Tuesday, March 27, 2012

LUTERO E A EDUCAÇÃO



Para imigrantes alemães chegados ao Brasil a partir de 1824, a escola representava instância importantíssima no processo educacional, e era uma questão de iniciativa comunitária e não do Estado. Ao chegarem a terras do Novo Mundo, os imigrantes já tinham na bagagem pelo menos três séculos de ensino obrigatório na escola pública alemã. Já o sistema educacional implantado no Brasil na segunda metade do século XIX pelo protestantismo de missão - arrolados ai metodistas, presbiterianos, batistas, congregacionais, adventistas e anglicanos - é bem diferente daquele introduzido pelos luteranos. Alemães instalaram-se mais em áreas rurais, enquanto o protestantismo de missão buscou as cidades.

Por volta de 1870, surgiram os primeiros colégios protestantes em cidades importantes do ponto de vista estratégico e missionário. Parece-me que no início da atividade missionária protestante a escola é complemento natural à igreja. As razões de sua instalação não são filantrópicas, mas doutrinais. O analfabetismo era empecilho ao aprendizado da doutrina protestante, calcada na leitura da Bíblia, de livros e revistas denominacionais. A propagação da fé estava vinculada à difusão de valores culturais. Na educação protestante vieram embutidos o liberalismo, o individualismo e o pragmatismo. O protestantismo luterano e o protestantismo de missão não pretendiam, assim como o catolicismo, apenas educar para a fé, mas dar também expressão aos valores da vida cristã, identificados aos valores-padrão da cultura da Alemanha, dos Estados Unidos ou de outros países dos quais viessem missionários.

Na visão de Lutero, que foi professor na Universidade de Wittenberg de 1508 até 1546, ano em que morreu, o professor era também um catequista, uma vez que a escola tinha por tarefa formar bons cristãos. Com a descoberta da salvação gratuita, da justificação por graça e fé, também mudou, para Lutero, o foco do ensino. O alvo da ética não era mais o céu, como a garantia da própria salvação também pelo estudo, mas a terra, a preservação das coisas criadas por Deus. Para Lutero, a educação é de responsabilidade da autoridade civil e não da autoridade eclesiástica. Sempre que for investido um florim em gastos militares, defendia o reformador, devem ser investidos cem florins em educação. Para Lutero está claro que governar é criar e manter escolas.

Para Lutero, a educação deve ser lúdica - deve-se aprender jogando, cantando e dançando, mas, acima de tudo, propulsora da liberdade evangélica. O reformador propõe uma escola cristã, gratuita e obrigatória, à qual toda a população tenha acesso. Ela não é questão de elite leiga ou religiosa.

P. Dr. Martin Dreher no 25º Congresso de Professores Rede Sinodal de Educação

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