Os documentos publicados hoje no sítio do WikiLeaks na internet revelam que a embaixada dos Estados Unidos no Brasil comunicou a Washington que o governo brasileiro recusou presos de Guantánamo como refugiados em 2005. A razão da recusa é que seria impossível receber como refugiados presos que não tivessem esse status no país que solicita a transferência.
Antonio Carlos Ribeiro
Brasília, sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
A reação do funcionário americano tenta ridicularizar o Brasil diante da proposta “de pagar uma viagem a Guantánamo”, a prisão ilegal em Cuba onde prisioneiros foram torturados e mortos por suspeita de terrorismo. Os documentos revelam que ao não poder atribuir o status de refugiados aos prisioneiros de guerra, o governo dos EUA desejou dividir com o Brasil parte da crise do desrespeito aos direitos humanos, por eles criada.
Ao noticiar o fato, a Folha de S. Paulo defende os EUA e sua tentativa de se livrar do escândalo, acusando o governo brasileiro de não aceitar refugiados. A mania de dar ordens e serem atendidos esbarrou na diplomacia brasileira. A embaixada americana informou que o Brasil “não pode aceitar imigrantes de Guantánamo porque seria ilegal designar como refugiado alguém que não está ainda em solo brasileiro”, disse o telegrama do embaixador americano, John Danilovich.
A Folha tentou achar conflito na decisão do governo brasileiro por não ter colaborado na solução do problema que o presidente Obama herdou do governo Bush, apelando à subalternidade dos governos brasileiros anteriores. Para a Folha, “a recusa brasileira relatada pelos norte-americanos contrasta com declarações públicas de integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, quando na verdade o Brasil se recusou a atenuar o escândalo dos crimes praticados.
Mesmo a Folha sabendo que “a prisão usada pelos EUA em Cuba recebeu centenas de pessoas capturadas pelos norte-americanos depois dos atentados do 11 de setembro de 2001”, e que muitos “dos detidos não eram de fato relacionados aos ataques”, defende hoje a iniciativa americana de apelar ao Brasil, cujos governos sempre disseram sim.
A simulação da postura humanitária ficou exposta ao argumentar que devolver os injustamente torturados “aos seus países acabou ficando inviável, pois não havia segurança de que estariam a salvo em suas localidades de origem”. O jornal paulista sequer considerou a responsabilidade dos EUA de receberem “esses ex-presos na condição de refugiados”.
O presidente Lula disse que os telegramas "desnudam" a tese de que os americanos são superiores a outros países. É compreensível que queiram deixar a sujeira para que alguém limpe e tenham dificuldades com quem não coopera. Mas, pior que isso, é que as informações do WikiLeaks expõem o perfil entreguista da imprensa, especialmente quando o assunto é provocar desgastes no governo do seu país.
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