Friday, August 13, 2010

Novo currículo para a paróquia - por Günter Adolf Wolff


A sua Proposta de Trabalho baseada nas Sagradas Escrituras:

Propõe-se ensinar o Evangelho do Reino de Deus (Lc 16.16) para fazer o povo se revoltar subvertendo a velha ordem (Lc 23.2,5), baseada na injustiça, na violência e na desordem estabelecidas pelo capitalismo, para construir a nova ordem do Reino de Deus e vai pregar e falar para o povo não se conformar com este século (Rm 12.2) (com o capitalismo) e começar a construir, a partir da fé em Jesus Cristo (Ef 2.8), junto com o povo organizado e oprimido e seus aliados, uma nova sociedade (II Co 5.17), em oposição ao capitalismo, com as características que o Evangelho do Reino de Deus propõe (At 2.42-47; 4.32-37; Mt 11.4-6; Gl 3.26-29; Gl 5.1); vai questionar e anular o sistema tributário brasileiro onde os pobres pagam mais impostos que os ricos (Lc 23.2); vai ajudar a organizar os sem terra e os filhos/as dos pequenos agricultores para lutar pela reforma agrária e por uma política agrícola justa (Mt 5.5; Lc 4.18-19; Lv 25.8-17); vai insistir com todos para estudar as Sagradas Escrituras (II Tm 4.1-4; At 17.11) em cursos e seminários e exortá-los a viver segundo o Evangelho de Jesus Cristo e não segundo as propostas do deus capital (Mt 6.19-21; Ex 32.1-8); vai insistir para se “Renegar a ideologia que dá suporte à acumulação e concentração de riqueza em benefício de minorias e em detrimento do atendimento das necessidades básicas do ser humano e da manutenção da boa criação de Deus. Renegar a adoração do capital e da religião do consumo como definidora do sentido da vida.” (Manifesto Chapada dos Guimarães); não vai “atender” só os nossos membros da IECLB (Lc 4.43), mas vai conviver com a “ralé” (Lc 6.20-21; 15.1-2) acolhendo-a de braços abertos (Lc 15.20,32) trazendo-a para dentro da comunidade, para torná-los cidadãos (Ef 2.13-22): índios, caboclos, afro-descententes, sem terra, diaristas, desempregados, sacoleiros, ambulantes, sem teto, favelados, indigentes, mendigos, meninos e meninas de rua, estrangeiros, barrageiros, ribeirinhos, soropositivos (aidéticos), drogados, prostitutas, homossexuais, travestis, lésbicas e a massa sobrante e prescindível (Lc 14.21-24; 16.19-31) de nossa sociedade.

Este pastor é estrangeiro, não é ariano de descendência alemã, nem loiro de olhos azuis; é moreno, barbudo e não sabe falar alemão; não toca instrumento musical, não sei se sabe cantar bem para puxar os hinos no culto; sempre se apresenta vestido pobremente e sempre anda com os pés sujos e suados e as sandálias empoeiradas pela caminhada por caminhos, atalhos, ruas e becos da cidade (Lc 14.21-23); gosta de uma festa e tem fama de ser “um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!” (Lc 7.34); não vai fazer o “show da fé” no culto e nem vai contar estorinhas e mensagens românticas de auto-ajuda tiradas da internet para entreter o povo acomodado e entediado que vem participar dos programas da comunidade para passar o tempo ou para cumprir com sua “obrigação religiosa” para com esta igreja que para ele, na prática, é apenas uma “Associação Cultural e Recreativa com fins Religiosos”; mas a sua proposta vai trazer a perseguição (Mt 5.10-11), a prisão (At 26.10; II Co 6.4-10), a tortura (Hb 11.35-38) e a cruz para os membros (Mt 16.24; Ap 6.9-11; I Co 1.18-25).

O perfil deste Pastor chamado Jesus:

O Novo Testamento mostra Deus tornado pessoa em Jesus de Nazaré (Fp 2.5-11; II Co 8.9) numa estrebaria fora da cidade (Lc 2.7), como pertencente à classe camponesa, palestino, galileu (Mt 21.11; Mt 26.69), vassalo, súdito e tributário de Roma (Lc 2.1-2; Lc 3.1-2; Mc 12.13-17), mas sem cidadania romana, trabalhador braçal não qualificado (tekton = carpinteiro - Mc 6.3), sem terra, empobrecido (Lc 9.58), peão, bóia-fria, bastardo (Mt 1.18-25), sem teto (Mt 17.24-27 – morava de favor na casa de Pedro), leigo, asiático, migrante (Mt 4.23-25), subversivo (Lc 23.2,5), amigo de publicanos, pecadores (Lc 15.1-2), viúvas (Lc 7.11-15), leprosos (Lc 17.12-19) e prostitutas (Lc 7.36-49), vivendo na margem da sociedade (Mc 1.45) e com os marginalizados pela Lei (Jo 9.28-34; Jo 7.49: “Quanto a esta plebe que nada sabe da lei, é maldita”.), pelo Templo (Mt 21.12-13), pela economia e pela política; tendo também, ainda por cima, como discípulos: mulheres (Lc 8.1-3; Mc 15.40-41).

“Então, os principais sacerdotes e os fariseus convocaram o Sinédrio; e disseram: Que estamos fazendo, uma vez que este homem opera muitos sinais? Se o deixarmos assim, todos crerão nele; depois, virão os romanos e tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação. Caifás, porém, um dentre eles, sumo sacerdote naquele ano, advertiu-os, dizendo: Vós nada sabeis, nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação. Ora, ele não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos. Desde aquele dia resolveram matá-lo”. Jo 11.47-53.

Você acha que o Conselho Paroquial vai convidar este pastor com esta proposta e este perfil para trabalhar na paróquia?

Que pastor/a as comunidades da IECLB querem?

Segundo o que diz, com sarcasmo, Martim Lutero: “O pregador, como o mundo agora o quer, deve ter as seis seguintes características: 1. ser erudito; 2. ter boa pronúncia; 3. ser eloqüente; 4. ter boa aparência, para ser amado pelas mocinhas e senhoritas; 5. não aceitar, mas ainda por cima distribuir dinheiro; 6. falar aquilo que o pessoal quer ouvir”.

Numa segunda lista mais “positiva” Lutero diz: "Um bom pregador deve ter as seguintes qualidades e virtudes. Primeiro, deve saber ensinar direito e corretamente. Segun­do, deve ter boa cabeça. Terceiro, deve ser bem articulado. Quarto, deve ter boa voz. Quinto, boa memória. Sexto, deve saber parar. Sétimo, deve estar certo do que fala e ser aplicado. Oitavo, deve investir na sua tarefa o corpo e a vida, os bens e a honra. Nono, deve saber aturar o desprezo de todos".

O pastor tem que agradar aos membros ou a Deus? Dá para agradar aos dois? O que os membros querem é o mesmo o que Deus quer? O que Deus quer? O que os membros querem? O pastor tem que prestar contas à quem? À Deus ou aos membros? Primeiro à Deus depois ao Conselho Paroquial. Os critérios de avaliação do Conselho Paroquial frente ao pastor são as opiniões dos membros, as suas próprias ou as prioridades do Evangelho de Jesus Cristo ou tudo junto? Que peso as prioridades do Evangelho de Jesus Cristo tem na avaliação da proposta e do trabalho do pastor/a?

Quais são as prioridades do Evangelho de Jesus Cristo e da Bíblia?

Jesus diz qual é a sua missão em Lc 4.43: “É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado” (Mc 1.15; Mt 4.17) e em Mt 6.33 Jesus nos convida a participar de sua missão: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. Jesus mostrou a justiça do Reino de Deus colocando os que não podem se defender por si só em destaque no meio da roda e da discussão: a criança (Mt 18.1-5), o doente (Mc 3.1-6), o estrangeiro (Lc 10.25-37), a viúva (Lc 18.1-5), o empobrecido (Lc 16.19-31), os publicanos e pecadores [os considerados impuros] (Mt 9.10-13), os pequeninos (Lc 17.2; Mt 11.25-27; Mt 25.40) para que a sua situação de opressão e sofrimento seja afastada e tenham vida abundante (Jo 10.10). Com isto Jesus mostra que ele é o Deus encarnado que já no Êxodo 3.7-8 diz: “Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel”. O AT (nos sete primeiros livros da Bíblia) fala que Deus anda com os hebreus sem terra escravos e os guia e os orienta na luta pela conquista da terra e na sua luta contra o Estado (Nm 20.14-21; Js 6-8; Dt 6.20-23), que é um instrumento da classe economicamente dominante para manter os seus privilégios e o seu poder (I Sm 8.10-18). Nos livros e textos proféticos Deus denuncia a classe economicamente dominante e o Estado por sua prática de opressão e espoliação praticada contra os pobres e os camponeses (Is 1.21-23; Mq 3.1-12; Am 2.6-8; 8.4-6). Cabe, pois à Igreja os papéis de denúncia e de anúncio profético, gostem os membros ou não, (ler o Manifesto de Curitiba, o Manifesto Chapada dos Guimarães e as decisões e mensagens conciliares dos anos 80) contra toda e qualquer situação que coloque pessoas em situação de desigualdade, injustiça e risco de ter a vida diminuída ou ameaçada ou coloque a criação de Deus em risco. Portanto, participar da Igreja de Cristo não é apenas batizar, confirmar, participar de alguns cultos ou festas e ter uma celebração de enterro cristã, mas é ter um compromisso ativo (Tg 2.26) com a construção desta nova sociedade que Jesus chama de Reino de Deus, como contraproposta de Deus à atual sociedade capitalista, que a Bíblia chama de “o mundo” (Tg 4.4) ou “este século”.

A partir da fé em Jesus Cristo e pelo batismo somos todos irmãos/ãs (Mt 23.8; Jo 20.17; I Jo 3.17), portanto, iguais (Gl 3.28), por isso lutamos contra as desigualdades em nosso país (Is 5.8; Mq 2.1-2), somos amigos (Jo 15.12-15) e concidadãos (Ef 2.19) do Reino de Deus. João é radical dizendo: “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão” (I Jo 3.10). Praticar a justiça é defender quem não pode defender-se por si só (Tg 2.5-7). Isto significa defender empobrecidos, crianças, mulheres agredidas e ameaçadas, sem terra, sem teto, atingidos por barragens, desempregados, pessoas com deficiência, idosos, os que estão em trabalho informal, perseguidos políticos e a própria natureza agredida em sua biodiversidade por desmatamento, agrotóxicos, poluição, lixo, aquecimento global, etc.

No Dia do Juízo Final Deus vai perguntar ao pastor/a se ele pregou pura e retamente o Evangelho (Hb 4.12) e administrou corretamente os sacramentos ou se só falou o que a direita permite e evitou falar de certos assuntos que alguns membros não querem que neles se toque porque isto agride os seus interesses econômicos, políticos e à sua ideologia e com isso não defendeu quem não pode se defender por si só. A mesma pergunta Deus vai fazer à todos os membros da Igreja, porque também eles foram ordenados sacerdotes e sacerdotisas no batismo (I Cor 9.16 lembra: Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!).

Qual a tarefa da Igreja (membros e pastor)?

As Prioridades da Igreja de Cristo.

Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus. Rm 3.21-24.

Segundo as Escrituras Sagradas as prioridades da ação da Igreja de Cristo são:

1ª prioridade da ação eclesial: é a tarefa da proclamação evangélica profética (I Co 14.1-5) de que a pessoa e toda a sociedade são e permanecem pecadoras (Mc 1.15), apontando os seus pecados individuais e coletivos, e de que Deus justifica, salva e recria a pessoa e a sociedade arrependida (Rm 1.16-17) pela mediação verbal (Mc 2.1-12; Mt 9.22; Mt 18.15-17; Lc 17.3-4), e também, pela mediação palpável e degustável dos sacramentos em meio a comunidade (Mt 28.18-20; Mt 26.26-28);

2ª prioridade da ação eclesial: é a explicação e o estudo do significado do sacerdócio geral de todos os crentes com a comunidade, conseqüentemente também o ensaio e a execução, na própria comunidade, do sacerdócio das pessoas que crêem (I Pe 2.5,9) e foram batizadas, e, por isso, exercitam o sacerdócio comum (de todos os batizados crentes), mútuo (um é sacerdote para com o outro) e em conjunto (toda comunidade tem o ministério sacerdotal via batismo: o ministério da reconciliação - II Co 5.18-19);

3ª prioridade da ação eclesial: é toda luta por justiça em favor da construção desta nova sociedade que Jesus chama de Reino de Deus em que nós nos engajamos a partir da fé em Jesus Cristo (Fp 2.5; Mt 25.31-46). Este Reino de Deus já começou (Lc 17.21), mas ainda não está completo e o será apenas na volta de Cristo no Dia do Juízo Final (II Pe 3.1-13; Ap 20.11-15).

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