Sunday, May 04, 2014

Convite para a participação na Santa Ceia - Sinal dos Tempos.

O documento em anexo, parecer da Comissão de Teologia e Relações Eclesiásticas, CTRE, foi aprovado na Convenção da IELB, que se encerra amanhã.Tinha mais de 1200 votantes e foi aprovada por ampla margem. Com isto deve terminar , nas poucas comunidades que ainda a praticavam, a exclusividade de membros da IELB na S;Ceia. Na minha opinião, esta medida já deveria ter sido tomada a muito tempo. O foco do proximo amplo debate deve ser o ministério feminino.


Convite para a participação na Santa Ceia

1.    Fundamentos
a.        A Santa Ceia é instituição do Senhor Jesus Cristo,[1] portanto é Ceia “do Senhor” e não de alguma igreja ou denominação, em particular, nem mesmo da Igreja Luterana. É claro, por outro lado, que, embora sendo "do Senhor", a Ceia foi entregue à Igreja para ser administrada ou alcançada a todos aqueles a quem ela foi destinada.[2] Assim, a Ceia "é o verdadeiro corpo e sangue de Cristo SENHOR, em e sob o pão e vinho, que a palavra de Cristo ordena a nós cristãos comer e beber," (Catecismo Maior, 4ª parte: Do Sacramento do Altar, 8; ênfase acrescentada), isto é, a seus seguidores, as ovelhas que ouvem a sua voz,[3] que, havendo-se examinado (1Co 11.28), dela participam para receber a remissão de seus pecados, vida e salvação.[4]
b.        Desde os primeiros anos da história da Igreja cristã, desenvolveu-se o zelo pastoral no sentido de que a Ceia fosse celebrada condignamente e fosse recebida por aqueles a quem se destina e não por pessoas declaradamente não-cristãs ou hereges manifestos. Com o surgimento do denominacionalismo, há denominações que têm adotado a prática de restringir a participação na Ceia do Senhor apenas aos membros constantes no seu rol de membros. Isso passou a se denominar de "comunhão fechada". No entanto, sendo a Santa Ceia instituição do Senhor Jesus Cristo, Paulo, em conformidade com isso, em 1Coríntios 10.21 se refere a ela como "mesa do Senhor" e, em 1Coríntios 11.28, atribui a cada cristão o ônus de se examinar "a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice". Assim, a CTRE entende que a expressão "comunhão fechada" até pode ser usada, mas no sentido bíblico de que, sim, a comunhão é "fechada" a cristãos, e somente a cristãos. Em linha com isto, no Catecismo Menor, Lutero, explicando as palavras "Dado em favor de vós" e "derramado para remissão dos pecados", diz (VI 8; ênfase acrescentada): "E o que crê nessas palavras tem o que elas dizem e expressam, a saber, 'remissão dos pecados'." Conclui-se, pois, que isto, obviamente, ocorre, independente da denominação cristã a que externa ou visivelmente essa pessoa "que crê nessas palavras" esteja vinculada.[5]
c.         Por outro lado, a partir de 1Coríntios 11.27, se há feito referência ao perigo de participar da Ceia "indignamente" e, assim, se há restrito o acesso à Ceia do Senhor, ou, até, intimidado pessoas a buscar a Ceia, em sua fraqueza. Lutero, porém, esclarece isso de forma contundente, no Catecismo Maior (4ª parte: Do Sacramento do Altar, 58-59, 61-62): "Consequentemente, deve distinguir-se aqui entre as pessoas. Aos insolentes e asselvajados cumpre dizer que se abstenham do sacramento, pois não estão preparados para receber a remissão dos pecados, já que não a desejam e não gostam de ser justos. Os outros, entretanto, que não são pessoas rudes e dissolutas assim e gostariam de ser justas, não devem afastar-se do sacramento, muito embora de resto sejam débeis e frágeis.... Por isso deve essa gente aprender que a máxima sabedoria é saber que nosso sacramento não se fundamenta em nossa dignidade, pois não nos batizamos como tais que sejam dignos e santos; nem nos confessamos como se fôssemos puros e sem pecado; mas, ao contrário, como pobres e míseros homens, e precisamente por sermos indignos. A menos que se trate de alguém que não deseja graça e absolvição e não tem a intenção de corrigir-se. Aquele, porém, que gostaria de alcançar graça e consolo, deve impelir a si mesmo e a ninguém permitir que o intimide."[6] E Lutero ainda acrescenta: "Ademais, deveria impelir-te, por causa de ti mesmo, a tua própria necessidade, que te pesa na cerviz e constitui a razão desse mandar, atrair e prometer. Pois o próprio Cristo diz: 'Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes', quer dizer, os que estão cansados e sobrecarregados com o pecado, o medo da morte e as tentações da carne e do diabo. Por conseguinte, se estás sobrecarregado e sentes a tua fragilidade, então vai alegremente ao sacramento e recebe refrigério, consolo e vigor. Porque se queres esperar até que estejas livre de tais coisas, a fim de chegares puro e digno ao sacramento, então terás de abster-te para sempre" (Ibid., 71-73).[7]  Pois, ao contrário da visão distorcida da dignidade, Lutero, no Catecismo Menor, de modo muito simples descreve quem é realmente digno: "Mas verdadeiramente digno e bem preparado é aquele que tem fé nesta palavra: 'Dado em favor de vós' e 'derramado para remissão dos pecados' " ("VI Sacramento do Altar", 10).
d.        Na Ceia, pois, o Senhor Jesus oferece e dá o seu próprio corpo e o seu próprio sangue[8] para perdão dos pecados, para o fortalecimento da fé e a certeza da vida eterna[9]; isso ele oferece e dá a todos os cristãos, que, arrependidos de seus pecados, anseiam pelo perdão e buscam fortalecer-se em sua luta contra o pecado, a morte e o diabo.[10] Portanto, a Ceia do Senhor destina-se a cristãos batizados que, sabendo examinar-se, reconhecem serem pecadores miseráveis, incapazes de se apresentarem diante de Deus sem o perdão que é oferecido de modo especial através da Ceia, e, assim, apresentam-se à Mesa do Senhor, para, na comunhão do verdadeiro corpo e do verdadeiro sangue de Cristo, serem perdoados e fortalecidos em sua fé.
e.        De modo que, na Ceia do Senhor, cada cristão, ao tomar e comer, em, com e sob[11] o pão, o corpo de Cristo, e, ao tomar e beber, em, com e sob o vinho, o sangue de Cristo, experimenta e usufrui, por um lado, a mais íntima comunhão possível com Cristo, neste mundo; e, por outro lado, experimenta e usufrui também a comunhão mais íntima possível com os irmãos comungantes, visto que todos comem e bebem do mesmo corpo e sangue de Cristo, o cabeça da Igreja.
2.    Convite Oral: Partindo destes fundamentos, sugere-se que, no culto com Santa Ceia, siga-se o seguinte procedimento:
a.        Antes de tudo, é o pastor, conforme lemos na Confissão de Augsburgo, quem exerce, em nome da igreja, "o poder das chaves ...(que) é o poder e ordem de Deus de pregar o evangelho, remitir e reter pecados e administrar e distribuir os sacramentos".[12] Isto ressalta a importância do cuidado pastoral também em relação à administração da Ceia do Senhor.
b.        Em segundo lugar, nos cultos com Santa Ceia, que, felizmente, são cada vez mais frequentes ou até dominicais, é importante, ao realizar o ato litúrgico da "Confissão e Absolvição", o pastor relacione este ato de rendição à graça perdoadora de Deus à busca da Santa Ceia.[13] A Confissão de Augsburgo acertadamente diz: "Pois conserva-se entre nós o costume de não dar o sacramento àqueles que não foram previamente examinados e absolvidos" ("Artigo XXV: Da Confissão", 1).[14]
c.         Em terceiro lugar, é importante que, também na pregação, o pastor, ao anunciar o evangelho, inclua referência à Ceia a ser celebrada a seguir e aos benefícios que o cristão dela obtém com sua participação.[15] Na verdade, como diz Lutero, faça-se "exortação e animação no sentido de que não se deixe passar em vão esse grande tesouro" (Catecismo Maior, 4ª parte: Do Sacramento do Altar, 39.)
d.        Finalmente, segue o ato litúrgico da instituição da Ceia, após o qual, o pastor, sempre lembrado de sua responsabilidade de "cura d'almas", dirige a todos os cristãos presentes no culto o convite para participarem da Ceia do Senhor, mais ou menos nestas palavras:
(1)   Conforme nos ensina a Palavra de Deus, a Mesa do Senhor está agora preparada com os alimentos mais preciosos da parte de Deus, a saber, o próprio corpo e sangue do Senhor Jesus Cristo, oferecidos e distribuídos juntamente com o pão e o vinho; e ele mesmo, o Senhor Jesus, nos convida a recebê-los.
(2)   Portanto,
a.      se você, que é cristão batizado e aqui confessou a verdadeira fé cristã, nas palavras do Credo Apostólico (ou, Niceno);
b.      se você, conforme teve oportunidade também de confessar, está arrependido dos seus pecados e sente-se como quem precisa de ajuda em sua luta contra o pecado, contra o temor da morte e as forças do inferno;
c.       se você crê que o corpo de Cristo, oferecido e distribuído no pão, "foi dado em favor de você", e que o sangue de Cristo, oferecido e distribuído no vinho, "foi derramado para remissão dos seus pecados"; e,
d.      se você quer, com a ajuda de Deus e este alimento celestial, obter perdão, força, consolo e crescer na comunhão íntima e profunda com o Salvador Jesus, e, assim, melhorar a sua vida;
e.      venha à "mesa do Senhor" (1Co 10.21); venha e receba aqui, na comunhão do verdadeiro corpo e sangue de Jesus, o perdão dos pecados, o fortalecimento da fé e da esperança e da comunhão no Salvador Jesus Cristo.
(3)   No entanto, se alguém de vocês tiver alguma dúvida ou sentir alguma inquietação para vir à Ceia, procure o pastor após o culto ou durante a semana, para buscar esclarecimento maior e, então, jamais deixar de participar desta Ceia confortadora de Jesus.
3.    Convite Escrito (no boletim ou programa do culto): Há igrejas que distribuem todos os domingos, no início do culto, um boletim informativo ou um programa do culto. Sugere-se, portanto, que, neste boletim ou programa, o pastor, em seu cuidado pastoral, utilize também este meio para ajudar os participantes na compreensão dos benefícios da Ceia do Senhor e, assim, costumeiramente coloque o seguinte:
Santa Ceia: Em nosso culto, hoje, haverá a celebração da Santa Ceia. Como cristãos luteranos, cremos, conforme as Escrituras Sagradas o expressam, que na Santa Ceia o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue do Senhor Jesus Cristo são distribuídos e recebidos no pão e no vinho, para o perdão de todos os nossos pecados e para o fortalecimento de nossa fé. Se você é cristão batizado, foi instruído sobre o que é a Ceia e os seus benefícios, e que confessa os seus pecados a Deus e deseja viver uma nova vida em Cristo, você é convidado a celebrar a Ceia do Senhor conosco. Eis algumas perguntas que podem ajudar você na preparação para a participação proveitosa na Ceia do Senhor:
a.      Estou convencido de ser um pecador e me sinto mal por causa dos meus pecados e arrependido por tê-los cometido?
b.      Creio eu que o corpo e o sangue de Cristo são oferecidos e distribuídos na Ceia, para perdão dos meus pecados, para fortalecimento da minha fé e comunhão mais íntima e profunda com o próprio Cristo?
c.       Pretendo, realmente, com a ajuda de Deus e deste alimento celestial, melhorar a minha vida?
Se a sua resposta for “sim”, seja bem-vindo à Ceia do Senhor e receba perdão, vida e salvação! Se, porém, houver alguma dúvida ou falta de clareza a respeito da Ceia do Senhor, não hesite de procurar o pastor, seja após o culto, em outro dia, ou por telefone, e-mail, etc. Importante mesmo é buscar o quanto antes a Ceia do Senhor, pois nela, de modo único, se aprofundará a nossa comunhão com o Salvador Jesus Cristo.

Comissão de Teologia e Relações Eclesiais
Documento de Estudo - 2013



[1] Os textos bíblicos que relatam a instituição da Santa Ceia são os seguintes: Mateus 26.26-28; Marcos 14.22-24; Lucas 22.19-20; e 1Coríntios 11.23-25.
[2] Já houve vários momentos em que a CTRE se pronunciou sobre um ou mais aspectos da Santa Ceia, como, por exemplo, em "Pessoas leigas na celebração (consagração e distribuição) da Santa Ceia" (Parecer 01/2003). No caso específico do presente documento, uma carta conjunta dos presidentes da IELB e IECLB, foi produzida e enviada em junho de 1999, sobre "Acolhimento Mútuo", dando algumas recomendações. Consulta a estes documentos poderá ajudar na compreensão de um assunto tão sensível.
[3] É assim que Lutero se refere à Igreja Cristã (Artigos de Esmalcalde, XII 1-2): "Pois, graças a Deus, uma criança de sete anos sabe o que é a igreja, a saber, os santos crentes e 'os cordeirinhos que ouvem a voz de seu pastor' (Jo 10.3)."
[4] No Catecismo Menor, Lutero descreve assim o proveito que nos traz a Ceia do Senhor (VI 6): "Isto nos indicam as palavras: 'Dado em favor de vós' e 'derramado para remissão dos pecados', a saber, que por essas palavras nos são dadas no sacramento remissão dos pecados, vida e salvação. Pois onde há remissão dos pecados, há também vida e salvação."
[5] No Catecismo Maior, Lutero, falando sobre "qual a pessoa que recebe esse poder e proveito", diz assim (4ª parte: Do Sacramento do Altar, 33-34): "É, em palavras bem sumárias, conforme ficou dito acima, no batismo, e em muitos outros lugares, aquele que crê conforme rezam as palavras e o que trazem. Pois não são ditas ou proclamadas a pedras e paus, mas àqueles que as ouvem. A esses diz: 'Tomai e comei', etc. E como oferece e promete perdão dos pecados, não pode ser recebido de outra maneira senão pela fé." A eclesiologia luterana é precisamente esta: é a mais ecumênica de todas, pois não dizemos que só luteranos são igreja, nem repetimos batismo e até reconhecemos que, mesmo sob uma espécie, a ceia não deixa de ser ceia, por mais que seja incompleta.
[6] Ver também Mateus 11.28: "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei." Este versículo é citado por Lutero, no Catecismo Maior, seguido do seguinte: "De forma nenhuma se há de considerar o sacramento como se fosse coisa prejudicial, da qual cumprisse fugir, mas como medicina inteiramente salutar e consoladora, que te ajuda e te dá a vida, tanto na alma quanto no corpo. Porque onde está restaurada a alma, aí também está auxiliado o corpo. Por que então essa nossa atitude como se se tratasse de veneno em que a gente comesse a morte para si mesmo?" E, pouco mais adiante: "Aqueles, porém, que sentem sua fraqueza, e dela gostariam de ver-se livres, e desejam auxílio, cumpre-lhes que considerem e utilizem o sacramento unicamente como precioso antídoto contra o veneno que têm consigo. Pois aqui deves receber, no sacramento, perdão dos pecados da boca de Cristo, perdão que encerra em si e traz consigo a graça e o Espírito de Deus, juntamente com todos os seus dons, proteção, defesa e poder contra a morte e o diabo e toda desgraça" (4ª parte: Do Sacramento do Altar, 68 e 70).
[7] Quanto aos realmente "indignos", a Fórmula de Concórdia esclarece (Epítome VII, 18): "Cremos, ensinamos e confessamos também que existe apenas uma espécie de convivas indignos, a saber, os que não creem. A respeito deles está escrito: 'O que não crê já está julgado.' Por uso indigno do santo sacramento esse juízo cresce, torna-se maior e é agravado. 1Co 11.(27,29)."
[8] Como diz a Confissão de Augsburgo (X 1): "Da ceia do Senhor se ensina que o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo estão verdadeiramente presentes na ceia sob a espécie do pão e do vinho e são nela distribuídos e recebidos." (cf. Apologia da Confissão, X)
[9] Na Confissão de Augsburgo (XXIV:30), temos: "o santo sacramento foi instituído ... a fim de que por ele se nos desperte a fé e se consolem as consciências, as quais pelo sacramento percebem que Cristo lhes promete a graça e a remissão dos pecados."
[10] No Catecismo Maior, Lutero descreve o quanto o cristão precisa deste fortalecimento, em vista dos ataques do pecado, do mundo e do diabo (4ª parte: Do Sacramento do Altar, 23-27): "Conseguintemente, é com razão que se chama alimento da alma, que nutre e fortalece o novo homem. Pelo batismo primeiramente nascemos de novo. Todavia, como ficou dito, permanece no homem, não obstante, a velha pele, em forma de carne e sangue. São tantas as obstaculizações e acometidas do diabo e do mundo, que muita vez ficamos cansados e débeis, e vez que outra também claudicamos. Por isso o sacramento nos é dado para diária pastagem e alimentação, para que a fé se restaure e fortaleça, a fim de que nessa peleja não sofra revés, porém se faça incessantemente mais vigorosa. Pois que a vida nova será de constituição tal, que cresça e progrida sem solução de continuidade. Terá de sofrer, entretanto, muita oposição. Pois o diabo é inimigo assim furioso: quando vê que lhe resistimos e atacamos o velho homem, e que ele não nos pode surpreender à força, então por todos os lados anda à solapa e rodeia, experimenta todas as artimanhas, e não desiste até cansar-nos afinal, de modo que ou renunciamos a fé ou desanimamos e nos tornamos apáticos ou impacientes. É para isso que é dado o consolo, a fim de que o coração busque aqui nova força e refrigério, quando sente que a coisa se lhe vai tornando demasiadamente pesada."
[11] As Confissões Luteranas usam, às vezes, uma destas preposições, outras vezes, duas. Werner Elert, referindo-se a esta variação no uso das preposições, conclui que isso "prova que elas não têm a tarefa de dar uma definição precisa. Segundo o autor, parafraseiam o simples fato de que pão e vinho continuam pão e vinho, sendo, porém, no ato sacramental, portadores da presença, do oferecimento e da recepção do corpo e sangue de Cristo" (nota 44 de Arnaldo Schüler, sob "Artigo X: Da Santa Ceia", da Confissão de Augsburgo, traduzida do alemão).
[12] Confissão de Augsburgo, Artigo XXVIII, 5.
[13] Em dias especiais, quando a Ceia, por exemplo, for objeto também da pregação, o pastor até poderia, embora isso não seja de acordo com a ordem tradicional, deslocar a Confissão e Absolvição para depois do sermão. Em favor disso, pode-se argumentar da seguinte forma: (1) Poucas congregações têm, inserido em seu culto, uma alocução confessional, no início do culto, antes da confissão e absolvição, em dias da celebração da Ceia, como se fazia em outros tempos. (2) Sem tal alocução, mas com um sermão focado na Ceia, o deslocamento da confissão e absolvição para depois da pregação poderia ser muito benéfico. (3) Além do mais, por várias razões, boa porção de comungantes, infelizmente, chega atrasada e não participa da confissão e absolvição, no início do culto; de modo que o seu deslocamento eventual para depois da pregação compensaria isto também.
[14] A Apologia da Confissão ("Artigo XXIV: Da Missa") também enfatiza isto, ao dizer: "Pois entre nós realizam-se missas todos os domingos e em outros dias de festa, nos quais o sacramento é administrado aos que querem fazer uso dele, depois de terem sido examinados e absolvidos."
[15] Lutero, por exemplo, no Catecismo Maior (4ª parte: Do Sacramento do Altar, 31-32), enfatiza este ponto.

Saturday, April 26, 2014

O que a IECLB tem de bom?!

Há algum tempo desafiei pessoas a dizerem o que a IECLB tem de bom, saiu muita coisa boa. São citações de colegas ministr@s da nossa querida igreja. Como eu não tenho a permissão para publicar os nomes, o
s nomes estão ocultos, mas as citações são verdadeiras.
 
Em meio a tantas críticas que se faz a nossa IECLB, principalmente de membros, eu quero desafiar a todos a colocar o que é que nossa igreja tem de bom.

Eu começo:
1. Excelente formação teológica de seus ministros e ministras.
2. Excelentes cursos de formação de lideranças.
Parte superior do formulário


Pastora COERÊNCIA!!!
Pastor SERIEDADE!
Pastor CLAREZA CONFESSIONAL
Pastor ECUMENICA
Obreira um PECC muito rico, sério e coerente.
Pastor Diversidade teológica
Armin Andreas Hollas Unidade na diversidade, ainda que muitas vezes complicada....
Pastora Mulheres no Ministério Ordenado
catequista Hinos maravilhosos!
Pastor Igreja comunitária!
Pastora Abertura para o diálogo...riqueza liturgica...
Pastora Diversidade de grupos de trabalho
Pastora Abertura ecumênica...
Pastora Comunidades diaconais...
Pastora aceitação ecumênica de todos. Incentivo e respeito aos jovens, dedicandse ao trabalho de grupos de jovens JE
Pastora Ah busca ser uma igreja democratica...
Pastora evangelização com crianças realmente levada a sério,muita dedicação nesse processo!!
Pastor o preparo dos adolescentes no EnsinoConfirmatório
Pastor Compreender a diversidade cultural
Pastor POR TUDO ISSO, E MUITO MAIS, AMO NOSSA IECLB - APESAR DAS FALHAS;
AFINAL, SOMOS JUSTOS E PECADORES, MAS JUSTIIFCADOS POR CRISTO JESUS EM
SUA GRAÇA INFINITA. QUE TAL JUNTAR ESSES DEPOIMENTOS E FALARMOS DELES NO
DIA 31 DE OUTURBRO, ONDE HOUVEREM CELEBRAÇÕES DA REFORMA?
Armin Andreas Hollas PUXA VIDA! OLHEM SÓ! Gostamos muito de "malhar" a IECLB, mas temos muito do que nos orgulhar!
Armin Andreas Hollas Celebração centrada na Palavra e guiada pela Palavra.
Armin Andreas Hollas Pregações e sermões preparados com cuidado e zelo pel@s Ministr@s
Pastor Representação destacada em diversos círculos ecumênicos continentais e mundiais.
Pastor Pessoal, concordo com vocês, mas as prédicas nem sempre são bem elaboradas... há muitas que são de chorar...
Pastor A IECLB é pioneira destacada na reflexão e na ação em relação a Pessoas com Deficiência e sobre o tema Inclusão! Já foram dados passos que nos alegram muito neste quesito! Parabéns ao pessoal da Diaconia Inclusão!
Pastor Chorar não de quebrantamento, mas de lamentação por tamanho relaxo...
Pastor A IECLB deu uma contribuição inestimável na tradução das principais obras de Lutero e da teologia protestante, com preciosas publicações através de suas casas publicadoras, dando acesso amplo a essa literatura teológica.
Pastor A IECLB é uma das poucas a ter o Ministério Compartilhado em todo o mundo!
CatequistaTrabalha sério dos diferentes Conselhos...
Pastora A PARTIR DELA TODAS EVANGÉLICAS SE ORIGINARAM! E SOBRE TUDO SERIEDADE E COMPROMISSO COM DEUS!
Pastor Seriedade, missão transcultural, elementos pietistas.
Pastor Um igreja com mais de 100 anos de história em solo brasileiro... boa história.
Pastor 3 centros de formação teológicas reconhecidas pelo MEC... e diversas redes de educação fundamental e média... ou seja, seriedade na educação "secular" e teológica.
Pastor Sim, Pastor, a Rede Sinodal de Educação é integrada por 60 escolas de Ensino Fundamental e Médio, e até Superior (IELUSC e IEI, porv exemplo), todas com um perfil de educação comprometido com a Reforma de Martim Lutero e fruto da mais bonita máxima de Lutero trazida pelos imigrantes ao Brasil: "Ao lado de cada igreja uma escola".
Pastor Iria, com Deus e com o próximo!
Pastor boa música e liturgia
Pastor POXA, QUANTA COISA BOA NA NOSSA IECLB. TÁ LEGAL ESSA REFLEXÃO. QUE
TAL ALGUEM COMPILAR ESSES DEPOIMENTOS E PUBLICA-LOS COMO TESTEMUNHOS RUMO AO JUBILEU DA REFORMA? OU ENTÃO CRIAR UMA PÁGINA OU GRUPO NO FACEBOOK ENTITULADO "JUBILEU DA REFORMA - IECLB PRESENTE"?
Pastor A teologia, a teologia, a teologia!
E Lutero foi magistral ao nos ensinar a nunca interpretar um único versículo sem submetê-lo
ao todo das Escrituras, desde o Gênesis ao Apocalipse.
E, para que a crítica construtiva não vire água com açucar: Penso queainda podemos melhorar na comunicação.Tenho para mim, que a
palavra de Lutero, “Man muss dem Volk
aufs Maul schauen”, incluio pregar
de maneira contextualizada e não apenas inteligível. Ainda, segundo B.
Brecht, significa falar como o povo fala, mas não o que o povo fala. Ás vezes tenho a impressão que nossa riqueza de conteúdos e valores históricos confessionais é diretamente proporcional à nossa dificuldade em comunicá-los de maneira significativa e desafiadora...Precisamos, sim,
falar a linguagem do povo sem, no entanto, nivelar com os valores seculares e,
a exemplo do Sermão do Monte, desafiar ao crescimento e à maturidade. Se o alvo
é inalcançável, ótimo: Tanto maior a dependência da graça!
Pastora tudo de bom
Armin Andreas Hollas o Pastor lança um desafio de juntarmos tudo isto e mais um pouco para a convenção. Acho que a lista pode crescer ainda mais. Precisamos aprender a olhar com carinho para nossa IECLB. Nos acostumamos DEMAIS a nos bater teologicamente. Quem olha de fora as discussões via facebook até se assusta com nossa igreja, pelo menos com a maneira, muitas vezes dura, de nos dirigirmos uns aos outros. Temos muitos "ranços" e "feridas" que precisam ser curados. No entanto a pluralidade e a democracia dentro da IECLB e de nossas comunidade que faz esta igreja tão bonita!
Pastor Não digo que a IECLB é a melhor Igreja, porque isto seria incompatível com o luteranismo, mas digo que é a menos ruim.
Armin Andreas Hollas Aliás, Pastor, eu nem sei se alguma Igreja pode se julgar "a" melhor. Todas as instituições são humanas e, por conseguinte, falhas. Somente a Ekklesia de Cristo é perfeita e esta perpassa às instituições. Por este motivo somos ecumênicos, não é? Reconhecer-se assim está dentro do preceito "semper reformanda" da teologia Luterana, e é característica de nossa IECLB.
Pastor Dizer que a IECLB é a menos ruim não é dizer que é a melhor?
Pastor Helio, tem diferença, sim! Menos ruim é referir debaixo. A melhor seria olhar a partir do topo. Para mim é diferente. E quase que dizer não tem nenhum "boa", mas tem aquelas que humildemente se entendem como não tão ruins, por exemplo!
Pastor Hum... tá bom, se vocês tão dizendo.
Pastora Com certeza minha formação catequética foi muito boa e posso ser uma testemunha!!!
Pastor AMIGOS, AMIGAS E COLEGAS! ESTOU SENTINDO QUE ESSA REFLEXÃO VAI
VIRAR UM LIVRO A SER LANÇADO NA CONVENÇÃO. QUE TAL? ARMIN, VOCE SE
ENCARREGA DE COMPILAR TUDO, JA QUE A REFLEXÃO APRTIU DE VC? UM ABRAÇO A
TODOS E TODAS.
Pastor Creio que a IECLB é o que é. Não vejo como a melhor ou menos ruim. Assim também são as comunidades da IECLB. Cada uma tem o seu jeito, isso porque cada comunidade tem as suas pessoas, a sua história, o seu contexto. Claro que há desafios, crises, dificuldades, assuntos mal resolvidos, pastores que talvez não assumam sua responsabilidade, mas também membros que não assumem seus compromissos. Este post foi importante para perceber que apesar das diferenças teológicas e comunitárias, somos Igreja de Jesus Cristo no Brasil através da IECLB. Os debates que aqui ocorrem, as vezes são polêmicos, e até mesmo vergonhoso, mas são importantes para perceber que apesar de um não concordar com o outro, e de um cutucar o outro, ninguém deixa de ser IECLB. Por quê? Talvez porque dentro dessa confessionalidade, ali na minha comunidade, no meu ministério, na minha vivência comunitária, cheguei a conclusão (inconsciente ou não) de que a IECLB é a minha Igreja na qual Deus me plantou e na qual ele chama para florescer e produzir muitos frutos. Deus seja louvado!
Pastora Vamos criticar menos,e orar mais.
Pastor Criticar?! O post só tem elogios!
Amigo Cultura.
Pastor apesar de estar num caminho de cada vez mais ser centralizadora, ainda destaco como positivo o ser uma igreja da base, das comunidades
Armin Andreas Hollas Democrática ao invés de hierárquica.
Armin Andreas Hollas uma pregação centrada no evangelho e não no medo de Satanás
Amigo Uma igreja que não adoece a mente das pessoas! Não faz as pessoas se tornarem fanáticas, cheias de ódio e pré-conceito com outras pessoas! Essa pelo menos é a visão que eu tenho...
Armin Andreas Hollas coerência na teologia e na vida das comunidades!

Armin Andreas Hollas amigo o órgão decisório da IECLB, na comunidade é a Assembléia, na paróquia é a Assembléia, no sínodo é a Assembléia e na IECLB é o Concílio. Na assembléia da comunidade todos membros tem voz e voto, na assembléia da paróquia todas as comunidades tem voz e voto, na assembléia sinodal todas as comunidades tem voz e voto, no concílio todos os sínodos tem voz e voto. Se os membros não participam das assembleias, ou se as comunidades não enviam representantes às assembleias paroquiais e sinodais, é outra história. A comunidade ou a paróquia não serão democráticas quando estas não seguirem os estatutos e os membros não tiverem participação ativa. Qualquer comunidade pode criar, em assembléia, uma moção a ser levada para a assembléia sinodal e para o concílio. Se isto não é democracia eu não sei o que é!

Pastor ESTIMADO Amigo! SOU PASTOR DA IECLB, SEI QUE TEM PONTOS NEGATIVOS
NA NOSSA IGREJA, OS QUAIS SEMPRE COLOCO PARA REFLEXÃO NAS REUNIÕES COM
OS E AS COLEGAS DE MINISTÉRIO E NOS PRESBITÉRIOS DAS COMUNIDADES. MAS,
COLOCANDO NA BALANÇA, TENHO ORGULHO DE DIZER QUE OS PONTOS POSITIVOS
PESAM MAIS. COM CERTEZA, A IECLB NÃO É TÃO DEMOCRÁTICA COMO GOSTARÍAMOS
QUE FOSSE, MAS POSSO AFIRMAR COM 90% DE CERTEZA QUE TEM MUITA DEMOCRACIA
NA IECLB (AS VEZES, ATÉ EM EXCESSO): COMO SÃO ESCOLHIDOS OS PASTORES E PASTORAS? COMO SÃO ELEITOS OS PRESBITÉRIOS? COMO ESCO9LHEMOS LIDERANÇAS
PARA DIVERSAS ATIVIDADES NA IGREJA, INCLUSIVE PARA ELEGER UM/A
ZELADOR/A? QUAL IGREJA PODE AVALIAR SEUS MINISTROS E MINISTRAS, COMO FAZ
A IECLB??? FICO FELIZ QUE NOSSA IGREJA NÃO É PERFEITA, COMO DIZ O
PRÓPRIO LUTERO: SOMOS IGREJA EM COSNTANTE REFORMA!! - GRAÇAS A DEUS....


Paróquia é uma Igreja transparente e séria em relação às finanças. As comunidades são administradas em conjunto e devem prestar contas a todos de como as contribuições são investidas. É uma Igreja que não se aproveita das pessoas, trocando dinheiro por promessas de bênçãos. É uma Igreja centrada na Palavra e não nas emoções (que são muito falhas). É uma Igreja humilde, que sabe reconhecer-se simultaneamente justa e pecadora e busca respeitar os irmãos e irmãs de outras denominações, inclusive motivando à caminhada conjunta (ecumênica). É uma Igreja histórica, que sempre está se reformando, mas não se deixa levar ou pelo menos luta para não ser levada pelos ditames do "espírito da época". Pastor.

Amigo toda aquela que faz a vontade de Deus,não se desvia para a esquerda e nem para a direita;agora cabe a cada um examinar a sua volta.A IGREJA VERDADEIRA É QUE GUARDA OS MANDAMENTOS DE DEUS (mandamentos são eternos) E TéM O TESTEMUNHO DE JESUS”. Se a Igreja tém essas base BIBLICA ela é VERDADEIRA.>>>>>IECLB....
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Monday, April 21, 2014

A minha graça te basta!



Numa discussão sobre a graça alguém disse: “mas eu preciso aceitar a graça, afinal a somos salvos por graça e fé, disse o apóstolo.” Fiquei num beco sem saída. Para mim, até o ato de “aceitar” diminui a graça, coloca novamente a pessoa como centro. Como sair deste beco sem saída?
O jeito é retornar ao doador da graça. As suas parábolas são simples e.... geniais! Tem a da pérola, da dracma perdida, da ovelha perdida, do tesouro oculto, da grande ceia e tantas outras, mas a minha predileta é a dos dois filhos (ou filho pródigo, se preferires). Nesta  parábola a ação do filho leva a separação, à ruína, ao desespero, à desesperança e à situação de morte. Enfim sua ação o leva de volta ao pai, mas não como filho, sua ação o leva como servo.
O ponto interessante, que sempre escapa às reflexões é que mesmo longe, mesmo revoltado, mesmo pródigo, este nunca deixou de ser filho. Tanto que ao retornar o pai lhe restitui à sua condição de filho, ainda que este se considerasse imerecido. A graça de ser filho nunca lhe havia sido retirada. A sua ação, de querer a partilha, de querer a sua liberdade, de querer a sua independência, esta sim, o havia afastado do pai, mas para o pai ele continuava filho! A graça imerecida independe da ação, do retorno, do arrependimento. Outrossim não é graça, é barganha.
Isto se entende no diálogo com o segundo filho. “Tudo o que tenho é teu”, diz o pai, sempre esteve a tua disposição. A alegria estava em recuperar o filho que havia desdenhado a graça. Ser filho, tanto um como outro, independia de qualquer ação.
Desta forma, a graça não depende de nós. Deus nos faz filhos e filhas, independentes de nossa bondade, maldade, aceitação ou negação.  Somos filhos e filhas, como nascidos do ventre de nossa mãe, independente de nosso querer, independente de nosso “aceitar”. Independente, como dizem alguns pastores pentecostais em suas profetadas, de “tomar posse” da graça, somos feitos herdeiros de Deus pela sua suprema vontade, pela sua graça e seu amor.
- Mas é preciso ter fé, né pastor? Até esta é graça, pois dizemos “Creio Senhor, mas aumenta minha fé”.
Antes que alguém argumente que então eu não preciso fazer nada, que assim é muito fácil. Realmente, a graça é fácil, pois o salvo não precisa fazer absolutamente nada pela graça. Nada pela graça, nada para a graça, mas tudo a partir da graça e tudo por causa da graça! O povo de Deus não precisa fazer absolutamente nada para ser povo de Deus, assim foi com Abraão, foi com o povo de Israel e é com os cristãos. Mas por causa disto este povo se engaja, se anima, se move, para colocar sinais da graça, da misericórdia e do amor de Deus.

Soli Deo Glória.

Sunday, April 20, 2014

Tríduo Pascal em Rio das Antas

Rio das Antas.

Neste ano as celebrações da Semana Santa em Rio Das Antas foram diferentes do que a comunidade estava acostumada. Houve a celebração do Tríduo Pascal. Na Quinta-feira Santa houve o culto de Lava-pés, na Sexta-feira Santa a celebração da morte e no domingo de Páscoa a celebração do “Fogo Novo”, ou da Luz.
Na quinta-feira Santa o lava-pés e a Santa-ceia cantada encantaram os que participaram do culto. Por não ser de costume da comunidade esta celebração na semana santa a participação foi pequena. A celebração da Sexta-feira Santa, pela tradição da comunidade é a mais concorrida. No entanto, os membros estranharam a falta da Santa-ceia neste dia. O Domingo de Páscoa teve a beleza da liturgia com o Círio Pascal aceso na fogueira, do lado de fora da igreja e levado para dentro da igreja. Os dois corais da comunidade cantaram, o coral misto e o coral masculino.

Ao terminar o culto as pessoas presentes comentaram da beleza litúrgica e de que esta deva ser repetida no próximo ano.

As fotos são de Margot von Hedde















Wednesday, June 12, 2013

"Estou Cansado!"


Ricardo Gondim

Cansei! Entendo que o mundo evangélico não admite que um pastor confesse o seu cansaço. Conheço as várias passagens da Bíblia que prometem restaurar os trôpegos. Compreendo que o profeta Isaías ensina que Deus restaura as forças do que não tem nenhum vigor. Também estou informado de que Jesus dá alívio para os cansados. Por isso, já me preparo para as censuras dos que se escandalizarem com a minha confissão e me considerarem um derrotista. Contudo, não consigo dissimular: eu me acho exausto.
Não, não me afadiguei com Deus ou com minha vocação. Continuo entusiasmado pelo que faço; amo o meu Deus, bem como minha família e amigos. Permaneço esperançoso. Minha fadiga nasce de outras fontes.
Canso com o discurso repetitivo e absurdo dos que mercadejam a Palavra de Deus. Já não agüento mais que se usem versículos tirados do Antigo Testamento e que se aplicavam a Israel para vender ilusões aos que lotam as igrejas em busca de alívio. Essa possibilidade mágica de reverter uma realidade cruel me deixa arrasado porque sei que é uma propaganda enganosa. Cansei com os programas de rádio em que os pastores não anunciam mais os conteúdos do evangelho; gastam o tempo alardeando as virtudes de suas próprias instituições. Causa tédio tomar conhecimento das infinitas campanhas e correntes de oração; todas visando exclusivamente encher os seus templos. Considero os amuletos evangélicos horríveis. Cansei de ter de explicar que há uma diferença brutal entre a fé bíblica e as crendices supersticiosas.
Canso com a leitura simplista que algumas correntes evangélicas fazem da realidade. Sinto-me triste quando percebo que a injustiça social é vista como uma conspiração satânica, e não como fruto de uma construção social perversa. Não consideram os séculos de preconceitos nem que existe uma economia perversa privilegiando as elites há séculos. Não agüento mais cultos de amarrar demônios ou de desfazer as maldições que pairam sobre o Brasil e o mundo.
Canso com a repetição enfadonha das teologias sem criatividade nem riqueza poética. Sinto pena dos teólogos que se contentam em reproduzir o que outros escreveram há séculos. Presos às molduras de suas escolas teológicas, não conseguem admitir que haja outros ângulos de leitura das Escrituras. Convivem com uma teologia pronta. Não enxergam sua pobreza porque acreditam que basta aprofundarem um conhecimento “científico” da Bíblia e desvendarão os mistérios de Deus. A aridez fundamentalista exaure as minhas forças.
Canso com os estereótipos pentecostais. Como é doloroso observá-los: sem uma visitação nova do Espírito Santo, buscam criar ambientes espirituais com gritos e manifestações emocionais. Não há nada mais desolador que um culto pentecostal com uma coreografia preservada, mas sem vitalidade espiritual. Cansei, inclusive, de ouvir piadas contadas pelos próprios pentecostais sobre os dons espirituais.
Cansei de ouvir relatos sobre evangelistas estrangeiros que vêm ao Brasil para soprar sobre as multidões. Fico abatido com eles porque sei que provocam que as pessoas “caiam sob o poder de Deus” para tirar fotografias ou gravar os acontecimentos e depois levantar fortunas em seus países de origem.
Canso com as perguntas que me fazem sobre a conduta cristã e o legalismo. Recebo todos os dias várias mensagens eletrônicas de gente me perguntando se pode beber vinho, usar “piercing”, fazer tatuagem, se tratar com acupuntura etc., etc. A lista é enorme e parece inexaurível. Canso com essa mentalidade pequena, que não sai das questiúnculas, que não concebe um exercício religioso mais nobre; que não pensa em grandes temas. Canso com gente que precisa de cabrestos, que não sabe ser livre e não consegue caminhar com princípios. Acho intolerável conviver com aqueles que se acomodam com uma existência sob o domínio da lei e não do amor.
Canso com os livros evangélicos traduzidos para o português. Não tanto pelas traduções mal feitas, tampouco pelos exemplos tirados do golfe ou do basebol, que nada têm a ver com a nossa realidade. Canso com os pacotes prontos e com o pragmatismo. Já não agüento mais livros com dez leis ou vinte e um passos para qualquer coisa. Não consigo entender como uma igreja tão vibrante como a brasileira precisa copiar os exemplos lá do norte, onde a abundância é tanta que os profetas denunciam o pecado da complacência entre os crentes. Cansei de ter de opinar se concordo ou não com um novo modelo de crescimento de igreja copiado e que vem sendo adotado no Brasil.
Canso com a falta de beleza artística dos evangélicos. Há pouco compareci a um show de música evangélica só para sair arrasado. A musicalidade era medíocre, a poesia sofrível e, pior, percebia-se o interesse comercial por trás do evento. Quão diferente do dia em que me sentei na Sala São Paulo para ouvir a música que Johann Sebastian Bach (1685-1750) compôs sobre os últimos capítulos do Evangelho de São João. Sob a batuta do maestro, subimos o Gólgota. A sala se encheu de um encanto mágico já nos primeiros acordes; fechei os olhos e me senti em um templo. O maestro era um sacerdote e nós, a platéia, uma assembléia de adoradores. Não consegui conter minhas lágrimas nos movimentos dos violinos, dos oboés e das trompas. Aquela beleza não era deste mundo. Envoltos em mistério, transcendíamos a mecânica da vida e nos transportávamos para onde Deus habita. Minhas lágrimas naquele momento também vinham com pesar pelo distanciamento estético da atual cultura evangélica, contente com tão pouca beleza.
Canso de explicar que nem todos os pastores são gananciosos e que as igrejas não existem para enriquecer sua liderança. Cansei de ter de dar satisfações todas as vezes que faço qualquer negócio em nome da igreja. Tenho de provar que nossa igreja não tem título protestado em cartório, que não é rica, e que vivemos com um orçamento apertado. Não há nada mais desgastante do que ser obrigado a explanar para parentes ou amigos não evangélicos que aquele último escândalo do jornal não representa a grande maioria dos pastores que vivem dignamente.
Canso com as vaidades religiosas. É fatigante observar os líderes que adoram cargos, posições e títulos. Desdenho os conchavos políticos que possibilitam eleições para os altos escalões denominacionais. Cansei com as vaidades acadêmicas e com os mestrados e doutorados que apenas enriquecem os currículos e geram uma soberba tola. Não suporto ouvir que mais um se auto-intitulou apóstolo.
Por isso, opto por não participar de uma máquina religiosa que fabrica ícones. Não brigarei pelos primeiros lugares nas festas solenes patrocinadas por gente importante. Jamais oferecerei meu nome para compor a lista dos preletores de qualquer conferência. Abro mão de querer adornar meu nome com títulos de qualquer espécie. Não desejo ganhar aplausos de auditórios famosos.
Buscarei o convívio dos pequenos grupos, priorizarei fazer minhas refeições com os amigos mais queridos. Meu refúgio será ao lado de pessoas simples, pois quero aprender a valorizar os momentos despretensiosos da vida. Lerei mais poesia para entender a alma humana, mais romances para continuar sonhando e muita boa música para tornar a vida mais bonita. Desejo meditar outras vezes diante do pôr-do-sol para, em silêncio, agradecer a Deus por sua fidelidade. Quero voltar a orar no secreto do meu quarto e a ler as Escrituras como uma carta de amor de meu Pai.
Pode ser que outros estejam tão cansados quanto eu. Se é o seu caso, convido-o então a mudar a sua agenda; romper com as estruturas religiosas que sugam suas energias; voltar ao primeiro amor. Jesus afirmou que não adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma. Ainda há tempo de salvar a nossa.

Soli Deo Gloria