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Você tem fome de quê?
“Graça e paz, da parte daquele que era que é e que sempre será!”
Prezada Comunidade, irmãos e irmãs em Cristo.
Um rock composto por Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto, intitulado “Comida” iniciava dizendo:
Qual é a fome que nos traz aqui? Qual é a sede que nos traz aqui? O que nós queremos de Jesus? O que nós queremos da Igreja? O que nós queremos da vida? (fazer breve silêncio para as pessoas pensarem).
Havia uma grande multidão que seguia Jesus onde quer que ele fosse. O que buscava esta multidão? O que queria esta multidão? Depois da multiplicação dos pães, quando Jesus alimento 5.000 pessoas com cinco pães e dois peixes, a multidão só aumentou. Esta multidão erra carregada atrás de Jesus pelas suas muitas necessidades; fome, sede, doença, medo, miséria.... e muitos milagres Jesus tinha feito. Quando da multiplicação dos pães Jesus os viu como “um rebanho sem pastor” e teve compaixão deles.
Qual era a fome que os movia? Qual era a sede que os empurrava?
A população de Cafarnaum, bem como de quase toda a Palestina era de uma pobreza bastante grande, ao que se acrescenta a exploração do império Romano, com seus impostos extorsivos. Todo este povo estava sem assistência nenhuma. Tendo como preocupação maior a sobrevivência. Jesus parece ser a última esperança. Nele e em seus milagres este povo vê a solução para seus problemas mais prementes e urgentes. Jesus é a solução para tudo que é negado pelos governantes e pelo sistema. É desta preocupação tão natural ao ser humano que Jesus se refere quando pergunta pelo pão que o povo procura. A busca pela sobrevivência é o que nos coloca no mesmo nível dos animais. Não é pra menos que Jesus chama a multidão de “rebanho sem pastor”. Aliás, quando Jesus se reporta a esta questão como em Mt 6, quando fala de nossa ansiedade pela sobrevivência, coloca que os animais e as plantas se encontram, muitas vezes, em um patamar superior, pois vivem na certeza de que Deus provê.
Na busca pela sobrevivência e por ter a necessidades atendidas a multidão não se iguala aos animais apenas, mas também perde a sua noção do outro.
O que queria a multidão? Alguns queriam que Jesus continuasse os alimentando, dando o pão de cada dia e a cada dia; outros buscavam o linimento para as diversas doenças e dores e outros queriam tão somente acompanhar o espetáculo dos muitos milagres. Pão e circo!
Jesus não condena por esta busca, ela é essencial para a sobrevivência do indivíduo. Seus milagres e sinais atendiam esta solicitude pela sobrevivência, seja curando leprosos, portadores de deficiência, possessos ou alimentando 5.000 pessoas famintas. O que Jesus faz é alertar que para haver humanidade, ou semelhança com Deus, é preciso muito mais.
Jesus chama a si mesmo de “pão da vida” em que quer dar muito mais do que solucionar problemas momentâneos de indivíduos, Jesus quer dar vida “e vida em abundância”. Isto significa que quer auxiliar na sobrevivência, sim, mas quer que as pessoas também busquem mais.
Assim como ao se alimentar do pão, cujas vitaminas passam a fazer parte de nosso corpo, assim se alimentar do “pão da vida” também toma conta de nosso corpo, passa a fazer parte de nosso ser. “Já não sou eu que vive, mas Cristo que vive em mim” disse Paulo. Jesus propõe, além da busca por pão, a busca que é do próprio Deus, a busca por Vida, no sentido mais amplo da palavra e vida para todos!
Olhando para o nosso viver, descobrimos que nos encontramos na mesma situação do povo em Cafarnaum. Vivemos na maior parte em uma ansiosa solicitude pela vida. Nós mesmos costumamos dizer que vivemos correndo atrás da máquina! Que não vivemos, mas apenas sobrevivemos. Vivemos carregados de ansiedades pelo dia de hoje e pelo de amanhã, mas qual é a sede que nos move? Qual é a fome que nos movimenta? O que dá sentido a nossa vida no dia-a-dia?
O corre-corre diário também tem tirado a humanidade das pessoas. Andamos junto com o rebanho, mas é um rebanho sem pastor. Vivemos na busca ansiosa pela vida, mas esquecemos de viver. “Quem quiser ganhar sua vida, perdê-la-á”, disse Jesus. Jovens correm atrás da vida em um hedonismo desenfreado, de festa em festa, de boate em boate; adultos correm atrás do dinheiro para ter um padrão de vida inalcançável; idosos correm atrás da saúde perdida na juventude e na idade adulta. Qual são a sede ou a fome que nos movimentam?
Qual é a sede que nos trás às igrejas ou as inúmeras religiões concomitantes?Onde se participa de duas ou mais religiões, com confissões aparentemente excludentes? Alimenta a nossa sede e fome a participação clubista nas comunidades? Será que a busca por batizado, confirmação, casamento e sepultamento, é só o que eu preciso da igreja?
Na vida social nos acomodamos em receber os nossos direitos públicos, mas não queremos nos envolver com a transformação de um país de um mundo onde se podem colocar sinais do Reino de Deus.
Jesus chama para trabalhar “não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna”. Esta é sede que nos movimenta, esta é a fome que nos empurra e não nos damos conta. Muito mais do que viver, precisamos vida plena, em abundância, por completo. Jesus se apresenta como o “pão da vida”, o pão que alimenta muito mais do que o corpo, que atinge os nossos mais profundos anseios. Deixar-se alimentar por este pão devolve-nos a humanidade, retira-nos da bestialidade da sobrevivência e faz-nos ver o rebanho como um todo. O amor de Jesus, sua morte e ressurreição, nos fazem descobrir que a vida é muito mais do que comer, beber e morrer. Ele nos mostra sinais de reino de Deus, onde o próprio Deus se coloca como nosso pastor e nos concede vida.
Buscar a Jesus pelo pão da vida é poder dizer também as outras palavras da poesia de Arnaldo Antunes.
a gente não quer só comida,
a gente quer comida, diversão e arte.
a gente não quer só comida,
a gente quer saída para qualquer parte
a gente não quer só comida,
a gente quer bebida, diversão, balé.
a gente não quer só comida,
a gente quer a vida como a vida quer.
a gente não quer só comer,
a gente quer comer e quer fazer amor.
a gente não quer só comer,
a gente quer prazer pra aliviar a dor.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer dinheiro e felicidade.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer inteiro e não pela metade.
bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de quê?
você tem fome de quê?
a gente quer comida, diversão e arte.
a gente não quer só comida,
a gente quer saída para qualquer parte
a gente não quer só comida,
a gente quer bebida, diversão, balé.
a gente não quer só comida,
a gente quer a vida como a vida quer.
a gente não quer só comer,
a gente quer comer e quer fazer amor.
a gente não quer só comer,
a gente quer prazer pra aliviar a dor.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer dinheiro e felicidade.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer inteiro e não pela metade.
bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de quê?
você tem fome de quê?
Que nossa fome e sede nos levem sempre a buscar este pão da vida
Amém
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