Temos
vivido um turbilhão de acontecimentos a cada ano que passa: O terremoto
devastador no Haiti (2010). As enchentes e catástrofes no Espírito Santo (2013).
A onda de refugiados que busca acolhida na Europa, devido às guerras e o
terrorismo. Os desmandos na política brasileira e o lava-jato. Os atentados
terroristas pela África e Europa (recentemente na França, com atentados
descentralizados que levou à morte mais de 120 pessoas). A perseguição e decapitação
de cristãos em países islâmicos e, atualmente, a crise hídrica no Espírito
Santo e outros Estados do País.
No
Espírito Santo é sintomático o sofrimento da agricultura com a falta d’água. Rios
secando, queimadas em grande porte, vegetação e animais aquáticos e terrestres morrendo.
Difícil contabilizar os prejuízos no ecossistema, especialmente na agricultura,
com a perda das lavouras de cafés e outras plantações, seguida pelo
endividamento das pessoas.
O
Rio Doce (5ª maior bacia hidrográfica
brasileira) vem enfrentando uma das piores secas dos últimos 70 anos. Além
do assoreamento, ainda em setembro/2015, foi registrado uma lâmina d’água de 10
cm de profundidade em alguns pontos (Agência Nacional de Águas). Como se não
bastasse a falta de chuvas, perplexos vemos sendo dizimada o que restou da
biodiversidade castigada, devido uma das maiores tragédias ecológicas que nos
abate.
O
rompimento das barragens de dejetos de minério de Fundão e Santarém, ocorridas
em Mariana/MG, pertencente à mineradora Samarco (empresa da Vale e da
mineradora anglo-australiana BHP Billinton), jogaram em torno de 25 mil
piscinas olímpicas de lama no Rio Doce. Esta lama, que retirou o vilarejo de
Bento Rodrigues/MG do mapa, ceifando algumas vidas, vem descendo por vários municípios
de Minas Gerais até o Espírito Santo.
Na
bacia do Rio Doce, todo o ecossistema (vegetação, animais) que a lama encontra
pelo caminho é sufocado e dizimado (Análises se contradizem, alguns dizem que a
água lamacenta contém areia e óxido de ferro, outros sugerem a presença de mercúrio,
alumínio, ferro, chumbo, boro, bário, cobre, entre outros). Com isso, ficou
comprometido o abastecimento de água de mais de meio milhão de pessoas das
cidades de Governador Valadares, Baixo Guandu, Colatina, Linhares e pequenos
povoados adjacentes. Em Colatina, vemos pessoas desesperadas estocando água. O
comércio explorando na venda de água mineral. Helicópteros voando a toda hora.
A presença do exército, carros-pipas e caixas d’águas em prontidão. À margem do
Rio Doce, a operação “Arca de Noé” já entrou em ação para salvar algumas
espécimes de peixes.
Segundo
informações de alguns órgãos ambientais, pode-se estender por um período de 100
anos a recuperação do Rio Doce. As empresas envolvidas fizeram declarações de
solidariedade e propuseram ações para mitigar o impacto do desastre, mas pouco convincentes
e esperançosas. Ações ocorrem ao lado de pressões, multas e sanções judiciais e
governamentais ou através das mobilizações sociais e organizacionais. Até
então, a Samarco não apresentou um plano nitidamente esclarecedor e emergencial
a respeito da salvaguarda da vida do rio que tranquilize as populações
envolvidas. Enquanto isso, a lama vem seguindo o seu curso.
A
degradação do ambiente, o desrespeito à vida do ecossistema e as consequentes
catástrofes, veem da insensatez e da sede pelo poder do ser humano. Na corrida
pelo lucro, não há constrangimento e espaço para consternação ao ver um
amontoado de lama destruindo casas e vidas. São escassas as lágrimas num
coração corrompido pela ambição, mesmo diante da extinção da fauna aquática que
tem sido sufocada pela crosta de lama. Para uma multinacional, o que chorar
diante de um rio que está morrendo ou diante de peixes e variados animais
saindo da água para tentar sobreviver? Por isso, urge cantar: Kyrie Eleison.
O
que lhes importa é exaurir todos os recursos da vida, custe o que custar. Isso
é o que experimentamos na insensibilidade humana, que nunca se cansa em esgotar
todos os recursos naturais do planeta, destruindo-o desordenadamente. Essa
insensibilidade também experimentamos, tanto agora nesta catástrofe no Rio
Doce, como também na extração de granito que se dissemina no Espírito Santo.
Enquanto
a tragédia segue, nas redes sociais, o fanatismo fala de punição divina e
sinais do fim do mundo. Isso é fruto de uma visão fundamentalista e apática de
pessoas que sempre optam pelo conformismo e em omitir-se diante da
responsabilidade frente à degradação da natureza. O fanatismo esquece que somos
cuidadores da criação. Todo dano e catástrofe são frutos da ganância humana.
Somos culpados diante de Deus quando retiramos da criação o direito de vida.
Teremos que explicar a Deus os nossos atos, pois destruir a vida é pecado.
O
ser humano, ao invés de colocar-se ao lado da criação, para cuida-la, acha-se
superior a ela. Ao separar-se da criação, ele a desvaloriza, iludindo-se que
pode usar e explorar dos seus recursos naturais como achar necessário. A
destruição da criação leva-nos à beira da extinção humana. A natureza não é um
bem separado da humanidade, somos dependentes do ecossistema. Sem ele, não há
como sobreviver. Quem se separa e descuida da criação, afasta-se também de
Deus.
É
preciso encarar os alertas da natureza com sobriedade. Não podemos continuar
explorando da criação se não aprendemos a cuidar dela. Claro, é preciso que confiemos
na ação de Deus. Este mundo é conduzido pelo seu amor. Mas também sejamos
responsáveis pela manutenção da vida ecológica. Pois somos todos chamados por
Deus ao pleno cuidado e preservação dos recursos naturais ofertados pela sua
criação. “Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com
dores de parto até agora”. (Romanos 8.22).
Paróquia de Colatina, Novembro/2015
P. Luciano Ribeiro Camuzi
No comments:
Post a Comment