Estes dias eu assistia a um programa na TV sobre a busca pela “Arca da Aliança”. Aquele artefato, construído em acácia, cuja ordem de construção foi dada pelo próprio Deus (Ex 25.10). Nesta arca estariam colocadas as tábuas com os “dez mandamentos” e a aliança estabelecida com Deus. Este artefato sumiu, provavelmente, durante o tempo de Jeremias, na primeira destruição do templo e ninguém mais teve notícias dela. Muitos têm tentado encontrá-la e muito já rendeu esta busca, em termos de romance e de filmes.
Esta busca não vem ao caso, mas sim a necessidade que se havia de marcar a presença física de Deus entre o povo, o que a arca executava muito bem (Ex 30.6). Este artefato conseguia, ao mesmo tempo, dar uma resposta a necessidade humana por uma conexão concreta com Deus e respeitar o segundo mandamento “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra” (Ex 20.4). A arca não é uma imagem, não é Deus, não se adora esta arca, no entanto ela representa o poder, a força, o amor e a aliança estabelecida por Deus. A arca era uma maneira de se criar uma ligação concreta com este Deus. Usando a linguagem atual, ela linkava o povo com Deus.
Hoje, entre os cristãos das diferentes denominações se discute muito o uso de imagens na adoração, Esta discussão começou já durante a primeira grande cisão, onde se discutia a diferença entre ícones e esculturas como imagens de veneração – veneração é diferente de adoração. Durante a Reforma esta discussão voltou forte, havendo inclusive iconoclastia nas igrejas da Europa. Nos dias de hoje, quando o movimento ecumênico entra em crise, esta discussão parece ganhar uma certa força novamente.
Em Jr 3.16 o profeta Jeremias prevê que num futuro ninguém em Jerusalém iria mais precisar da arca, pois o próprio Deus iria habitar no meio de seu povo. No Salmo 132.8 se pede à Jahweh que este venha habitar o santuário construído e não ser preciso nenhum símbolo pra linkar com Deus, mas poder se referir diretamente com Deus. Em Jesus Deus se faz presente fisicamente em Jerusalém e no Espírito Santo, entregue no Pentecostes (At 2) esta presença se mantém. Desta forma, o próprio Deus nos liberta da necessidade de termos um link físico com Deus, pois o próprio Deus se coloco não só ao nosso lado, mas dentro de nós.
No entanto, o ser humano tem necessidade do concreto, do físico, do palpável. Assim precisamos de nossas igrejas, carregadas de simbologias, para podermos estabelecer uma conexão com este Deus, ainda que saibamos, que sintamos, que presenciamos a sua presença, principalmente nos sacramentos. Aqui cabe a consideração clara de respeito a esta necessidade de termos imagens e símbolos de veneração, pode não ser uma estátua, ou um ícone, mas são objetos sagrados que nos conectam com o Deus, que não está, nem é este objeto.
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