Tuesday, September 11, 2012

Faroeste Caboclo em Teófilo Otoni.


Mais uma história de Teófilo Otoni, contada pela Cláudia!

 Faroeste Caboclo em Teófilo Otoni.

        Como já relatei anteriormente, Teófilo Otoni é uma cidade de 133.000 habitantes e carente de muitas coisas entre elas o  laser. Não existem opções gratuitas de diversão. Um dos poucos eventos existente é o desfile cívico de sete de setembro, que coincide com o aniversário da cidade. Em 2010 são 159 anos de fundação.

        Aqui existe uma tradição muito forte, que são as Fanfarras das escolas municipais e estaduais.

        A maioria das escolas tem sua Fanfarra, e para fazer bonito no dia do desfile, os ensaios já iniciam no mês de março. Existe até uma certa competição entre elas, cada qual quer chamar mais a atenção do público. Os meninos fazem cortes de cabelo especiais, alguns até pintam os cabelos, as meninas todas produzidas e maquiadas. Isso sem falar dos malabarismos que o pessoal da bateria faz com as baquetas, algo digno do grupo Olodum.

        Esse ano o dia 7 de setembro amanheceu especialmente ensolarado, anunciando grandes expectativas, para o grande desfile, pois afinal envolve centenas de alunos e milhares de expectadores.

        E foi assim com esse espírito cívico, que eu e o Armin acordamos cedo e fomos assistir o grande espetáculo. A Fernanda como boa adolescente que é, preferiu  ficar dormindo.

        Enfim chegamos cedo na praça, escolhemos um bom lugar na sombra, com uma visão ampla da avenida. o público era muito grande, famílias com crianças, idosos, alguns mais precavidos com seus banquinhos ou tamburetes como chamam por aqui. Por ser ano eleitoral muitos candidatos realizando uma ampla distribuição de santinho, até bonecos gigantes da Dilma e do Lula. Tudo muito colorido.


        Terminados os tradicionais discursos, tem inicio o desfile. Público ansioso, crianças inquietas procurando o melhor ângulo de visão.
        Ao nosso lado chamou a atenção uma família, composta de pai, mãe e cinco crianças, a mais velha deveria ter uns 10 anos. O que chamou mais atenção é que se tratava de uma família humilde, provavelmente usuários da Bolsa Família, porém as crianças estavam bem arrumadas demonstrando o capricho da mãe, meninas de cabelo preso e devidamente enfeitado com acessórios, meninos de cabelos bem cortados. Aquela altura o pai já  havia providenciado um lanchinho para a galera: 2 litrões de refri( uma Fanta e um refri UAI, que só existe aqui em Minas) e alguns pacotes de salgadinho.


        Enfim o desfile, a abertura feita pelo exército, militares do tiro de guerra marchando perfilados, com seus coturnos muito bem encerados. A seguir a Brigada Militar com seus uniformes impecáveis. Um show a parte, o pelotão feminino, com seus cabelos presos por um coque, maquiagem discreta, algumas muito jovens, demonstrando a força da participação das mulheres em todos os setores da sociedade.


        A equipe do GATE (Grupamento Tático Especial) levou o público ao delírio com uma demostração de sua ação em plena avenida, trajando seus uniformes e armamentos completos, semelhantes a Ninjas modernos.
Logo atrás vinha a polícia ambiental com seus chapéus canadenses, SAMU, Corpo de Bombeiros isso tudo ao som de sirenes das viaturas impecavelmente limpas e enceradas.

        Tudo transcorria normalmente, soldados satisfeitos e orgulhosos, público feliz e satisfeito, até que o inesperado aconteceu. Como diz o gaúcho:  "começou o buchincho, parecia um eguedo disparando no varzedo"

        As pessoas começaram a correr, pânico generalizado, gritaria, até mesmo idosos e crianças correndo, juro que vi até gente de muletas correndo, quando consegui entender o que  alguns gritavam: "tiro, tiro, corre que é tiro!" Uma vovó atrás de min sugeriu " se joguem no chão!". 

        Olhei para o chão, olhei para a rua com aquele povo correndo para todo o lado, gente gritando, gente chorando e enfim tomei minha decisão, como boa gaúcha que sou: " Alas pucha tchê, não se assustemo", se for pra morrer aqui, vou morrer com dignidade, de pé e sem me escabelar!".  Simplesmente me segurei em uma placa de sinalização e esperei o tumulto acabar.
Muita gente se machucou durante a correria, arrebentaram cordão de isolamento, quebraram cavaletes, crianças perdidas dos pais, uma coisa impressionante.
Perguntamos á um Sargento da PM o motivo, e ele explicou que a poucos metros de nós, ali mesmo na praça, houve um acerto  de contas entre pessoas de gangues rivais, ligadas ao tráfico de drogas, deixando o saldo de um homem baleado na cabeça, que depois ficamos sabendo pelo noticiário se tratar de Eduardo, 30 anos conhecido como "chupeta". Mas a polícia agiu muito rápido e prendeu o autor do disparo (um menor de 16 anos) e  apreendeu a arma, além de prender vários envolvidos. 

        Passado o tumulto, reiniciou o desfile. Todo contingente policial presente, para garantir a segurança,  afinal todos aguardam o ano inteiro para esse dia. Desfilaram creches, grupos de idosos, mais Fanfarras  quando de repente para perplexidade, nova gritaria tumulto e correria, alguns componentes da gangue do cara baleado resolveu  atirar contra os rivais que estavam assistindo ao desfile.

        Aí não teve jeito, a Prefeita resolveu cancelar o desfile e solicitar que todos se dirigissem para suas casas. Então sem outra alternativa, voltamos para casa com toda a nossa decepção e mais uma história para contar.

        Um grande abraço a todos.