Friday, September 19, 2014

Lutero e a obediência aos governantes.


Normalmente pensamos e vemos Lutero como o grande reformador da igreja, a pessoa que mudou a maneira de ser igreja e de vivermos a fé. Vemo-lo como aquele teólogo que redescobriu a graça de Deus e devolveu à igreja. Quase não conseguimos ver Lutero como um reformador maior, que buscava uma ampla reforma nas estruturas sociais e políticas de seu mundo.
A reforma não foi somente um anseio de Lutero para dentro da igreja, mas uma necessidade que este via de serem feitas mudanças mais amplas em toda a sociedade. Lutero ansiava por uma reforma na igreja e no mundo secular. Muitos de seus documentos apontam para este caminho. Em 1520 escreveu o Manifesto à Nobreza Cristã da Nação Alemã, onde trata da separação dos dois reinos – Reino de Deus e Reino Secular – e das responsabilidades dos governantes,  também via uma reforma necessária no indivíduo e em 1520 escreveu Da Liberdade Cristã. Em 1523 escreveu um direcionado principalmente às Autoridades Seculares, tratando em até que ponto o povo lhes deve obediência.
Na época da Reforma os governantes não eram eleitos, estes tinham o direito hereditário, ou seja, que nascia dentro de uma família nobre iria governar sobre área de domínio, seu feudo. Ao povo aos não nobres, cabia obedecer. Os governantes carregavam para si o direito divino e, baseados em Romanos 13, se permitiam de tudo, afinal, na sua terra, eles eram o executivo, o legislativo e o judiciário.
Lutero, em 1526, escreve ao príncipe da Saxônia e Turíngia sobre a atuação que seria possível , correta e aconselhável de um nobre em seu feudo. O príncipe estava preocupado com sua atuação e de que, havendo a separação dos dois reinos, como este poderia se manter cristão atuando no âmbito secular.
Lutero explica que os reinos não são excludentes, alguém está no reino secular, ou exerce função neste, não está excluído do Reino de Deus. O universo pertence à Deus, e Deus institui as autoridades seculares para executar a sua vontade neste âmbito de Sua divindade.
 A pessoa cristã está livre da lei, explica Lutero, pois carrega dentro de si o amor de Deus e este prescinde da lei. A pessoa cristã não precisa nem da lei nem de governantes que lhes guiem, já que, guiados pelo amor de Deus, vivem o amor ao próximo, e isto até suas últimas consequências. Porém muitas pessoas não seguem a fé e as pessoas verdadeiramente cristãs são muito poucas. Além disto, toda pessoa cristã é ao mesmo tempo justificada e pecadora.
Como muitos são falsamente cristãos e os que não carregam o amor de Deus não vivem pelo amor e graça de Deus se faz necessário uma autoridade que coloque ordem no mundo e faça cumprir a vontade de Deus para todos. Assim Deus institui as autoridades à que todos devem obediência, como Paulo nos escreve em romanos 13.1-7. Uma autoridade do reino secular deve usar a lei para fazer cumprir a vontade de Deus.
Lutero lembra os príncipes de que estes também se encontram sob a lei secular e sob a lei de Deus. Se nobre ou plebeu foi instituídos como governante é para cumprir a vontade suprema de Deus de vida digna e plena para todas as pessoas, cristãs ou não, conforme está no evangelho de João 10.10. As autoridades são instituídas pelo próprio Deus, ao povo cabe obedece-las.
Quando uma autoridade é colocada acima das leis e não obedece a vontade de Deus, então esta deixa de o ser instituída por Deus. Como pode alguém executar a lei e a vontade de Deus quando se coloca acima dela? Então o povo pode e deve confrontar esta autoridade, desde que o faça a partir das leis e da vontade de Deus.
Ainda hoje estes escritos são revolucionários, tanto para o povo do Reino de Deus, como para as nossas autoridades instituídas, pelo voto ou por indicação. Às pessoas cristãs cabe seguir a suprema vontade de Deus e o amor, aos outros cabe fazer cumprir a lei.
LUTHER, Martin. SECULAR AUTHORITY: TO WHAT EXTENT IT SHOULD BE OBEYED. http://ollc.org/wp-content/uploads/2013/11/Secular-Authority-To-What-Extent-It-Should-Be-Obeyed.pdf



Tuesday, September 09, 2014

7 maneiras de ferir o seu Pastor

Pastores amam suas igrejas e seus membros. Eles estão realmente comprometidos com os seus chamados. Mas eles são pessoas reais, que pode realmente ser ferido.

Se você realmente quer prejudicar o seu pastor, então este artigo é para você.
Esta semana passada sozinha teve conversas com dezenas de pastores. Esses pastores amam suas igrejas e seus membros. Eles estão realmente comprometidos com os seus chamados.
Mas eles são pessoas reais, que pode realmente ser feridos.
Os pastores com quem falei na semana passada compartilharam comigo sete temas comuns das coisas que os mais prejudicam os pastores em seu trabalho.

Então, se você realmente quer ferir o seu pastor, siga estas orientações cuidadosamente.

1. Criticar a família do pastor.
Poucas coisas são tão dolorosas para os pastores como criticar suas famílias, especialmente se as críticas estão relacionadas com questões na igreja.
2. Diga ao pastor que ele está ganhando demais e que a culpa do orçamento da paróquia ser alto é do pastor e sua subsistência.
Muito poucos pastores fazem muito dinheiro na igreja e não são da IECLB. Mas há um número de membros da igreja que gostaria de fazer o pastor se sentir mal sobre a sua subsistência.
3. Não defender o pastor.
As críticas podem ser prejudiciais. Mas ainda mais dolorosas são aquelas pessoas que permanecem em silêncio enquanto seu pastor é atacado verbalmente.
O silêncio não é ouro, neste caso.
4. Deixe claro para o pastor que seu trabalho é muito fácil.
Realmente machuca o pastor quando pessoas acham que o pastor só faz o culto e de sua comunidade e trabalha apenas algumas horinhas. Alguns realmente acreditam que os pastores têm vários dias de folga na semana e marcam reuniões exatamente no que seria o dia de folga do pastor, afinal, para estes, o pastor está sempre de folga!
5. Seja um crítico negativo constante.
Pastores normalmente conseguem lidar com a crítica ocasional. Mas as relações verdadeiramente dolorosas são com os membros da igreja que são constantemente negativos e só veem coisas ruins no pastor e na comunidade.
Como você sabe que você teria sucesso no assunto para o qual você levanta a crítica? O pastor procura sempre buscar o outro lado nas questões com relação a você.
6. Fazer comentários sobre os gastos do pastor.
Ouvi isso de um pastor na semana passada. Um membro da igreja perguntou: "Como você pode se dar ao luxo de ir ao Beto Carrero?" Uau.
7. Compare pregação e do ministério de seu pastor desfavoravelmente ao de outro pastor, principalmente do pastor antecessor.
Muitas vezes, o membro quer que você saiba o quanto ele ou ela gosta que pastor da outra paróquia comparado a você. Se você realmente quer prejudicar o seu pastor, você precisa ter certeza de que ele sabe o quanto inferior que ele é.
Assim, se o objetivo da sua vida é prejudicar o seu pastor, uma ou mais dessas abordagens vai funcionar muito bem.

Mas, se você for como a maioria dos bons membros da igreja, você quer o melhor para o seu pastor. Então, basta fazer o oposto destes sete passos.


E se você está preocupado que seu pastor não vai permanecer humilde, a menos que alguém coloca-lo no seu lugar, não se preocupe. Haverá sempre uma abundância desses outros membros da igreja ao redor.

Friday, September 05, 2014

O exercício da fé cidadã - Carta aberta da presidência da IECLB

Porto Alegre, 04 de setembro de 2014
Eleições 2014
O exercício da fé cidadã
O povo brasileiro experimenta um período democrático duradouro. Ao longo de várias
décadas ele vem tendo a oportunidade para se manifestar e expressar a sua opinião por
ocasião da eleição de pessoas para funções nos níveis municipal, estadual e federal. No mês
de outubro deste ano, milhões de brasileiros e de brasileiras irão se dirigir às urnas com o
objetivo de eleger representantes para os legislativos e executivos estaduais e federais.
O cenário eleitoral mostra que essa rotina está permeada por sentimentos contraditórios.
Observa-se, de um lado, entusiasmo e grande paixão. De outro lado, verifica-se um desânimo
em setores significativos da sociedade. Apesar das mudanças e das melhorias acontecidas em
diversas áreas, podem ser elencados problemas e dificuldades que perduram.
A consolidação de uma rotina eleitoral, sinal de amadurecimento da democracia, por sua vez,
também desperta certa frustração com o sistema político brasileiro. O nível de informação
sobre a realidade cresce em meio à população e a democracia representativa parece não
dar conta das dificuldades que perduram.
O descrédito para com a classe política e a fragilidade dos processos decisórios fazem crescer
a vontade de uma maior participação cidadã nas decisões que envolvem projetos,
investimentos e gestões públicas. As pessoas querem sair da sua posição de expectadoras e
desejam uma intervenção mais decidida na formulação, implementação e fiscalização de
políticas públicas. Surge a consciência de que democracia é mais do que o simples exercício
do voto a cada dois ou quatro anos. Emerge a perspectiva de que a cidadania diz respeito à
participação e ao envolvimento político no cotidiano da vida.
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) está envolvida com o processo
político brasileiro. Ao longo das três últimas décadas, emitiu cartas pastorais, posicionamentos e
declarações sobre temas da realidade brasileira. Com toda clareza a Igreja evita separar a fé
e a política, ainda que as distinga. Com muita convicção ela afirma a dignidade da vocação
política e a reconhece como um chamado a serviço do povo com vistas à promoção da
justiça, da paz e da fraternidade.
A partir da teologia luterana, entende-se que Deus tem o Estado como instrumento de ação no
mundo. Deus coloca a seu serviço governos e instituições, independente de sua orientação
religiosa. Mesmo que ao longo do tempo tenha havido uma mudança nas estruturas políticas e
em sua representação, o Estado torna-se insubstituível. A sua superação dar-se-á somente
quando a lei estiver inscrita no coração das pessoas (Ezequiel 36.26s) e quando Deus habitar no
meio do seu povo (Apocalipse 21.3s).
A IECLB faz parte da tradição protestante que se empenha pela separação de religião e
Estado. Preconiza a defesa do Estado laico. A IECLB incentiva sempre a participação em
partidos políticos como canais institucionais que expressam valores e ideologias presentes na
sociedade brasileira. Condena vícios nefastos presentes na cultura política brasileira. Dentre
eles, destaca-se o clientelismo, o coronelismo e a defesa de interesses meramente corporativos
e pessoais. Por isso, para a IECLB, o assédio às pessoas identificadas com a fé evangélica por
parte de candidatos/as e a tentativa de transformá-las em um curral eleitoral representam um
grande desserviço à democracia.
A IECLB evita a tentação de exercer qualquer tipo de tutela sobre os seus membros. Ela não tem candidatos próprios por uma questão de princípio: ela não é partido político! A partir do Evangelho, as pessoas, ao mesmo tempo cidadãs e membros da Igreja, têm uma profunda liberdade para agir responsavelmente na sociedade e no mundo. Nenhuma pessoa pode ser coagida a agir contra a sua consciência. Nenhuma liderança eclesiástica pode impor qualquer candidatura ou proposta político-partidária. Deve, isso sim, incentivar a reflexão sobre valores e princípios a serem considerados nas escolhas políticas.
Com base nessa visão, torna-se condenável o uso e abuso de símbolos religiosos ou mesmo o nome de Deus como forma de sensibilização para ganhar o voto das pessoas. Para a teologia luterana, Deus fica descartado como cabo eleitoral e nenhuma candidatura pode arvorar-se como preferida de Deus. O uso do nome de Deus para mascarar interesses particulares torna-se uma ofensa a Seu nome. A defesa de interesses pessoais e corporativos, inclusive de igrejas, representa uma forma de egoísmo grupal. Pisoteia o valor sublime da política que se caracteriza pela dedicação ao bem comum, pela defesa da dignidade humana e pela transformação da sociedade.
A partir da liberdade proporcionada por Cristo, as pessoas evangélico-luteranas chamam a si a prerrogativa da crítica e do questionamento às instituições quando estas não estiverem a serviço da justiça, da paz e da integridade da criação. Pessoas evangélico-luteranas não voltarão as costas para a política quando regimes e governos estiverem prestando um desserviço à sociedade. Contribuirão, isso sim, para a sua reforma, seu redirecionamento, sua transformação ou sua substituição segundo os propósitos de Deus.
No ano em que a IECLB celebra seus 190 anos de história e tem como tema ”viDas em comunhão”, o processo eleitoral torna-se uma oportunidade para fortalecer vias que promovam a “paz da cidade”. Em meio à efervescência eleitoral, os membros das comunidades são chamados para o exercício da fé cidadã de forma responsável, evitando (sobretudo nos debates nas redes sociais) linguagens generalizantes de uma crítica fácil e superficial. Igualmente, todas as pessoas são conclamadas para o exame cuidadoso dos históricos de vida das candidaturas, das suas trajetórias políticas, dos seus programas, dos seus compromissos assumidos e a discernir o projeto a ser apoiado à luz dos valores evangélicos.
Exercitemos, pois, a cidadania que brota da fé! Participemos da vida política como resposta à vocação de Deus! Oremos a Deus para que a civilidade, a paz, a justiça, a harmonia, a liberdade, a democracia se tornem realidade pelos vínculos baseados no respeito, no diálogo, na gratidão, na partilha e na diaconia!
Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor, porque na sua paz vós tereis paz (Jeremias 29.7).
Nestor Paulo Friedrich
Pastor Presidente