Wednesday, December 02, 2009

BOM HUMOR, MAU COLESTEROL


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BOM HUMOR, MAU COLESTEROL

© Mario Persona
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Bom humor, mau colesterol
http://g1.globo. com/Noticias/ Rio/0,,MUL139821 7-5606,00. html

Ela sorriu para mim, por isso decidi levá-la para jantar. Não é
sempre que a gente encontra um sorriso assim, muito menos em um
supermercado. Tive sorte. Se ela não tivesse sorrido, aquele jantar
não teria acontecido.

Um sorriso faz toda a diferença, especialmente no atendimento ao
cliente. Ficam excluídos desta obrigação coveiros, carcereiros e
proctologistas. Porém, na grande maioria dos casos, o sorriso
sempre será bem-vindo e até obrigatório.

Mas como sorrir quando é obrigação? Com a atitude mental adequada,
o que você obtém quando aprende a rir de si mesmo e das
circunstâncias. Sim, porque o sorrir é um gentil subproduto do rir
de si mesmo, uma das técnicas utilizadas para se fazer humor.

Humor é como colesterol: tem do bom e do ruim. O pior humor, e
também o mais fácil de se produzir, é o que apela para a linguagem
chula, muito usada nos tempos da ditadura e da censura. O pessoal
pagava para ir ao teatro rir de palavrão e chamava aquilo de cultura.

Uma variação moderna é a dos programas humorísticos de TV para a
terceira idade, ricos em sexo, malícia e colesterol, mas pobres em
cenários: quando não é na praça, é na sala de aula.

O humor chulo também é comum entre compositores de funk, pagode ou
axé, sei lá, que gostam de brincar com cacófatos. Geralmente quem
faz esse tipo de humor, e o público que o aprecia, não sabe o que é
cacófato.

Subindo na escala encontramos o "humor às custas do outro", que
escolhe uma vítima para debochar. Como acabo de fazer com os
compositores de funk, pagode ou axé, sei lá. Esta técnica faz o
humorista e sua plateia se sentirem superiores, o que pode ser
muito engraçado ou não passar de um patético deboche infundado para
chamar a atenção.

Foi o caso do ator Robin Williams na entrevista que deu ao David
Letterman. De uma tacada só ele debochou da Oprah, da Michelle
Obama e da Pátria Amada, ao comentar a vitória do Brasil para
hospedar as Olimpíadas:

"Chicago enviou a Oprah e a Michelle. O Brasil mandou 50 strippers
e meio quilo de pó. Não foi uma competição justa", insinuou Robin
Williams enquanto a plateia obedecia ao sinal luminoso que dizia
"LAUGH".

O humor seguinte na escala é aquele que faz do próprio humorista a
vítima. Quando rio de mim mesmo, eu me fragilizo e me torno
deliberadamente vulnerável. É por isso que costumo abrir minhas
palestras sorrindo de forma ampla, geral e irrestrita. O público
que acha graça, logo entra na minha. O público que não acha, pensa
que eu sou bobo e me olha com um olhar caridoso de quem diz: "Ok,
vamos dar uma chance a ele".

É esse o humor das pessoas de bom humor, que não têm medo de se
expor ao ridículo ou de rir de circunstâncias que, para outras,
teria o efeito de uma TPM das bravas. Como diz o ditado, "quem ri
de si seus males espanta". Tudo bem, esta é a versão para quem nem
cantar sabe.

Finalmente, a forma mais inteligente, nobre e saudável de se fazer
humor é quando o humorista transforma a si mesmo e a toda a plateia
em vítimas. São as situações nas quais todos, sem exceção, se
enxergam ridículos e acabam rindo um riso companheiro e solidário.
É como se todos andassem na rua distraídos e batessem a cabeça no
mesmo poste ao mesmo tempo.

Este é o humor que desopila o fígado, alivia as tensões e une as
pessoas, ao invés de separá-las. É o humor que se transforma em um
sorriso duradouro e contagiante, como o sorriso com que ela sorriu
para mim na seção de frios do supermercado.

Seus olhos negros como azeitonas, sua pele de um branco que
lembrava mussarela, seus cabelos dourados como queijo cheddar e
lábios carnudos e vermelhos como uma fatia de salame me fizeram
salivar.

A balconista me observava sorridente, enquanto eu a parabenizava
por sua criatividade. Coloquei no carrinho a pizza com cara de moça
que a balconista criara, e fui para casa jantar bom humor e mau
colesterol.

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