquia exige que o seja. Tem que saber cantar bem, saber tocar bem um instrumento, falar bem e alto, saber trabalhar com crianças, jovens, adultos, casais, idosos, pessoas com deficiências, saber fazer visitas à famílias e doentes em casa e em hospitais, fazer poimênica, saber fazer certinho os enterros e depois acompanhar a família enlutada, saber conciliar os casais e as famílias brigadas, fazer formação teológica para lideranças em todos os níveis, saber dirigir bem o carro em tempos de seca e de chuva, estar 24 horas à disposição, ajudar a organizar as festas, beber cerveja com os membros e dançar a primeira música no baile, saber pregar tão bem que as pessoas suspirem emocionadas e nunca pregar o que a direita não permite, saber fazer o show da fé, etc. e tal e por aí vai.
Somando a isto temos a Subsistência Ministerial defasada em 70% a 80%, stress e ainda tem que enfrentar o TAM e a Avaliação e sem que a igreja tenha uma política de pessoal que lhes mostre que são gente com dores e alegrias. Além disso, a igreja não tem um Projeto de Igreja claro para se basear no andar solitário. Aí cada um inventa o que lhe der na telha para "agitar" na comunidade para se manter. No fim todo mundo anda como cego guiando outro cego e estão com um pé na casca de banana e outro na cova. Igreja missionária? Para onde vai esta missão? Salvação individual ou só para ter alguns membros a mais que também não sabem para onde ir?
Uma singela sugestão ao pessoal da direção da Igreja da Sr. dos Passos e para os sinodais e à demais colegas.
- Não temos culpa que fomos formados numa teologia "neutra" e ingênua na igreja.
- Mas, temos culpa se continuarmos a trabalhar sós na igreja e não participamos das lutas e da formação do movimento sindical, popular e político partidário e assim continuamos ingênuos.
- A partir de nossa teologia temos que ter a capacidade de aprender dos lutadores e lutadoras do povo a ampliar o nosso horizonte teológico. Se só ficarmos nos círculos eclesiais vamos ter "Inzucht" teológico e nem vamos conseguir entender a nossa própria caminhada eclesial dentro da atual realidade dominada pelo capital.
- Continuamos inocentes úteis e ingênuos teologicamente e na nossa prática organizacional eclesial porque só transitamos em nossos próprios meios. Somos que nem bezerro amarrado num poste que só consegue pastar numa área em círculo conforme o comprimento da corda que lhe está atada no pescoço. O Reino de Deus é maior que a Igreja. A Igreja é apenas um dos elementos que fazem parte do Reino de Deus. Os outros elementos também têm muito a nos ensinar, tem muita teologia para nos ensinar e também a aprender de nós. Temos que sair do "Inzucht" teológico, muito acentuado e fortalecido a partir do tempo em que o neoliberalismo está reinando no mundo. A Ditadura do Pensamento Único que legitima a Ditadura do Capital tem que ser rompida por nós também na igreja. A Ditadura do Capital está dando a linha teológica na igreja, temos que romper com isto. O Movimento Sindical, Popular e Político Partidário podem nos ajudar a sair desta armadilha, mesmo que eles também tenham seus problemas.
Por que participar do Movimento Popular? Para sair do "mato" da igreja e olhar de fora do "mato" e aí a gente vai ver coisas que de dentro do "mato" não se enxerga por causa que as árvores são muito grossas e altas. Aí a gente "descobre" que o Reino de Deus é maior que a Igreja e que devemos unir as lutas da Igreja com o Movimento Popular, Sindical e Político Partidário.
Quando a gente não sai do seu mato para olhá-lo de longe dá nisso daqui:
A Igreja diz para as paróquias: "Façam o seu Planejamento Estratégico", mas a Igreja como um todo não tem um. Assim a igreja não sabe dizer para a paróquia para onde ir. Ricardo Abramovay diz: "no que se refere às grandes corporações, porque elas fazem estudos prospectivos relativos ao que será o mundo nos próximos 50 anos e procuram se organizar estrategicamente em função disso". Nós que temos o Evangelho do Reino de Deus em vista, que concede a salvação e a vida eterna, não temos planejamento nenhum. Nem o último documento do PAMI a pastorada conhece direito. Para onde a paróquia vai ir? Para lugar nenhum: bezerro atado numa estaca só come grama do tamanho da corda que tem atada no pescoço e anda em círculo. Se a IECLB não tem um Projeto de Igreja como ela vai exigir da paróquia um Projeto de Igreja? Resultado: Associação Cultural e Recreativa com fins Religiosos.
A IECLB nos anos 80 tinha um Projeto de Igreja elaborado nos concílios. Por que não o efetivou? Porque era subversivo, partia da realidade do povo oprimido e isto ameaça o capital e a igreja tem que reproduzir o capital e não negá-lo e exterminá-lo. Imaginem se isto acontecer na igreja: "assumir e defender com responsabilidade evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem terra, bóias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas" (Mensagem do Concílio Geral de 1982 às comunidades).
As paróquias fazem seu Planejamento Estratégico sem uma análise de seus próprios dados: batismos, casamentos, confirmações, óbitos, número de membros comparados nos últimos 50 anos e comparados com os dados do IBGE e do Censo Agropecuário dos últimos 50 anos, a realidade étnica dos membros, conjuntura do município no que toca à economia, educação, política, realidade da região no Brasil e da região no estado da federação, conjuntura sinodal, tradição teológica dos membros e influência de outras igrejas no município, campo e cidade, renda, profissões das famílias, etc. e tal. Como fazer um Planejamento Estratégico sem os dados da realidade? Ou é ingenuidade ou é planejado para não mudar nada na prática eclesial e nem na realidade da sociedade. Penso que é ingenuidade e falta de fazer análise de conjuntura e com isto se perdeu parte do processo histórico da igreja porque achamos que vivemos numa sociedade harmônica sem luta de classes e que a realidade não muda.
Os/as pastores/as estão dentro desta realidade que chamo de caótica, porque ninguém explica nada além do normal que a igreja faz para fazer o Planejamento Estratégico que não leva em conta a realidade brasileira. Em todo caso o que falta são as linhas básicas de ação da igreja construídas em cima da realidade brasileira. Não bastam os quatro principais objetivos específicos do PAMI na forma como são colocados, são muito genéricos e não dizem nada e dizem tudo:
1. Testemunhar o Evangelho de Jesus Cristo a todas as pessoas no seu contexto – Evangelização
2. Promover a vivência da fé em Jesus Cristo em comunidade – Comunhão
3. Praticar a misericórdia e a justiça – Diaconia
4. Celebrar o amor de Deus no mundo – Liturgia
Se olharmos a partir da participação na luta do Movimento Popular, Sindical e Partidário estes quatro objetivos estão claros, mas acontece que nós da igreja não olhamos a partir disto. Isto tudo é assim por causa da teologia oficiosa que a igreja construiu nos últimos 20 anos que é não se envolver com as lutas do povo organizado deste país. A igreja é "neutra" para não entrar em conflito com a direita que controla a igreja desde a comunidade com suas devidas e honrosas exceções. Dentro deste contexto eclesial e teológico acontece o TAM e a Avaliação. O ideal seria se a direção que está na Sr. dos Passos junto com o Conselho da Igreja encaminhasse a moção de dissolução do TAM e da Avaliação para o concílio da Igreja num gesto de valorização dos pastores/as para garantir a pregação pura e reta do Evangelho. Não seria bom se a Sr. dos Passos ficasse em rota de colisão com a pastorada, pois sem os/as pastores/as esta igreja não anda e manter estes métodos repressivos não é sábio.
Não fazer Análise de Conjuntura é dizer que a igreja é neutra frente e dentro da realidade do povo e vive numa redoma de cristal e por isso a teologia da salvação individual e a missão apenas para conseguir mais membros bastam. A pergunta: "Como ser Igreja Missionária dentro da realidade da luta de classes na realidade brasileira", não se faz. Acho isto simplesmente catastrófico! Não tem nada ou muito pouco a ver com o Evangelho do Reino de Deus pregado e vivido por Jesus Cristo que partiu com a sua pregação e ação da realidade concreta do povo oprimido da Palestina onde o próprio Jesus é um camponês sem terra e sem teto e por isso ele foi crucificado porque ameaçou o status quo.
Está na hora de mudar esta teologia do tatu que vive na toca e só sai à noite para se alimentar. Deus se fez pessoa num camponês sem terra e sem teto à margem da sociedade, na Galiléia, e longe do centro que é representado pelo Templo de Jerusalém. Isto já mostra onde Deus decidiu por os pés para se fazer pessoa em Jesus de Nazaré e começar a viabilizar o seu projeto que Jesus chama de Reino de Deus. Jesus reativou a utopia camponesa, que tem sua origem a partir de 1.250 a.C. nas montanhas da Palestina dentro do conceito e prática de uma sociedade igualitária, não classista e sem Estado onde os meios de produção estão para todos, que ele chama de Reino de Deus. Dentro desta utopia camponesa está a esperança messiânica levantada pelos profetas e profetisas que tem a mesma idéia de reativar a utopia camponesa. Assim vemos que a origem do Evangelho do Reino de Deus está embasado nas lutas históricas dos hebreus no processo de construção de uma nova sociedade igualitária e sem Estado que pressupõe que não haja classes sociais, porque o Estado é o resultado da luta de classes.
Dentro desta conjuntura do povo hebreu Deus se fez pessoa na classe camponesa, que era a que trabalhava, como também a classe escrava. A ação de Javé assim está bem contextualizada na vida real para a partir desta realidade propor através de Jesus seu projeto. Assim, nós como igreja, podemos construir um Projeto de Igreja para a IECLB a partir da realidade concreta da luta de classes da sociedade brasileira e latino americana. Por que não o fazemos? Porque a correlação de forças está favorável à classe capitalista que tem seus representantes nas esferas diretivas da igreja, desde a comunidade, e que não vão deixar que se faça um Projeto de Igreja a partir dos empobrecidos, a classe trabalhadora, que é a esmagadora maioria, também na IECLB. Mas para sabermos se isto dá ou não dá para fazer a gente vai ter que tentar. Por enquanto ainda não se tentou fazer um Projeto de Igreja baseado na realidade da classe trabalhadora, que é a maioria esmagadora das famílias da IECLB. O projeto atual é o projeto da classe capitalista que não toca nas feridas deixadas pelo capital no meio do povo. Este projeto está ancorado no conceito da harmonia social, que é algo totalmente irreal.
Aí vem a velha e demagógica pergunta: e os ricos? Primeiro, temos muito poucos ricos na igreja, exceto os pobres que se consideram ricos. Para ser rico no Brasil tem que se ter 1 milhão de dólares aplicado no sistema financeiro, ter um patrimônio de meio milhão em casa e carros e receber no mínimo 80 mil reais por mês. Quanto que são da IECLB tem isto? Ninguém está expulsando os ricos. Para eles vale também, como para todos, o que Jesus diz em Mc 1.15: arrependei-vos e crede no evangelho. Se houver arrependimento sincero como o do Zaqueu que devolveu quatro vezes o que roubou e deu a metade do que sobrou aos pobres e aí não teremos mais ricos na sociedade. Assim esta pergunta deixa de existir e não haverá mais problemas em construir um Projeto de Igreja a partir da classe trabalhadora.
Por que não se constrói um Projeto de Igreja a partir da realidade do nosso povo empobrecido? Porque não se quer confrontar com a direita, que normalmente nem ricos são, mas apenas o gostaria de ser. Porque não se quer mostrar que há luta de classes na igreja e que a classe economicamente dominante e seus aliados da classe trabalhadora, que não sabem que são seus aliados, não vão permitir que se construa um Projeto de Igreja a partir dos empobrecidos da classe trabalhadora. São também estes que dão sustentação às leis repressivas contra os/as pastores/as. Construir um Projeto a partir da realidade da qual Jesus falou, a classe camponesa, é muito subversivo e tem que ser evitado a todo custo.
Vamos construir um Planejamento Estratégico a partir da teologia do tatu e do bezerro amarado no cepo e aí nada vai mudar e nada vai ameaçar a hegemonia do capital na igreja e na sociedade. Finalmente a paz! (de cemitério onde jazem as vítimas do capital pela morte prematura por causa da superexploração no processo produtivo, por causa do assassinato porque lutavam pela reforma agrária e resistiram à invasão de suas terras ancestrais, por causa da guerra imperialista, por causa das doenças advindas do 1 bilhão de litros de veneno aplicados nas lavouras brasileiras ou por causa da guerra do tráfico) Este Projeto de Igreja não deve ser construído porque está baseado na teologia da cruz de Cristo, pois nós somos adeptos da teologia da glória, que pressupõe a existência no meio de nós da harmonia social e de que a salvação é individual e desvinculada de um engajamento concreto na construção do Reino de Deus que quer construir uma nova sociedade não classista.
A nossa teologia está baseada no fato de eu ter Jesus no coração e, portanto, estou salvo e isto nada tem a ver com a luta de classes que há na sociedade e na igreja; na verdade nem há luta de classes na sociedade e nem na igreja, isto é conversa de comunista subversivo! Eu tenho Jesus no coração e não tenho nada a ver com a reforma agrária, nem com as famílias atingidas por áreas indígenas, nem com as lutas indígenas, nem com os atingidos por barragens e nem com o fato de se não houver mudanças radicais na nossa prática econômica e cultural e por isso a humanidade vai ser extinta pela prática capitalista. Não tem nada mais de egoísta do que este tipo de teologia que é hegemônica na igreja, mesmo não a expressando desta forma. Também os que não são do Movimento Encontrão e da MEUC pensam desta forma, pois não admitem que a Igreja se engaje na luta pela terra, na luta por teto nas cidades, na luta sindical, ecológica e do movimento popular; apenas usam outro linguajar. As leis repressivas contra os/as pastores/as estão dentro deste contexto teológico da teologia da glória.
Daí se explica porque não se quer acabar com estas leis repressivas, pois elas mexem no todo que sustenta a teologia da IECLB. Mas, como a essência do Evangelho de Jesus Cristo é a desinstalação (Mc 1.15), então a gente tem que começar por um canto, mesmo que seja este. Mudar a teologia da glória da igreja é mais difícil do que mudar as leis repressivas, então vamos começar com s leis repressivas que é o mais fácil deste processo e junto com isto acabar com a teologia da glória.
Este texto, como os demais, fazem parte de um processo de discussão sobre a elaboração de um Projeto de Igreja para a IECLB (assim como também precisamos construir um Projeto para o Brasil), portanto você não precisa concordar com ele, mas seria ótimo se você começasse a pensar sobre como elaborar as bases de um Projeto de Igreja para a IECLB a partir do Evangelho de Jesus Cristo, da teologia luterana e da realidade de sua paróquia, que é a realidade do povo brasileiro que vive as contradições do capitalismo. Discuta isso com seus/suas colegas.