Saturday, May 18, 2019

O coala está extinto.



 Coala. Foto: worldswildlifewonders / Shutterstock.com

Esta semana vi, entristecido, que mais um animal foi declarado extinto. Este foi declarado extinto funcional, pois, apesar de ainda existirem exemplares, estes já não têm mais condições de recuperar o número a ponto de não se extinguir completamente. O coala, este animalzinho da foto, vem se juntar a uma extensa lista publicada pela ONU neste mês.
O coala, animal parecido com um pequeno urso de pelúcia, que se alimenta de folhas de eucalipto, vive, ainda, na Austrália. Chegou a este ponto a partir das políticas de flexibilização das normas ambientais e normas trabalhistas executadas na Austrália nos anos de 1980. Muitas destas questões das flexibilizações, principalmente trabalhistas, foram levantadas pelo grupo de rock Midnight Oil em seus discos carregados de crítica política e social, como “Diesel and Dust” – 1987, “Blue Sky Mining” – 1990, “Place without a Postcard” – 1981, “Scream in Blue” – 1992. Sobre a extinção de espécies australianas, em especial o álbum “Secies Decieses” de 1985. Além de serem músicas excelentes para ouvir, trazem uma crítica muito forte, como deve ser um bom rock.
Levanto isso quando é nos apresentado múltiplas propostas de flexibilização de direitos e normas, em favor de empresas e aglomerados econômicos, com a garantia de que tudo vai gerar ganhos e empregos. O exemplo do coala nos aponta resultado diferente do anunciado. As flexibilizações na Austrália garantiam ganho econômico, principalmente para as mineradoras, que tomaram conta da região do Autback derrubando florestas e criando imensas minas a céu aberto (blue sky mining), imensos buracos que são como feridas, junto de imensas montanhas de rejeito. Reservas indígenas dos aborígenes australianos foram desfeitas, para dar lugar às minas, e a flexibilização dos direitos trabalhistas trouxe perdas de salário com aumento de horas de trabalho – a música Beds are Burning nos conta.
As propostas de flexibilização sendo colocadas no Brasil seguem este mesmo caminho nefasto. Flexibilização das leis ambientais para se construir megalojas, para facilitar a mineração, para explorar minerais em meio a reservas indígenas e florestais, bem como para prática do “esporte” da caça e da pesca em áreas protegidas. Flexibilização dos direitos trabalhistas para que empresas tenham mais lucro e se crie um exército de desempregados e escravos. Flexibilização e desmonte da aposentadoria, para que os bancos lucrem ainda mais. Flexibilização da saúde, encaminhando para a privatização. Flexibilização e desmonte da educação, para beneficiar instituições privadas e formar trabalhadores.
Assim como na Austrália, as propostas parecem ser excelentes para os apoiadores incondicionais do governo, mas carregam dentro de si a semente da extinção. Extinção da natureza, extinção da educação, principalmente para os mais pobres, extinção de todos os direitos trabalhistas, extinção das aposentadorias.
Flexibilização, hoje, se torna sinônimo de extinção. Extinção de toda a vida como conhecemos, e do viver como direito para todos, afinal, “pobre não tem direito”, como disse Gilberto Gil  em sua crítica, “pobres são como podres”.

Para quem quer ver e ouvir as músicas e clipes do Midnight Oil: https://www.youtube.com/watch?v=V3nOnJMs7xc