Saturday, June 18, 2011

CMI repatria documentos da ditadura


Arns, Wright, Vanucchi e Eny Moreira são aplaudidos de pé

Ao chegar em Genebra, em 1978, a advogada brasileira Eny Moreira apresentou a Chuck Harper a ideia de organizar um arquivo com cópias feitas em segredo dos autos da ditadura militar no Brasil, o representante do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) ficou motivado: "Isso é possível? Podemos mesmo fazê-lo? - perguntou. Eny respondeu: “Sim, mas precisamos de apoio para o que o reverendo Jaime Wright e dom Paulo Evaristo Arns estão fazendo.”

Marcelo Schneider
quarta-feira, 15 de junho de 2011

Naquele dia começava o envolvimento do CMI num dos esforços coletivos mais complexos de resgate da verdade e da dignidade de centenas de seres humanos que sofreram abusos de um regime ditatorial.Parte desses esforços culminaram na tarde de 14 de junho, em São Paulo, no evento público de repatriação de documentos e microfilmes mantidos a salvo no exterior pelo CMI, na Suíça, e pelo Center of Research Libraries (CRL), nos EUA. Os documentos foram entregues às autoridades brasileiras para disponibilizá-los, no prazo de um ano, para consulta pública de qualquer cidadão através da internet. Essa nova interface do projeto chama-se “Brasil: Nunca Mais” Digit@l.

Por mais de quatro horas, cerca de 200 participantes reuniram-se no auditório da Procuradoria Regional da República – 3ª Região, nesta capital, para ouvir 19 oradores representando autoridades públicas, membros de órgãos governamentais, representantes de igrejas e de diversas esferas desse processo de cooperação multilateral que marcou o projeto "Brasil: Nunca Mais".

O quadro de forte apelo por justiça e verdade presentes nas falas dos vários oradores criou um ambiente reconfortante e acolhedor para o testemunho de dois ativistas ecumênicos que sofreram abusos da ditadura militar na década de 70.

O ex-funcionário do CMI, Anivaldo Padilha, da Igreja Metodista do Brasil e hoje colaborador de Koinonia - ACT Aliança, não conseguiu segurar as lágrimas, várias vezes, quando partilhou detalhes do que lhe aconteceu quando foi preso em 27 de fevereiro de 1970. Após sua libertação, Padilha foi enviado para o exílio e forçado a viver longe de sua esposa, que à época estava grávida. Padilha só veio a conhecer o filho depois da lei da Anistia, quando este já tinha 8 anos de idade.

Eliana Rolemberg era uma das amigas de Padilha presa no mesmo dia. Ela expressou seu sentimento de repulsa em relação aos abusos sofridos nas mãos violentas de seus opressores, destacando a realidade duplamente desesperadora que enfrentava: De um lado, havia o constante medo das ameaças envolvendo sua filha, ainda bebê. De outro, a dor de ver e ouvir seus amigos serem torturados. "De uma forma muito conflituosa, é mais fácil a gente ser torturada do que ver quem a gente ama sofrer esse tipo de abuso", disse. Eliana é diretora-executiva de outra organização da ACT Aliança no Brasil, a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE).

O "Brasil: Nunca Mais" Digit@l está sendo lançado num momento em que a sociedade brasileira discute a criação de uma Comissão da Verdade para revisar violações dos Direitos Humanos praticados, no passado, pelo Estado.

Um dos palestrantes do evento, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio de Janeiro, Wadih Damous, disse que o se procura hoje com a formação de uma Comissão da Verdade é trazer à tona uma luta que não prevê vingança, mas justiça.
"O direito que perseguimos é o de ver aqueles que cometeram esses crimes responderem no banco dos réus pelo que fizeram. A impunidade dos autores do passado é uma mensagem clara para aqueles que cometem a tortura hoje. As vítimas da tortura no Brasil, hoje, não são mais ativistas políticos, mas os afro-descendentes, os indígenas, as crianças e os todos os excluídos ", alertou.

O presidentes do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), dom Manoel João Francisco, e o presdiente o presidente do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), bispo anglicano panamenho Julio Murray, também tiveram a oportunidade de saudar o público presente.

Murray integrou a Comissão da Verdade do Panamá, que lidou com casos de abusos cometidos entre 1964 e 1994. Ele sublinhou o aspecto da cura que uma comissão desta natureza pode trazer: "No meio da morte e da tragédia também vemos sementes de esperança através de nossa inconformidade e mobilização", afirmou.

Referindo-se ao papel do CMI no projeto "Brasil: Nunca Mais", o procurador-geral da República, Roberto Monteiro Gurgel Santos, expressou gratidão ao organismo ecumênico internacional por ter somado esforços cruciais para a defesa e conservação do patrimônio público e de um importante capítulo encoberto da história brasileira.

Em seu discurso, o secretário geral do CMI, pastor Olav Fykse Tveit, agradeceu a todos os envolvidos nesse processo, ao mencionar os nomes de Eny Moreira, dom Paulo Evaristo Arns e do presbiteriano Jaime Wright, que trabalharam intensamente para articular o processo de cópia dos documentos em segredo e mantê-lo seguros.

Também lembrou Charles R. Harper, que atuou no CMI, de 1973 a 1992, como diretor executivo para questões de Direitos Humanos na América Latina. Harper, que vive, atualmente no Sul da França, não pôde comparecer ao evento, mas foi representado por sua neta, Nina, que recebeu expressiva ovação do público.

Ao saudar o procurador regional da República, Marlon Weichert, que trabalhou estreitamente com o CMI e o CRL preparando a transferência da documentação para o Brasil, Tveit afirmou que o evento foi além das expectativas. "Isso realmente mostrou o valor do que nós mantivemos em nossos arquivos e como é importante compartilhar a história e a realidade do que aconteceu. Também é importante ver o que acontece quando trabalhamos juntos. Os momentos que experimentamos, hoje, mostraram claramente o papel que o movimento ecumênico desempenha neste tema, oferecendo apoio e também uma estrutura para que projetos se tornem realidade", disse.

A advogada Eny Moreira foi uma das homenageadas pela Procuradoria Geral da República por seu envolvimento no projeto. Ao agradecer a homenagem, Moreira lembrou dos companheiros de caminhada e destacou o sentimento de solidariedade silenciosa dos envolvidos no trabalho.

Após o evento, o moderador do Comitê Central do CMI, pastor luterano Walter Altmann, expressou seus sentimentos, como brasileiro e como membro da liderança do organismo ecumênico. "Fiquei extremamente tocado pelo evento como um todo, pelos discursos, pelos fortes e dolorosos testemunhos que ouvimos, assim como pelos compromissos que queremos continuar a honrar. É um marco importante para o povo e a nação brasileira. Estou realmente orgulhoso do papel que o CMI desempenhou e continua a desempenhar através de sua secretaria geral ou pelo trabalho das igrejas-membro no Brasil”, afirmou.

A delegação do CMI segue em São Paulo pelo resto da semana acompanhando o econtro de famílias confessionais do CLAI e visitando iniciativas de igrejas-membro do CMI no Brasil. No último dia da visita ao Brasil, dia 19, Tveit irá pregar em culto ecumênico, a ser realizado às 10:45 na Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo.

Saturday, June 11, 2011

Ultimato afasta Ricardo Gondim


A revista evangélica Ultimato afastou o pastor Ricardo Gondim da coluna que ele assinava há 20 anos. A razão foi seu posicionamento de apoio à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que aprovou os direitos civis de pessoas com orientação homossexual.

Antonio Carlos Ribeiro
Belo Horizonte, sexta-feira, 10 de junho de 2011

“Nessa tarde, encerrou-se um relacionamento que, ao longo de todos esses anos, me estimulou a dividir o coração com os leitores desta boa revista. Cada texto que redigi nasceu de minhas entranhas apaixonadas”, escreveu o teólogo em seu blog (www.ricardogondim.com.br), ao se despedir da parte de seu público que lê a publicação.

Gondim mostrou-se compreensivo com a Ultimato, através de seus editores, “por não se sentir confortável com a minha posição sobre os direitos civis dos homossexuais”. Mas manteve a opinião de que o Estado laico “não pode marginalizar, excluir ou distinguir como devassos, promíscuos ou pecadores, homens e mulheres que se declaram homoafetivos e buscam constituir relacionamentos estáveis”.

Admitiu que os tweets postados em seu site “deixam a ideia de que sou tempestivo e inconsequente no que comunico”, mas recusou-se a reagir à acusação de humanismo, “por causa da minha resposta à Carta Capital sobre a condição das igrejas na Europa”. Humilde, mas firme, pediu “perdão a todos os que me leram ao longo dos anos”.

A Editora Ultimato tem sede em Viçosa, cidade a 225 quilômetros de Belo Horizonte.

“Quaisquer desvarios e irresponsabilidades que tenham brotado de minha pena não foram intencionais. Meu único desejo ao escrever, repito, foi enriquecer, exortar e desafiar possíveis leitores”, admitiu. “Um pedaço de minha história está amputada. Mas a própria Bíblia avisa que há tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou”, assumindo e mantendo a posição que julgou coerente com a postura evangélica.

A revista justifica sua decisão referindo-se ao Projeto de Lei 1151/95, da deputada Marta Suplicy, que em 2009 reafirmou o repúdio à homofobia e disse não ao Projeto de Lei da Câmara 122. Agora critica a “volta à cena” do PLC 122, que criminaliza a “discriminação por gênero e orientação sexual, cuja relatora é a agora senadora Marta Suplicy, que segue uma cartilha conhecida. Nada de novo, insistiu” (http://www.ultimato.com.br/conteudo/de-novo-o-pl-122-nada-de-novo).

O diretor-redator, Elben César, acrescentou que a prática homossexual é condenada pelas três religiões monoteístas do planeta: o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Reforçou que os “protestantes (este é o meu caso), enquanto esses se conservarem fiéis às Escrituras Sagradas, sua única regra de fé e prática, a conduta homossexual será considerada um desvio sexual. Mas à luz da mesma Bíblia, eu também não posso odiar o gay, a lésbica, o bissexual, o travesti e o transexual!” – disse. (http://www.ultimato.com.br/conteudo/heterossexualidade-sem-homofobia-e-homossexualidade-sem-heterofobia)

Tuesday, June 07, 2011

Paz na Criação de Deus. Peace in God's criation.


Para alcançar a paz com a criação de Deus é preciso uma mudança radical

In order to find peace with God's creation is needed a radical change.