Numa discussão sobre a graça alguém disse: “mas eu preciso
aceitar a graça, afinal a somos salvos por graça e fé, disse o apóstolo.”
Fiquei num beco sem saída. Para mim, até o ato de “aceitar” diminui a graça,
coloca novamente a pessoa como centro. Como sair deste beco sem saída?
O jeito é retornar ao doador da graça. As suas parábolas são
simples e.... geniais! Tem a da pérola, da dracma perdida, da ovelha perdida,
do tesouro oculto, da grande ceia e tantas outras, mas a minha predileta é a
dos dois filhos (ou filho pródigo, se preferires). Nesta parábola a ação do filho leva a separação, à
ruína, ao desespero, à desesperança e à situação de morte. Enfim sua ação o
leva de volta ao pai, mas não como filho, sua ação o leva como servo.
O ponto interessante, que sempre escapa às reflexões é que
mesmo longe, mesmo revoltado, mesmo pródigo, este nunca deixou de ser filho.
Tanto que ao retornar o pai lhe restitui à sua condição de filho, ainda que
este se considerasse imerecido. A graça de ser filho nunca lhe havia sido
retirada. A sua ação, de querer a partilha, de querer a sua liberdade, de
querer a sua independência, esta sim, o havia afastado do pai, mas para o pai
ele continuava filho! A graça imerecida independe da ação, do retorno, do
arrependimento. Outrossim não é graça, é barganha.
Isto se entende no diálogo com o segundo filho. “Tudo o que
tenho é teu”, diz o pai, sempre esteve a tua disposição. A alegria estava em
recuperar o filho que havia desdenhado a graça. Ser filho, tanto um como outro,
independia de qualquer ação.
Desta forma, a graça não depende de nós. Deus nos faz filhos
e filhas, independentes de nossa bondade, maldade, aceitação ou negação. Somos filhos e filhas, como nascidos do
ventre de nossa mãe, independente de nosso querer, independente de nosso “aceitar”.
Independente, como dizem alguns pastores pentecostais em suas profetadas, de “tomar
posse” da graça, somos feitos herdeiros de Deus pela sua suprema vontade, pela
sua graça e seu amor.
- Mas é preciso ter fé, né pastor? Até esta é graça, pois
dizemos “Creio Senhor, mas aumenta minha
fé”.
Antes que alguém argumente que então eu não preciso fazer
nada, que assim é muito fácil. Realmente, a graça é fácil, pois o salvo não
precisa fazer absolutamente nada pela graça. Nada pela graça, nada para a graça,
mas tudo a partir da graça e tudo por causa da graça! O povo de Deus não
precisa fazer absolutamente nada para ser povo de Deus, assim foi com Abraão,
foi com o povo de Israel e é com os cristãos. Mas por causa disto este povo se
engaja, se anima, se move, para colocar sinais da graça, da misericórdia e do
amor de Deus.
Soli Deo Glória.
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