Night blessing crafted in the style of Luiz Fernando Verissimo.
A blend of his characteristic wry observation, gentle irony, and profound simplicity. A homageto this special writer.
So, the day is closing its doors, turning the open sign to closed. The great accounting of hours is almost done, and the soul, that tired accountant, begins to tally the gains and losses.
We spent the day, of course, collecting. We collected worries, which are very light to acquire but become incredibly heavy to carry by afternoon. We collected a few likes, a few resentments stored in the secret drawer, the vague anxiety of an unanswered message. We collected promises we don't know if we can keep and expectations that others certainly won't. We piled it all up in the vault of the ego, that shaky financial institution that can crash with a single piece of bad news.
The preacher last Sunday, talking about that gentleman from Tarsus who had a lot to boast about, reminded us of the great exchange: the profit-and-loss sheet of life. He spoke of considering it all skubalon – a strong word for rubbish – compared to the surpassing worth of knowing Christ. It's about realizing, in a moment of brutal clarity, that you've been polishing stones your whole life, thinking they were jewels, while the real treasure is something else entirely. Something that can't be stolen by moth, rust, or the stock market's bad mood. As the Nazarene pointed out, your heart will always be there, in the uncomfortable company of whatever you've chosen as your treasure. A frightening truth.
So, tonight, let's do a little inventory. A small spiritual garage sale.
Those lowly men you placed your trust in today, and who inevitably disappointed because they are, well, lowly men – just like you!? A breath, a vapor, as the poet king said. Lighter than a sigh on the scale of what truly matters. You can let them go. Return to sender.
The treasures you stored in the insecure cloud of vanity? The need to be right, the polished image, the accumulated reason? Consider them… depreciated assets. Write them off.
May your heart, that stubborn pilgrim who insists on following its treasure, tonight find itself not in the stock exchange of appearances, but in the quiet, unshakeable kingdom of grace. May it rest in the simple, scandalous, and surpassing value of simply being known and loved. That is the only currency that doesn't devalue and the only treasure that, strangely, the more you give it away, the more you have.
And thus, lightened of the weight of what doesn't matter, may you press on. Not because you have strength, but because you have been found by a strength that is not your own.
Good night. And may your rest be a small, daily practice of eternity.
Bênção noturna elaborada no estilo de Luiz Fernando Verissimo.
Uma mescla de sua característica observação sagaz, ironia gentil e simplicidade profunda. Uma homenagem a este escritor especial.
Capturar o espírito do Verissimo é um exercício delicioso – é pegar o cotidiano, dar uma leve torcida de ironia para extrair o suco da verdade, e depois servir com um lado de ternura despretensiosa. Um equilíbrio fino entre o observador no boteco e o filósofo no banco de praça.
Então, o dia vai fechando as portas, virando a placa de aberto para fechado. O grande balanço de horas está quase fechado, e a alma, aquela contadora cansada, começa a calcular os ganhos e as perdas.
Passamos o dia, claro, colecionando. Colecionamos preocupações, que são muito leves de adquirir mas ficam incrivelmente pesadas de carregar à tarde. Colecionamos alguns likes, alguns ressentimentos guardados na gaveta secreta, a ansiedade vaga de uma mensagem não respondida. Colecionamos promessas que não sabemos se vamos cumprir e expectativas que os outros certamente não vão. Empilhamos tudo no cofre do ego, aquela instituição financeira instável que pode quebrar com uma única notícia ruim.
O pregador no domingo passado, falando daquele senhor de Tarso que tinha muito do que se gabar, nos lembrou da grande troca: o demonstrativo de lucros e perdas da vida. Ele falou em considerar tudo skubalon – uma palavra forte para lixo – em comparação com o valor supremo de conhecer a Cristo. Trata-se de perceber, num momento de clareza brutal, que você passou a vida toda polindo pedras, pensando que eram joias, enquanto o verdadeiro tesouro é outra coisa completamente diferente. Algo que não pode ser roubado pela traça, pela ferrugem ou pelo mau humor da bolsa de valores. Como apontou o Nazareno, o seu coração vai estar sempre lá, na companhia incômoda daquilo que você escolheu como seu tesouro. Uma verdade assustadora.
Então, nesta noite, vamos fazer um pequeno inventário. Uma venda de garagem espiritual.
Aqueles homens de pouca importância em quem você depositou sua confiança hoje, e que inevitavelmente decepcionaram porque são, bem, homens de pouca importância – assim como você!? Um sopro, uma vapor, como disse o poeta rei. Mais leves que um suspiro na balança do que realmente importa. Você pode deixá-los ir. Devolva ao remetente.
Os tesouros que você guardou na nuvem insegura da vaidade? A necessidade de ter razão, a imagem polida, a razão acumulada? Considere-os… ativos depreciados. Dê-os como perdidos.
Que o seu coração, esse teimoso peregrino que insiste em seguir o seu tesouro, esta noite se encontre não na bolsa de valores das aparências, mas no quieto e inabalável reino da graça. Que ele descanse no valor simples, escandaloso e supremo de simplesmente ser conhecido e amado. Essa é a única moeda que não se desvaloriza e o único tesouro que, estranhamente, quanto mais você o doa, mais você tem.
E assim, aliviado do peso do que não importa, que você prossiga avante. Não porque você tenha força, mas porque você foi encontrado por uma força que não é sua.
Boa noite. E que o seu descanso seja uma pequena prática diária da eternidade
No comments:
Post a Comment