Depois imemoriais tempos, quando na IECLB havia um
pastorcentrismo, os ministros e ministras não são pa
trões, ou chefes nas
paróquias. Ainda bem! No entanto, esta é uma questão complicada de responder
frente a situações que se colocam, como renovação do TAM, “demissão” por diretorias,
entendimento do TAM como contrato de trabalho, e por aí em diante.
Então, volta a pergunta, quem são os patrões nas paróquias?
Os que fundaram a comunidade que ainda estiverem vivos,
mesmo que tenham investido muito na fundação, não são os patrões, muito menos
os donos da comunidade – se bem que sempre tem uns que se sentem senhores
feudais e são os lordes cristãos e a comunidade ou paróquia seja seu feudo. Da
mesma forma não é patrão o conselho paroquias nem a diretoria. Também não o é a
matriarca ou o patriarca que sempre estiveram lá e sempre tiveram seu assento
na diretoria e no conselho – se não fizerem parte do conselho “eles se ofendem”,
dizem alguns. O corpo nacional da igreja, da IECLB, também não o é, ainda que
tenha uma “secretaria de pessoal”, bem como não o é o sínodo, ainda que tenha
uma pasta com a documentação de cada um dos ministros e ministras atuantes no
sínodo.
Frente ao INSS os ministros e ministras da IECLB são “equiparados
a autônomos” e como tal fazem a sua contribuição previdenciária. Já uma decisão
do STF diz:
O trabalho realizado na qualidade de Pastor possui
cunho religioso e
não constitui objeto de um contrato de emprego, pois insuscetível de avaliação
econômica, já que precipuamente destinado ao conforto e à orientação espiritual
dos fiéis, bem como à divulgação do Evangelho. Não existem interesses distintos
ou opostos, como no contrato de trabalho. As pessoas que prestam trabalho religioso fazem-no
em nome de sua fé e de sua vocação, testemunhando sua generosidade em prol da
comunidade religiosa, e não para a Igreja a qual pertencem. Também
inexistente a obrigação das partes, posto que espontâneo e voluntário o
cumprimento dos deveres religiosos, eis que o labor, nessa condição especial,
encontra-se imbuído do espírito de fé, crença e vocação, sem a conotação
material que envolve o trabalhador. Nesse sentido, a prova testemunhal e, no
tocante à remuneração, tal se constitui num fundo de amparo, necessário à
manutenção das necessidades do reclamante, para que este pudesse desempenhar as
atividades decorrentes de seu sacerdócio, o que não se confunde com a
contraprestação salarial, na verdadeira acepção do termo. TRT-3 - RECURSO ORDINARIO
TRABALHISTA RO 1989608 01134-2007-055-03-00-4 (TRT-3)[1]
Desta forma, a pergunta sobre quem é o patrão dos ministros
e ministras ainda não foi respondida.
Para começo de conversa, o patrão da igreja, na igreja, para
a igreja é Deus. O apóstolo Paulo afirma em Romanos 12.5 (“Assim nós, que somos muitos,
somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros.”) ou Colossenses 1.18 (“E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o
princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a
preeminência”) que o cabeça de tudo é Cristo. Este é o
patrão em qualquer tamanho de comunidade ou paróquia, desde comunidade que se
reúne em casa de membro até os megatemplos que reúnem milhares de pessoas em
uma única celebração, passando pela comunidade média da IECLB, que reúne uma
média de cinquenta pessoas.
Isso deveria significar um grande alívio de fardo para
presbitérios e ministros e ministras, mas não é o que se sente nas relações,
seja de presbitérios, seja de ministros e ministras, se bem que em minha
humilde opinião estes últimos nem de longe são mais patrões ou chefes, ao menos
na IECLB.
Para bem sabermos, nada é sobre nós, lideranças leigas e
ordenadas. Deus é soberano! As lideranças têm suas responsabilidades. Mais assustador
ainda é se dar conta que Deus é nosso chefe ou patrão – de presbitérios e
ministros e ministras – e somos conjuntamente responsáveis, seja pela igreja,
seja pela criação. O patrão, o chefe, em última instância é Deus, e este patrão
quer ver sua igreja, também na figura de ministros e ministras e presbitérios,
fazendo o bem, cumprindo a Sua vontade suprema de levar e produzir vida em
abundância (Jo 10.10). Deus instituiu a igreja, nesta são instalados conselhos,
presbitérios, lideranças e ministros e ministras para fazerem e liderarem no
cumprimento da vontade e das ordenanças deste chefe supremo. Deus escolheu a
igreja, Deus escolheu lideranças leigas! E o seu mandamento é tão somente “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. ” (J0 15.12b).
Deus, como patrão, é não só bondoso, é misericordioso.
Nosso problema é consultar nosso chefe!
Ignorar a oração e a leitura das escrituras é como ir ao
trabalho e nunca ler qualquer dos memorandos enviados pelo chefe, e nunca
assistir a qualquer das reuniões de pessoal. A gente não pode saber o que Deus
quer para a Igreja, a menos que se ouça o que Deus está dizendo. Parece
simples, ou simplista, mas todos os líderes, repito TODOS, têm problemas com a
oração e a vida devocional. Precisamos encorajar uns aos outros nisso. Isto,
para mim, pode ser a principal coisa que eu acho que os colegas no ministério e
presbitérios precisam se concentrar.
As lideranças, ministeriais e presbitérios, precisam apontar
às pessoas para Deus que é realmente responsável.
Muito do trabalho das lideranças na igreja pode ser dirigir a
membresia para consultar e queixar-se ao chefe real. Nós, como lideranças
precisamos ser destemidos em direcionar as pessoas a orar sobre as preocupações
que eles trazem para nós. A gente pode encorajar as pessoas a levantar qualquer
queixa a Deus, e então ouvir a resposta de Deus. Em seguida, incentivar as
pessoas a voltar para a gente com o que ouviram. Isto pode parecer um pouco
piegas, mas muitas vezes é o que nos falta como liderança.
Certamente algumas pessoas abusarão disto, e lideranças
muito mais, e sempre virão com uma palavra do Senhor para a qual eles acreditam
que todos nós devemos aderir, afinal, com a palavra de Deus não se discute! É
aqui que precisamos de um discernimento comunitário orante. As lideranças,
leigas e ordenadas, ou quem quer que sejam os principais líderes, precisam ser
uma comunidade de oração, de modo que quando uma queixa surge, eles também orem
sobre isso. A gente não vai sempre obter respostas rápidas desta forma. No
entanto precisamos aprender a parar, dar pausa, desacelerar e a desaceleração é
boa, porque ajuda a gente a ouvir mais cuidadosamente a Deus.
A peneira Espiritual
Algumas pessoas conseguem ouvir o seu encorajamento ou
instrução da liderança, seja leiga ou ordenada, para orar e meditar sobre as
questões para que sejam realmente levadas à sério. É preciso tentar
assegurar-lhes que pedir-lhes para orar e meditar é levar a questão muito à
sério. É preciso mostrar ao presbitério e ao ministro ou ministra que isso não
é uma maneira de eliminá-los, é uma maneira de garantir que eles estão
enfrentando a queixa ou o problema de um ponto de vista espiritual. É uma
maneira para todos nós chegar na mesma página, porque Deus pode mudar situações
e corações quando eles precisam ser mudados.
Será que qualquer de nós, como líder, também consegue orar
sobre os problemas paroquiais? Absolutamente, e orar também pela pessoa que trouxe
o problema. Mas não devemos deixar que nossas queixas e questões pessoais dominem
nossas próprias orações, ou dominem nossa tomada de decisão a partir da oração.
Temos nossos preconceitos e nossa própria agenda ideológica e cultural
Sempre existe a liderança, leiga ou ordenada, autocentrada e
a propagação de rumores mil.
Muitas vezes os líderes da Igreja são reacionários às
queixas, ou levam adiante seus egos. Os líderes precisam ver quando as questões
estão apenas focadas em si mesmos, sua própria experiência da Igreja, suas
próprias necessidades, nas suas próprias agendas. Dirigir-lhes a Deus, à
palavra, em vez de simplesmente atender às suas necessidades imediatas, é a
tarefa de toda a liderança da Igreja.
Pedir às pessoas que levem suas queixas e preocupações a
Deus, em culto, em meditação, em oração, também lhes ensina que Deus é a melhor
pessoa para conversar, ao invés de espalhar rumores, fofocas, ou queixar-se à
família e aos amigos.
Por que então não buscamos à Deus, como lideranças?
Os presbitérios e ministros e ministras são culpados de não
levar suas queixas a Deus também. Os líderes da Igreja, muitas vezes, e mais do
que qualquer outro membro da igreja, não se comportam como se Deus estivesse no
comando.
Então, por que é que quando nós (qualquer um de nós!) temos
um problema na paróquia, ficamos relutantes em buscar aquele com autoridade
suprema? Talvez seja porque em algum lugar no fundo sabemos que Deus pedirá
algum tipo de mudança pessoal de nós. E muitas vezes as nossas proposições,
seja de ministros ou ministras, seja presbitérios, são tentativas veladas para
que os outros mudem de acordo com nossa agenda e vontade, por isso não devemos
de o fazer. Deus, por outro lado, está transformando todos nós.
O patronato na Igreja é o enjaulamento do Evangelho. A gente só vê o que está na jaula e não o que está no coração.
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