Wednesday, April 18, 2012

Por que temos o TAM e a Avaliação?


“Se não tens cuidado, os jornais te convencerão de que a culpa dos problemas sociais é dos oprimidos e não de quem os oprime”? Malcolm X.

Este parece ser o problema na IECLB. Os/as Pastores/as são culpados de que precisamos o TAM e a Avaliação. A oficialidade argumenta que estas leis repressivas, que eles dizem não o serem, são necessárias porque alguns pastores/as ficam tempo demais numa paróquia e não há mecanismos para fazê-los trocar de paróquia. Então o mecanismo repressivo contra estes/as seria o TAM e a Avaliação. Este argumento me parece muito inconsistente porque não tenho notícias de que algum de nossos colegas que estão há muitos anos na mesma paróquia tenham sido afastados pelos mecanismos do TAM ou da Avaliação. Vocês conhecem algum caso onde isto aconteceu com alguém que está há 20 anos numa paróquia? Eu não conheço nenhum caso. E mesmo que haja um ou dois casos esta lei repressiva ainda não se justifica por ser totalmente ineficiente para estes casos onde os colegas estão blindados. Além do mais não me parece que os colegas que estão muitos anos na mesma paróquia sejam pastores piores e menos eficientes do que os outros. Só porque você está muitos anos numa paróquia não quer dizer de princípio que você é um mau pastor.

Eu pessoalmente acho saudável trocar periodicamente de paróquia porque em cada uma você aprende coisas novas a partir de desafios novos. Mas isto não quer dizer que os/as pastores/as que estão muitos anos na mesma paróquia sejam maus pastores e ineficientes por causa disto. Por isso acho que a argumentação da validade do TAM e da Avaliação para estes casos não é válida. O que sobrou então?

Por que temos então o TAM e a Avaliação?

Não é por causa dos pastores/as que estão há muitos anos numa mesma paróquia. Por que então existem estas normas repressivas?

Temos estas leis repressivas porque elas fazem parte de todo o processo de reestruturação da qual a igreja passou a partir de 1997. Na verdade este processo iniciou no final dos anos 80. A reestruturação faz parte de uma ofensiva da direita contra a Teologia da Libertação muito atuante nos anos 80. Se juntou à direita na igreja um grupo anticlerical, também de direita, com o mesmo medo que a TdL faz parte de um complô de instaurar o comunismo no Brasil e que acha que os/as pastores/as tem muito poder na paróquia. Temos que se tirar o poder deles na paróquia, foi este um dos papéis da reestruturação: diminuir o poder dos/as pastores/as e meter medo neles para diminuir o papel da TdL. Somado à isso temos um grupo de pastores de direita que sempre quis ascender aos cargos da Sr. dos Passos, especificamente ser Pastor Presidente, e nunca o conseguiu porque os Distritos Eclesiásticos eram imprevisíveis em suas votações e a direita nunca ganhou estas eleições. Além do mais a participação no movimento popular, sindical e partidos de esquerda era muito apoiada pelos DEs, isto era visto pela direita na igreja como uma ameaça que precisava ser afastada. Por isso na reestruturação se suprimiu os DEs e se deixou o equivalente à Região Eclesiástica, que é o Sínodo. Com isto se acabou com o trabalho eficiente que havia nos DEs a nível eclesial e também com a participação no movimento popular, pois se fragmentou e se subdividiu as Regiões Eclesiásticas em Sínodos onde os/as pastores/as agora não se encontram mais por pertencerem à outro Sínodo. Como os sínodos são muito grandes eles se subdividem em setores que fragmenta ainda mais o buscar por um Projeto de Igreja para a IECLB. Para a direita não se precisa buscar um Projeto de Igreja para a IECLB, pois ela já tem um projeto: a Associação Cultural e Recreativa com fins Religiosos. A questão é manter a igreja como Religião e não como Evangelho. A religião é essencialmente conservadora, porque quer manter o status quo, o Evangelho é essencialmente revolucionário e insurgente porque busca a construção do Reino de Deus que na sua essência é uma nova forma de organizar a vida e a sociedade em oposição ao capitalismo. A função da Religião é manter o capitalismo e a função do Evangelho é acabar com o capitalismo porque ele não é igual ao Reino de Deus.

O que se conseguiu nesta ofensiva da direita? Conseguiu-se desarticular as lideranças e pastores/as que são da TdL e que participavam do movimento popular e quase todo o trabalho que havia nos DEs e aliado à isto temos o refluxo do movimento popular a nível de país por causa da conjuntura neoliberal.

Para frear o avanço da TdL na igreja, além da conjuntura desfavorável, se colocou no EMO o TAM e a Avaliação para meter medo na pastorada e lhes diminuir o poder. Aliado à isto nos anos 2000 começaram a faltar vagas; havia mais pastores/as do que paróquias vagas. Isto ajudou na retração que já a conjuntura nacional e internacional favoreceram e fez com que a pastorada tentasse se proteger e se retraiu e não mais participou das lutas populares, pois isto não é muito bem visto pelas lideranças das paróquias, por serem normalmente de direita e que poderia resultar numa não renovação do TAM.

Vejo como motivo principal da existência do TAM e da Avaliação a tentativa de frear o envolvimento nas lutas populares da pastorada num processo de construção de uma nova sociedade.

Assim somos culpados da existência das leis repressivas: alguns ficam muitos anos na paróquia e alguns se metem nas lutas populares. Atira-se em alguns e se erra o alvo, mas se acerta em todos. Foi isto que aconteceu.

Boaventura de Sousa Santos diz: "Estas questões devem estar na agenda da reflexão política das esquerdas, sob pena de serem remetidas ao museu das felicidades passadas. Isto não seria grave se não significasse, como significa, o fim da felicidade futura das classes populares. A reflexão deve começar por aqui: o neoliberalismo é, antes de tudo, uma cultura do medo, do sofrimento e da morte para as grandes maiorias: a ele não se combate eficazmente se não lhe opuser uma cultura da esperança, da felicidade e da vida. A dificuldade que as esquerdas têm, para assumirem-se portadoras dessa outra cultura, advém da queda, durante grande tempo, na armadilha com que as direitas sempre se mantiveram no poder: reduzir a realidade ao que existe, por mais injusto e cruel que seja, para que a esperança das maiorias pareça irreal. O medo na espera mata a esperança de felicidade. Contra esta armadilha é preciso partir da ideia de que a realidade é a soma do que existe, e de tudo o que nela emerge, como possibilidade e luta por concretizar-se. Se as esquerdas não sabem detectar as emergências, serão submergidas ou irão parar nos museus, o que é o mesmo."

Este processo todo embutido na reestruturação da igreja gerou muito medo na pastorada e assim houve uma regressão na prática do envolvimento nas lutas populares e na reflexão teológica ligada a TdL. Vitória da direita.

Se a direção da igreja continuar insistindo na manutenção destas leis repressivas ela estará ajudando o processo de luta da direita anticlerical na igreja. Parece-me que as pessoas da Sr. dos Passos não são de direita, elas se consideram de esquerda e são consideradas como tal. Mas por falta de uma leitura mais ampla da conjuntura estão fazendo o jogo da direita. O jogo que a direita sempre usou é o medo, pois o medo paralisa e torna as pessoas conservadoras. É isto que a direita anticlerical na igreja quer e conseguiu com o processo da reestruturação. Lembro-me bem quando saí de Condor e o Conselho Paroquial discutiu a vinda de um/a outro/a obreiro/a quando disseram: "Vamos assinar o TAM apenas por 3 anos, se não de certo a gente não renova". É assim que funciona, não precisa ter grandes argumentos teológicos, basta alguns não gostarem das orelhas curtas do pastor ou de seu nariz torto que é motivo para não renovar o TAM. Estou exagerando um pouco, mas para a não renovação do TAM a paróquia não precisa explicar nada. Cessou o tempo do contrato, tschau!

Alguns vão dizer: "O Lobo está de novo viajando na maionese". Então vou transcrever uma parte de um email de um colega que fala sobre isto:

"Aqui acabamos descobrindo um círculo vicioso, pois ao refletirmos a partir de nossa realidade, a realidade sobre a qual nossos pés pisam, nos damos conta que estamos tão apertados e espremidos por estas questões nas paróquias que temos medo. Medo do presbitério, que pode romper o TAM, e entramos no "mercado de escravos" do reenvio, medo do grupo avaliador, que pode nos fazer entrar no mesmo reenvio, medo não só por nós, mas também por nossas famílias, que se verão, novamente num processo de mudança, sem saber para onde ir.

Eu confesso, eu vivo com medo, vivo pisando em ovos. Tenho que cuidar o que falar, quando falar, onde falar. Ainda que a comunidade tenha saudade do pastor ditador, ela quer mandar e decidir os caminhos até da família d@ ministr@. Por outro lado, nós ministr@s ainda vivemos sob a sombra da falta de vagas - e as paróquias tb ainda pensam assim, ainda não sentiram a falta de obreiros."

É este o clima que queremos na IECLB? O que temos na igreja? Pastores/as com medo, infelizes, estressados, doentes, com a auto-estima baixa, desmotivados, desvalorizados e com a Subsistência Ministerial defasada em 70% a 80% em relação a 1997. Isto é tudo o que o diabo gosta, pois isto não ajuda em nada na missão da igreja.

Querem uma igreja tímida, acanhada, fraca, medrosa, instável, inerte e covarde? Então continuem com as leis repressivas contra a pastorada, que é o projeto da direita anticlerical. Querem uma igreja motivada e missionária? Valorizem a pastorada, lhe concedem dignidade e condições de formação teológica permanente e acabem com as leis repressivas contra a pastorada. Obreiros/as fracos/as, igreja fraca; obreiros medrosos/as, igreja medrosa e tímida. Resultado: Missão Zero, no sentido de nulidade.

Como as coisas, pelo que me parece, não vão vir de cima, então nós de baixo temos que fazer pressão e enviar moção às Assembléias Sinodais para retirar do EMO estes artigos (os artigos dos capítulos V § 22; VII art. 23 I; VII Art. 26 § 1º até o § 8º) sobre o TAM e a Avaliação para esta moção então ser enviada ao Concílio da Igreja. Este é o caminho, além de uma Campanha ampla contra estas leis repressivas num processo de tomada de consciência da realidade eclesial.

Se você ficar quieto no seu canto com medo então não vai mudar nada. Na verdade vai mudar: você será a próxima vítima do TAM e da Avaliação. Não pense: Eu estou imune disto! Pois não estás. Converse com seus colegas pastores/as sobre isto e vejam o que podem fazer em seu Sínodo ou em seu setor ou UP. Além disto, se você faz parte de uma equipe de Avaliação se retire dela; ninguém é obrigado a fazer parte de uma equipe destas que só serve para nos ferrar. Se o pastor sinodal não gostar da idéia, paciência. É bom lhe lembrar de que daqui a 4 anos ele novamente estará neste barco se ele não ajudar a mudá-lo agora. E se o pastor sinodal for contra a revogação do TAM e da Avaliação estará prejudicando a pastorada e corre o risco de, se for o caso, não se reeleger, se ainda tem o direito a uma reeleição. No processo da discussão da reestruturação sempre se dizia que o pastor sinodal vai ser o pastor dos pastores, vai cuidar das dores dos/as pastores/as. A dor, no momento, são as leis repressivas e a defasagem salarial e esperamos que os pastores sinodais tenham sensibilidade para estas dores se querem ser os pastor dos/as pastores/as. Sabemos que tudo o que as pessoas fazem elas também podem desfazer. Foram as pessoas que colocaram no EMO estas leis repressivas então elas também podem desfazer isto. O EMO não é a Bíblia, na qual não dá para mexer. A não ser que a igreja esteja realmente com a intenção de acuar a pastorada, o que não creio. Prefiro crer que estas leis foram colocadas apenas para regular a estada temporária dos/as pastores/as na paróquia, contra toda a minha argumentação anterior. Falando uma vez de forma positiva. Mas como isto acabou por prejudicar a pregação pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo e criou a instabilidade entre os/as pastores/as então vamos retirar estas leis, o que não é complicado.

Por último quero acentuar que por causa da insegurança e do receio que o TAM e a Avaliação trazem consigo a pastorada vai estar propensa, para se proteger, a vender o Evangelho. E não coloquem a culpa somente na pastorada por causa da venda do Evangelho. O Conselho da Igreja e o Concílio da Igreja igualmente serão responsáveis por esta venda, se não revogaram o TAM e a Avaliação, porque as autenticaram pela não revogação destas leis repressivas. Estamos então finalmente na condição de só pregar o que a direita permite. Não precisamos estudar 5 anos de teologia na EST para saber o que a direita permite e não permite que seja pregado. Falo isto para deixar claro que estas leis repressivas não são qualquer coisa, mas são as condições ou não de haver um avanço missionário na IECLB.

Vocês não precisam concordar com as minhas argumentações, mas discutam isto a partir daquilo que vocês sentem no dia a dia na paróquia.

Günter Adolf Wolff

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Fone: 49 3647 0470

lobo@promitos.com.br

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7 comments:

  1. Ricardo Jannut10:06 AM

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  2. Ricardo Jannut10:13 AM

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  5. Ricardo Jannut10:46 AM

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  6. Ricardo Jannut10:54 AM

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  7. Este não é um blog sério. Se fosse permitiria comentários e idéias diferentes.

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