Tuesday, March 21, 2017

No trabalho paroquial, quem é o patrão dos ministros e ministras?

Depois imemoriais tempos, quando na IECLB havia um pastorcentrismo, os ministros e ministras não são pa
trões, ou chefes nas paróquias. Ainda bem! No entanto, esta é uma questão complicada de responder frente a situações que se colocam, como renovação do TAM, “demissão” por diretorias, entendimento do TAM como contrato de trabalho, e por aí em diante.

Então, volta a pergunta, quem são os patrões nas paróquias?

Os que fundaram a comunidade que ainda estiverem vivos, mesmo que tenham investido muito na fundação, não são os patrões, muito menos os donos da comunidade – se bem que sempre tem uns que se sentem senhores feudais e são os lordes cristãos e a comunidade ou paróquia seja seu feudo. Da mesma forma não é patrão o conselho paroquias nem a diretoria. Também não o é a matriarca ou o patriarca que sempre estiveram lá e sempre tiveram seu assento na diretoria e no conselho – se não fizerem parte do conselho “eles se ofendem”, dizem alguns. O corpo nacional da igreja, da IECLB, também não o é, ainda que tenha uma “secretaria de pessoal”, bem como não o é o sínodo, ainda que tenha uma pasta com a documentação de cada um dos ministros e ministras atuantes no sínodo.
Frente ao INSS os ministros e ministras da IECLB são “equiparados a autônomos” e como tal fazem a sua contribuição previdenciária. Já uma decisão do STF diz:

 O trabalho realizado na qualidade de Pastor possui cunho religioso e não constitui objeto de um contrato de emprego, pois insuscetível de avaliação econômica, já que precipuamente destinado ao conforto e à orientação espiritual dos fiéis, bem como à divulgação do Evangelho. Não existem interesses distintos ou opostos, como no contrato de trabalho. As pessoas que prestam trabalho religioso fazem-no em nome de sua fé e de sua vocação, testemunhando sua generosidade em prol da comunidade religiosa, e não para a Igreja a qual pertencem. Também inexistente a obrigação das partes, posto que espontâneo e voluntário o cumprimento dos deveres religiosos, eis que o labor, nessa condição especial, encontra-se imbuído do espírito de fé, crença e vocação, sem a conotação material que envolve o trabalhador. Nesse sentido, a prova testemunhal e, no tocante à remuneração, tal se constitui num fundo de amparo, necessário à manutenção das necessidades do reclamante, para que este pudesse desempenhar as atividades decorrentes de seu sacerdócio, o que não se confunde com a contraprestação salarial, na verdadeira acepção do termo. TRT-3 - RECURSO ORDINARIO TRABALHISTA RO 1989608 01134-2007-055-03-00-4 (TRT-3)[1]

Desta forma, a pergunta sobre quem é o patrão dos ministros e ministras ainda não foi respondida.
Para começo de conversa, o patrão da igreja, na igreja, para a igreja é Deus. O apóstolo Paulo afirma em Romanos 12.5 (Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros.”) ou Colossenses 1.18 (E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência”) que o cabeça de tudo é Cristo. Este é o patrão em qualquer tamanho de comunidade ou paróquia, desde comunidade que se reúne em casa de membro até os megatemplos que reúnem milhares de pessoas em uma única celebração, passando pela comunidade média da IECLB, que reúne uma média de cinquenta pessoas.

Isso deveria significar um grande alívio de fardo para presbitérios e ministros e ministras, mas não é o que se sente nas relações, seja de presbitérios, seja de ministros e ministras, se bem que em minha humilde opinião estes últimos nem de longe são mais patrões ou chefes, ao menos na IECLB.
Para bem sabermos, nada é sobre nós, lideranças leigas e ordenadas. Deus é soberano! As lideranças têm suas responsabilidades. Mais assustador ainda é se dar conta que Deus é nosso chefe ou patrão – de presbitérios e ministros e ministras – e somos conjuntamente responsáveis, seja pela igreja, seja pela criação. O patrão, o chefe, em última instância é Deus, e este patrão quer ver sua igreja, também na figura de ministros e ministras e presbitérios, fazendo o bem, cumprindo a Sua vontade suprema de levar e produzir vida em abundância (Jo 10.10). Deus instituiu a igreja, nesta são instalados conselhos, presbitérios, lideranças e ministros e ministras para fazerem e liderarem no cumprimento da vontade e das ordenanças deste chefe supremo. Deus escolheu a igreja, Deus escolheu lideranças leigas! E o seu mandamento é tão somente “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. ” (J0 15.12b). Deus, como patrão, é não só bondoso, é misericordioso.

Nosso problema é consultar nosso chefe!
Ignorar a oração e a leitura das escrituras é como ir ao trabalho e nunca ler qualquer dos memorandos enviados pelo chefe, e nunca assistir a qualquer das reuniões de pessoal. A gente não pode saber o que Deus quer para a Igreja, a menos que se ouça o que Deus está dizendo. Parece simples, ou simplista, mas todos os líderes, repito TODOS, têm problemas com a oração e a vida devocional. Precisamos encorajar uns aos outros nisso. Isto, para mim, pode ser a principal coisa que eu acho que os colegas no ministério e presbitérios precisam se concentrar.

As lideranças, ministeriais e presbitérios, precisam apontar às pessoas para Deus que é realmente responsável.

Muito do trabalho das lideranças na igreja pode ser dirigir a membresia para consultar e queixar-se ao chefe real. Nós, como lideranças precisamos ser destemidos em direcionar as pessoas a orar sobre as preocupações que eles trazem para nós. A gente pode encorajar as pessoas a levantar qualquer queixa a Deus, e então ouvir a resposta de Deus. Em seguida, incentivar as pessoas a voltar para a gente com o que ouviram. Isto pode parecer um pouco piegas, mas muitas vezes é o que nos falta como liderança.

"Mas tenho Palavra do Senhor", ou “foi Deus quem me disse”
Certamente algumas pessoas abusarão disto, e lideranças muito mais, e sempre virão com uma palavra do Senhor para a qual eles acreditam que todos nós devemos aderir, afinal, com a palavra de Deus não se discute! É aqui que precisamos de um discernimento comunitário orante. As lideranças, leigas e ordenadas, ou quem quer que sejam os principais líderes, precisam ser uma comunidade de oração, de modo que quando uma queixa surge, eles também orem sobre isso. A gente não vai sempre obter respostas rápidas desta forma. No entanto precisamos aprender a parar, dar pausa, desacelerar e a desaceleração é boa, porque ajuda a gente a ouvir mais cuidadosamente a Deus.

A peneira Espiritual
Algumas pessoas conseguem ouvir o seu encorajamento ou instrução da liderança, seja leiga ou ordenada, para orar e meditar sobre as questões para que sejam realmente levadas à sério. É preciso tentar assegurar-lhes que pedir-lhes para orar e meditar é levar a questão muito à sério. É preciso mostrar ao presbitério e ao ministro ou ministra que isso não é uma maneira de eliminá-los, é uma maneira de garantir que eles estão enfrentando a queixa ou o problema de um ponto de vista espiritual. É uma maneira para todos nós chegar na mesma página, porque Deus pode mudar situações e corações quando eles precisam ser mudados.

Será que qualquer de nós, como líder, também consegue orar sobre os problemas paroquiais? Absolutamente, e orar também pela pessoa que trouxe o problema. Mas não devemos deixar que nossas queixas e questões pessoais dominem nossas próprias orações, ou dominem nossa tomada de decisão a partir da oração. Temos nossos preconceitos e nossa própria agenda ideológica e cultural
Sempre existe a liderança, leiga ou ordenada, autocentrada e a propagação de rumores mil.
Muitas vezes os líderes da Igreja são reacionários às queixas, ou levam adiante seus egos. Os líderes precisam ver quando as questões estão apenas focadas em si mesmos, sua própria experiência da Igreja, suas próprias necessidades, nas suas próprias agendas. Dirigir-lhes a Deus, à palavra, em vez de simplesmente atender às suas necessidades imediatas, é a tarefa de toda a liderança da Igreja.

Pedir às pessoas que levem suas queixas e preocupações a Deus, em culto, em meditação, em oração, também lhes ensina que Deus é a melhor pessoa para conversar, ao invés de espalhar rumores, fofocas, ou queixar-se à família e aos amigos.
Por que então não buscamos à Deus, como lideranças?
Os presbitérios e ministros e ministras são culpados de não levar suas queixas a Deus também. Os líderes da Igreja, muitas vezes, e mais do que qualquer outro membro da igreja, não se comportam como se Deus estivesse no comando.

Então, por que é que quando nós (qualquer um de nós!) temos um problema na paróquia, ficamos relutantes em buscar aquele com autoridade suprema? Talvez seja porque em algum lugar no fundo sabemos que Deus pedirá algum tipo de mudança pessoal de nós. E muitas vezes as nossas proposições, seja de ministros ou ministras, seja presbitérios, são tentativas veladas para que os outros mudem de acordo com nossa agenda e vontade, por isso não devemos de o fazer. Deus, por outro lado, está transformando todos nós.



[1] https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=Pastor+Religioso

1 comment:

  1. O patronato na Igreja é o enjaulamento do Evangelho. A gente só vê o que está na jaula e não o que está no coração.

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