Monday, November 02, 2009
Finados - Gottfried Bakemeier
Reflexão em Marcos 5:21-24, 35-43
Frente à morte toda esperança acaba. É o que a experiência humana ensina. Quando uma pessoa chega ao pronto socorro já sem vida, não há mais nada a fazer. Os recursos da medicina chegaram ao fim. Assim pensa também o povo que acompanha Jesus em sua trajetória pela Galiléia. Vejamos a história que esse texto do evangelho de Marcos nos conta. Jesus é procurado por certo homem, chamado Jairo, um dos chefes da sinagoga, portanto pessoa ilustre. Ele cai aos pés de Jesus e pede que vá à sua casa. Sua filha, de doze anos, está gravemente enferma. Jairo está angustiado, insiste em pressa, quer que Jesus chegue a tempo para curar o mal da filha e arrancá-la das garras da morte. E Jesus vai com ele. Mas ele se atrasa, e quando finalmente chega, a filha já morreu. Gente da casa de Jairo vai ao encontro de Jesus e comunica o falecimento. Ai que dor! Agora já não mais há possibilidade de cura. Agora só resta o luto. Por isto o pessoal diz a Jairo: Desiste de incomodar o Mestre. Tudo está perdido. É a voz da resignação. Frente à morte toda esperança acaba. Mas aí é que eles se enganam. Jesus não dá atenção às palavras daquela gente. Pelo contrário. Ele tenta dar ânimo a Jairo com as palavras: "Não tenha medo; tenha fé." A fé não capitula diante do poder da morte. Continua crendo, teimando, resistindo. A morte é forte, sim. Não há poder igual a ela. E toda tecnologia humana, toda ciência, todas as artes se mostram ineficientes quando se defrontam com a força arrasadora dessa inimiga da vida. Apesar das assombrosas conquistas da medicina moderna, ela tem na morte barreira intransponível. Nós não conseguimos ressuscitar a quem faleceu. Quem morreu já era. Finados não voltam jamais, algo muito doloroso quando sofremos sob a perda de pessoas queridas. A morte é cruel. Mesmo assim, a fé não se dá por vencida. Jesus diz a Jairo: "Não tenha medo; tenha fé." Pois é! Será que fé adianta mesmo? Será que vai fazer alguma diferença? Que é que devemos crer? Que significa ter fé no caso de Jairo? Ora, Jesus mesmo dá a resposta. Ele entra na casa do chefe da sinagoga, onde familiares e amigos choram e estão em pranto. A situação em torno da menina morta é tumultuada. E a primeira coisa que Jesus diz é: Parem de gritar. "A criança não está morta, mas dorme." Eu imagino que num primeiro momento se fez um grande silêncio. Que foi que este homem disse? A menina não morreu? Ela só adormeceu? Isto é ridículo! Nós bem conhecemos os sintomas da morte. Também não se trata de coma. A menina morreu mesmo. Nós bem sabemos distinguir entre a morte e o sono. Este homem está delirando. E começaram a caçoar de Jesus. Riam-se dele. Acontece, porém, o imprevisto. Depois de botado todo mundo para fora e ficado somente com os pais da criança e seus discípulos, Jesus toma a mão da menina e diz: "Talita cumi", o que significa: "Menina, levanta-te." E ela se levantou e, para o espanto de todos, começou a andar. Jesus calou a boca dos que antes tinham zombado dele, e certamente provocou o júbilo de Jairo e de sua esposa. Lágrimas foram transformadas em riso. O luto cedeu espaço para a alegria. O poder de Jesus é superior ao poder da morte. É inútil especular sobre como Jesus conseguiu reavivar a menina. Todas as explicações científicas fracassam. Mas quer me parecer que isto é secundário. Importante mesmo é a mensagem contida nesta história. E ela diz: "A morte não é todo-poderosa." Ela encontra seu limite em Deus, de quem Jesus é representante. Deus é capaz de ressuscitar mortos e de devolver vida. Verdade é que a filha de Jairo voltou a morrer. Ela foi reavivada, não propriamente ressuscitada. Vários anos depois ela morreu de novo e foi sepultada, aguardando a ressurreição para a vida eterna. Nós não temos nenhum registro dizendo que ela viveu para sempre. Ressurreição é outra coisa do que reavivamento temporário. Quem de fato ressuscitou, não morre nunca mais. E, no entanto, o reavivamento desta moça é sinal do poder que Deus tem sobre a morte. Realmente, para ele os mortos estão como que dormindo. Não se foram para sempre. Caíram num sono, do qual Deus vai despertá-los para nova vida. Prezada comunidade! Hoje é o dia dos finados. Lembramo-nos de um modo muito especial das pessoas que nos deixaram e já não estão conosco. E é bom que o façamos. Vamos ao cemitério para levar flores e expressar assim o nosso carinho. Não, não podemos simplesmente esquecer os nossos entes queridos levados à sepultura. Não podemos ficar apáticos. Somente gente fria, sim, eu quase diria "desumana", não se importa com os familiares falecidos. Luto é um sentimento profundamente humano. Não precisamos envergonhar-nos dele. Pelo contrário, ele é um sinal de amor. Quem de fato amou a pessoa falecida não pode apagar a memória e fazer de conta como se ela nunca tivesse existido. A lembrança é dolorosa, sim. Pessoas falecidas deixam um vazio nas nossas vidas. Fazem com que nos sintamos mais sozinhos, às vezes até mesmo abandonados. A morte nos faz sofrer. Mas aí vem Jesus e diz: "Não tenham medo, tenham fé!" Ele disse essas palavras a Jairo, ele as diz também a nós. Jesus nos consola. O cemitério é lugar de memória, sim, mas ele não é a estação final. Todos os caminhos levam à sepultura, mas não terminam aí. Existe gente que não o acredita. Continua convicta de que frente à morte toda esperança acaba, muito à semelhança da multidão que acompanhava Jesus naquela época. Ora, nós não cremos na morte. Cremos em Deus, o criador de céus e terra. Ele ressuscitou Jesus no dia da Páscoa, e vai ressuscitar também a nós no último dia. O destino do ser humano não é o nada, a destruição, a aniquilação. Seu destino é a vida, a vida eterna, a vida junto a Deus. Por isto somos tristes, sim, quando a morte bate à nossa porta e ceifa nosso pai, nossa mãe, nosso filho, nossa filha, o esposo ou a esposa ou quem quer que seja. E quando vamos ao cemitério sentimos uma dor em nosso peito e uma grande saudade. No enterro nós choramos e às vezes até mesmo nos revoltamos. Tudo isto é natural. Mesmo assim não precisamos desesperar. É isto que o texto para a pregação de hoje afirma. "Talita cumi" - estas palavras transformaram a vida de Jairo e de sua família. Fizeram a menina morta levantar-se e devolveram a alegria àquela casa. É esta a promessa que Deus tem também para nós, bem como para os mortos de que hoje nos lembramos. Onde estão as pessoas que partiram desta vida? É muito comum uma criança querer saber o lugar, onde está a avó falecida. Para onde foi o irmãozinho que morreu? Foram para o céu, sem dúvida. Melhor é responder que estão nas mãos de Deus. Quando tento imaginar o céu tenho diante de meus olhos exatamente isto, a saber, duas grandes mãos que acolhem e protegem. Nas mãos de Deus estamos bem guardados, já não mais ameaçados, livres de tudo o que nos amedronta. Por isto não precisamos ter medo. Jesus nos chama à fé. Amém.
P. Gottfried Brakemeier
Nova Petrópolis, RS, Brasilien
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IrmãoS!
ReplyDeleteVisitando, prestigiando e gostando das postagens.
Abraços em Cristo e Paz!
Danilo
http://www.genizahvirtual.com/