O lado duro da liderança pastoral Vlademir Hernandes Publicado em 28.09.2009
Se examinarmos cuidadosamente a vida dos líderes da Bíblia, principalmente as dificuldades que tiveram e os obstáculos que enfrentaram ao longo do seu ministério, nós, pastores da atualidade, poderemos entender melhor muitos dos problemas pelos quais já passamos, e até prognosticar realisticamente os obstáculos em potencial que ainda poderão se manifestar.
A liderança pastoral tem um lado duro, que colocará à prova muitas virtudes da fé cristã, como a perseverança, a paciência, o domínio próprio, a cordialidade, a confiança no Senhor e o amor às ovelhas. Esta constatação sobre a dura realidade da liderança pastoral, deveria também influenciar nas decisões que os aspirantes ao ministério precisam tomar quanto a manterem ou não suas investidas por se tornarem pastores.
Liderar a igreja de Cristo envolverá a necessidade de superação constante de obstáculos, assim como a necessidade de suportar, com longanimidade, os constantes sofrimentos que serão impostos nas mais variadas esferas desta experiência. Esta realidade é inerente à grandiosidade da tarefa e à desesperada oposição do inimigo, já derrotado, mas temporariamente ativo e aplicado a infringir derrotas aos homens de Deus chamados para pastorear Sua igreja que prevalecerá contra as portas do inferno.
Para suportar esse lado duro, o pastor precisará desenvolver uma "pele grossa" que resiste às inúmeras fontes que podem ferir até mortalmente os mais sensíveis e melindrosos, que logo se perceberão inaptos para o ministério, tamanha a dor que sentem.
Reflitamos em algumas experiências de líderes da Bíblia:
Quando Paulo escreve aos Coríntios, notamos que o apóstolo se defende de algumas críticas injustas que recebia ali. Em 1 Coríntios 9:1-2 Paulo se aplica a defender sua autoridade apostólica, não aceita por alguns crentes carnais daquela igreja. Em 2 Coríntios 10:8-11 Paulo se defende da acusação de ser duro por carta, mas frouxo pessoalmente.
As críticas são como pedras lançadas contra o pastor, visando machucá-lo quando atiradas diretamente ou visando machucar a sua imagem quando desferidas nas fofocas e maledicências praticadas pelas ovelhas menos maduras.
Algumas críticas terão fundamento, outras não. Algumas serão feitas para ferir outras ferirão mesmo que esta não tenha sido a intenção de quem a fez. Precisamos aprender a lidar com elas. Algumas serão proveitosas e fomentarão nosso crescimento, outras deverão ser tratadas como pecado e as medidas bíblicas contra elas deverão ser tomadas corajosamente, mas com o espírito de brandura típico dos maduros na fé, conforme Gálatas 3:1. Já outras, colocarão nosso ego à prova e desqualificarão rapidamente aqueles que não admitem, por orgulho próprio, que sejam atacados, contrariados ou mesmo rejeitados.
Igualmente tão desafiador quanto enfrentar críticas pessoais, quem desempenha a liderança pastoral também tem que tratar com as murmurações. Moisés experimentou essa dura realidade. Em Êxodo 15:24, 16:2, 17:3, Números 16:41 estão alguns relatos do povo murmurando contra Moisés e Arão. Em Números 21:5 vemos o povo murmurando contra o próprio Senhor, que os castiga com serpentes para que se arrependam da sua postura de reclamação.
O pastor sempre encontrará pessoas reclamando de alguma coisa, descontentes com alguma situação, preferindo que as coisas sejam diferentes do que são. A murmuração é uma manifestação de carnalidade, e muitas vezes ela vem de pessoas sobre as quais nutríamos uma expectativa de uma postura mais madura e tolerante, causando em nós frustração e eventualmente, dor por ter que lidar com elas.
E por mencionar manifestações de carnalidade, há de se lembrar que existem outras situações em que os mais carnais lançam comentários contundentes para machucar os pastores.
Lamentavelmente, tem se avolumado os casos de pastores injustamente perseguidos e até destituídos dos seus ministérios sem receber nenhum respaldo. Às vezes porque discordaram de algum membro ou líder influente, ou ameaçaram a hegemonia ditatorial de alguma família que quer exercer primazia, ou porque combateram alguma prática pecaminosa fazendo com que alguns se sentissem ameaçados e vulneráveis.
Há muitos "Diostrefes" por aí perseguindo injustamente homens de Deus, tal como aquele de 3 João, que boicotava os missionários que vinham de longe para pregar o evangelho, não lhes dando acolhida e proibindo o restante da igreja de os receberem, pois "gostava de exercer a primazia" e não dividia sua posição de honra com ninguém.
Neemias foi caluniado, como vemos em Neemias 6:6. Pessoas queriam causar-lhe mal (Neemias 6:2). Eles até subornaram profetas para lhe falar mentiras em nome de Deus, para prejudicá-lo.(Neemias 6:10-14).
Não é difícil entender que um pastor íntegro e comprometido com a Palavra de Deus torna-se facilmente uma ameaça em igrejas corrompidas pela carnalidade. Receber oposição covarde e agressiva nesse cenário não é um fato surpreendente.
A Palavra de Deus nos avisa, em 2 Timóteo 3:12, que todos que quiserem viver piedosamente serão perseguidos. No caso dos pastores piedosos, às vezes a perseguição vem de dentro da sua própria igreja!
Salmos 8 1Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, tu que puseste a tua glória dos céus! 2Da boca das crianças e dos que mamam tu suscitaste força, por causa dos teus adversários para fazeres calar o inimigo e vingador. 3Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que estabeleceste, 4que é o homem, para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? 5Contudo, pouco abaixo de Deus o fizeste; de glória e de honra o coroaste. 6Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: 7todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, 8as aves do céu, e os peixes do mar, tudo o que passa pelas veredas dos mares. 9Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra!
Fragilidade Humana e encontro com Deus.
Quão frágeis e pequenos que nós, seres humanos, somos! Somos frágeis e dependentes de tudo quando nascemos e levamos uma infância e uma adolescência toda para adquirirmos independência. Nossa vida é um nada – ou quase nada. Nosso corpo é frágil sujeito a dores e a ataques de doenças de todos os lados. O tempo de nossa vida passa tão rápido que quando nos apercebemos estamos nos encaminhando para a velhice e a morte. Num piscar de olhos, na menor distração, nossa vida pode ser ceifada.Corremos em busca pela vida e acabamos perdendo ela nesta busca. “Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? Ou que diria o homem em troca da sua vida?” (Mc 8.38) Frágeis que somos, não nos apercebemos que o encontro da vida só existe no encontro com o divino.
Somente no encontro com o divino deixamos nossas fragilidades.
Somente no encontro com o divino encontramos a vida.
Somente no encontro com o divino somos fortes, pois ainda que fracos, nele somos fortes, disse o apóstolo.
Somente no encontro com o divino, nos tornamos centro da criação, auxiliares de Deus na construção de um mundo novo.
Somente no encontro com o divino conseguimos ver a grandeza da criação, e nós dentro dela.
Somente no encontro com o divino conseguimos ver o próximo, que de nós precisa.
Somente na busca pelo próximo conseguimos encontrar o divino.
Somente parando em nosso corre-corre e apreciando a natureza criada por Deus, conseguimos encontrar o divino.
Somente saindo de nosso egoísmo na busca do coletivo, conseguimos encontrar Deus.
Somente quando abandonamos nossa busca cansativa da vida a qualquer custo, principalmente tendo como custo a vida do próximo, e nos colocamos nas mãos do divino, ele nos concede a graça eterna de sermos divinos.
Conta-se uma história, que não é do tempo dos zagais, mas é, com certeza, do tempo dos pastores regionais.Havia uma paróquia, há já certo tempo, com seu campo de trabalho vago. Sendo paróquia da IECLB, seguiu os trâmites legais; publicou a vaga no quadro de vagas, comunicou o Pastor Regional, estabeleceu um limite para o envio de currículos e ficou esperando candidatos.Como era uma paróquia bem conceituada e que oferecia muitos benefícios aos seus obreiros, houve muitos candidatos que enviaram seus currículos. Pastores de todos os tipos físicos: magros, gordos, altos, baixos, loiros, morenos; de todas as etnias e raças: alemães, italianos, suíços e até um negro se arriscou – uma raridade na IECLB; Com todos os conhecimentos e formações: que falavam alemão, inglês, italiano, com conhecimentos de mecanografia (informática ainda não existia), com bom domínio de público, com experiência de trabalho com casais, JE, OASE, que fazia programa de TV, rádio, montava boletim com normógrafo e decalco (sem Office, já pensou!); de todas as idades: jovens, meia idade e próximos da aposentadoria. Muitos foram convidados a se apresentar, cada um, como “laranja de amostra”, fez uma pregação e passou por uma sabatina, onde foi “apertado” por todos. No entanto, ninguém foi escolhido. Todos apresentavam um defeito, ou mais de um defeito. Se era jovem, não tinha experiência, se era velho, próximo da morte. Se sabia trabalhar com os idosos, não sabia trabalhar com a JE. Se trabalhava bem com os homens da LELUT, ia ter problemas com a OASE.
Cada um foi rejeitado depois de ser examinado por um motivo diverso. Alguém disse: Ah! Bom seria se pudéssemos pegar o que cada um sabe de melhor, misturar tudo e fazer disto um único pastor. Um SUPERPASTOR! O pastor ideal! Depois de prorrogar o envio de currículos por mais 3 meses não houveram mais inscrições e o conselho paroquial foi buscar socorro junto ao Pastor Regional. Este então disse que mandaria um último currículo a ser estudado e apreciado pela comunidade, mas ele não faria apresentação, nem estaria disponível para fazer pregação ou ser sabatinado.
A paróquia se resignou e teve de aceitar a proposta.
O currículo era assim:
• Experiência: Nunca trabalhou em uma comunidade, mas passou por muitas, tendo sempre entrado em atrito com os dirigentes políticos locais. Muitas vezes esta divergência chegou ao ponto da violência física. • Condições de saúde: dificuldades fortes de visão, precisando de auxiliares para escrever seus materiais e estado de saúde que carece cuidados. • Personalidade e posicionamentos: Extremamente duro e intransigente em seus posicionamentos, somente mudando de posição quando é fisicamente atingido pelas suas próprias posições. Extremamente radical em seus posicionamentos teológicos e sem espaço para negociação. • Pregação: Costuma fazer longas explanções e conta-se de pregações que passaram das três horas de duração, ao ponto de um dos ouvintes ter pegado no sono e caído da janela onde estava sentado sobre o peitoril, tendo um fratura craniana. • Informações pessoais: Solteirão convicto que desaconselha o casamento. • Formação: Formação fora do cristianismo em regime de acompanhamento pessoal e individualizado. • Backgroud familiar: nascido em família de elite. • Este currículo é apresentado a partir da secretaria regional, sem nome ou procedência do candidato, para que não se formem preconceitos. • Este será o último currículo que será enviado a esta paróquia.
A paróquia estava com o currículo na mão e, desesperados pelas qualificações do candidato, se lastimavam, pois frente a tal currículo, principalmente de alguém que não iria se apresentar, haviam rejeitado tantos candidatos com bem melhores qualificações.Chamaram o Pastor Regional para uma reunião e colocaram seu desespero e que não tinha como aceitar um candidato com as qualificações que estavam sendo apresentadas. Assim seria melhor que eles buscassem um dos candidatos anteriores, pois este último apresentado pelo Pastor Regional era inaceitável e não teria a mínima condição de atuar em paróquia alguma.
O Pastor Regional, muito calmamente mandou que eles pegassem as suas bíblias. Depois que todos estavam de posse delas, foi passando texto por texto para lhes mostrar uma coisa importante. O CANDIDATO QUE ELES ESTAVAM REGEITANDO ERA O APÓSTOLO PAULO!!!!! O currículo montado pelo Pastor Regional era do Apóstolo Paulo, o maior pregador e pai da Igreja.Quantas vezes nossas paróquias perdem boas oportunidades de ter bons obreiros por ficarem somente procurando os defeitos e pensando nas dificuldades que um obreiro possa ter. Estão tão preocupados com a sabatina à “laranja de amostra”, apertando o candidato para pegá-lo em falhas, que esquecem de imaginar as possibilidades diferentes que um ou outro candidato apresenta.
Não existe um superpastor. Pegar o melhor de cada um e fazer um novo pode produzir um Fanquenstein, um monstro, que não consegue se comunicar. Da mesma forma, às vezes que sabe de tudo, acaba não sabendo nada de nada. “Eu sei que nada sei, e isto é tudo que eu sei”, disse Socrates, mas isso se enquadra às paróquias? Afinal, que se quer de um pastor?
“E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo, a terra tremeu, fenderam-se as rochas.” Mt 27.50
Este era o véu que separava o Santo dos Santos do restante do Templo. Este era o local mais sagrado, onde ficava guardada a Arca da Aliança contendo as Tábuas da Lei. De todo o templo, este era o lugar mais restrito, a ele só tinha acesso o sumosacerdote, pois ali acontecia o contato direto com Deus. Somente alguém previamente escolhido e preparado podia ter este contato direto com Deus. Também neste local a pureza devia ser absoluta e o sacerdote tinha de passar por muitos rituais de purificação para entrar ali. O véu fazia uma separação entre o puro e o impuro, o sagrado e o profano, o transcendente e o imanente, Deus e as pessoas.
O rasgar do véu, na morte de Jesus, confirma a encarnação do verbo divino (Jo 1.1) e a eliminação completa desta separação. Não mais um Santo dos Santos separado, mas aberto a participação de todos. Já não é mais uma única pessoa a se colocar perante Deus, mas todos os que recebem este Jesus, recebem o “poder de serem feitos filhos e filhas de Deus”, o se tornarem um povo de sacerdotes (I Pe 2.9-10).
Hoje, olhando para nossas igrejas, principalmente da IECLB, eu me pergunto: O sagrado invadiu mundo ou o mundo invadiu o sagrado? Se sacralizou o secular, ou se secularizou o sagrado? Dependendo da resposta teremos conseqüências para a igreja e para o mundo em que vivemos.
No meu humilde entendimento o rasgar do véu do templo, a encarnação do verbo, a formação de um povo de sacerdotes, traz o sagrado para o seio da vida diária, fazendo com que cada ato de nossas vidas, das vidas do povo de Deus seja guiado pela sacralidade da encarnação do verbo. Jesus torna sagrada cada vida, cada ser que o Pai deu à Jesus (Jo 6.37-40) se torna sagrado pela vontade do Pai e do amor de Jesus e na comunhão do Espírito.
No entanto o que vemos, hoje, no dia-a-dia, é uma banalização da vida. Dentro de nossas igrejas há uma banalização do sagrado. Em muitas comunidades nada mais é sagrado. Entendemos que o sagrado invadiu o mundo, mas vivemos como se nem dentro de nossos templos o sagrado não existisse. Somos todos sacerdotes, mas agimos como se ninguém fosse sacerdote de nada.
A conexão com Deus se dá através do espaço sagrado. “tira as sandálias que o chão que pisas é terra santa”(Ex 3.5). Se o véu do templo foi rasgado, abrindo este espaço para todos, cabe à nós irmos em busca deste espaço! O sagrado, para nós, luteranos, está ali onde o indivíduo assume a sua função de sacerdote. O sagrado está ali onde a comunidade se reúne como “corpo de cristo” (I CO 12). O sagrado está onde se cumpre a vontade amorosa de Deus.
Nas muitas entrevistas que prestei nos últimos tempos sempre veio a pergunta: "Você tem experiência com.... ?" Na maioria das vezes fiquei sem ação diante da pergunta, mas hoje, ao pensar e refletir cheguei a uma conclusão de que experiência é relativa.
Na minha igreja, a IECLB, as relidades são tão distintas de uma região para outra, tão distintas quanto são as realidades regionais no Brasil. Tem comunidade carismática, progressista, ME, PPL, pietista, tradicional, CML e por aí afora. Tem realidade urbana, rural, metrópole, megalópole... Cada comunidade com seu jeito de ser. Será que a experiência numa pode ser aplicada noutra????? Por outro lado eu fico a pensar na questão teológica. Sem querer me comparar, qual dos profetas tinha experiência? E dos patriarcas, que experiência Deus exigiu deles? Davi tinha muuuuuita experiência em ser rei! Os apóstolos, chamados por Jesus, eram extremamente experientes - em cobrar impostos, em pescar, em pastorear rebanhos.... Meu predileto é o apóstolo Paulo! Quando Deus o derrubou do cavalo ele era extremamente experiente.... em perseguir e matar cristãos!
Que experiência exigir de um pastor? Trabalho de casais? JE? OASE? LELUT? Grupos de estudo? Ensino? Mas será que o jeito de ser e fazer igreja de uma comunidade é aplicável noutra? Volto a minha premissa básica, as raízes luteranas devem ser preservadas, no mais cada comunidade, cada grupo, cada paróquia deve encontrar seu caminho. Isto é o que é o que mais me apaixona na minha IECLB.
Assim, experiência se constrói em conjunto. De outro jeito as devidas diferenças não serão respeitadas e teremos uma Igreja engessada, dura, distante dos anseios das pessoas.
Sei lá... acho que precisa se voltar ao básico. Encontrei um texto, já bastante velho, mas que fala do ter experiência. É assim:
Você tem experiência? leia o texto e responda?
Num processo de seleção da Volkswagen, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta: "Você tem experiência?" A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos. Ele foi aprovado e seu texto está fazendo sucesso, e ele com certeza será sempre lembrado por sua criatividade, sua poesia, e acima de tudo por sua alma . Experiência!!!!!!!!!!
"Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar. Já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto. Já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone. Já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro. Já me cortei fazendo a barba apressado. Já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrela. Já subi em árvore pra roubar fruta. Já caí da escada de bunda. Já fiz juras eternas. Já escrevi no muro da escola. Já chorei sentado no chão do banheiro. Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Já corri pra não deixar alguém chorando. Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado. Já me joguei na piscina sem vontade de voltar. Já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios. Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro. Já tremi de nervoso. Já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua. Já gritei de felicidade. Já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade. Já deitei na grama de madrugada vi a Lua virar Sol. Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração. E agora um formulário me interroga? Me encosta à parede e grita: "Qual sua experiência?". Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência. Experiência... Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta: Experiência? Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova.
Patinação Arte Rodas, de Sobradinho - RS, faz uma homenagem ao Rei do Pop em 2008, durante o seu show intitulado Uma Viagem Pelo Mundo do Cinema, apresentado durante o Natal das Estrelas, no Parque da FEJÃO.
“Graça e paz, da parte daquele que era que é e que sempre será!”
Prezada Comunidade, irmãos e irmãs em Cristo.
Um rock composto por Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto, intitulado “Comida” iniciava dizendo:
“Bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?”
Qual é a fome que nos traz aqui? Qual é a sede que nos traz aqui? O que nós queremos de Jesus? O que nós queremos da Igreja? O que nós queremos da vida? (fazer breve silêncio para as pessoas pensarem).
Havia uma grande multidão que seguia Jesus onde quer que ele fosse. O que buscava esta multidão? O que queria esta multidão? Depois da multiplicação dos pães, quando Jesus alimento 5.000 pessoas com cinco pães e dois peixes, a multidão só aumentou. Esta multidão erra carregada atrás de Jesus pelas suas muitas necessidades; fome, sede, doença, medo, miséria.... e muitos milagres Jesus tinha feito. Quando da multiplicação dos pães Jesus os viu como “um rebanho sem pastor” e teve compaixão deles.
Qual era a fome que os movia? Qual era a sede que os empurrava?
A população de Cafarnaum, bem como de quase toda a Palestina era de uma pobreza bastante grande, ao que se acrescenta a exploração do império Romano, com seus impostos extorsivos. Todo este povo estava sem assistência nenhuma. Tendo como preocupação maior a sobrevivência. Jesus parece ser a última esperança. Nele e em seus milagres este povo vê a solução para seus problemas mais prementes e urgentes. Jesus é a solução para tudo que é negado pelos governantes e pelo sistema. É desta preocupação tão natural ao ser humano que Jesus se refere quando pergunta pelo pão que o povo procura. A busca pela sobrevivência é o que nos coloca no mesmo nível dos animais. Não é pra menos que Jesus chama a multidão de “rebanho sem pastor”. Aliás, quando Jesus se reporta a esta questão como em Mt 6, quando fala de nossa ansiedade pela sobrevivência, coloca que os animais e as plantas se encontram, muitas vezes, em um patamar superior, pois vivem na certeza de que Deus provê.
Na busca pela sobrevivência e por ter a necessidades atendidas a multidão não se iguala aos animais apenas, mas também perde a sua noção do outro.
O que queria a multidão? Alguns queriam que Jesus continuasse os alimentando, dando o pão de cada dia e a cada dia; outros buscavam o linimento para as diversas doenças e dores e outros queriam tão somente acompanhar o espetáculo dos muitos milagres. Pão e circo!
Jesus não condena por esta busca, ela é essencial para a sobrevivência do indivíduo. Seus milagres e sinais atendiam esta solicitude pela sobrevivência, seja curando leprosos, portadores de deficiência, possessos ou alimentando 5.000 pessoas famintas. O que Jesus faz é alertar que para haver humanidade, ou semelhança com Deus, é preciso muito mais.
Jesus chama a si mesmo de “pão da vida” em que quer dar muito mais do que solucionar problemas momentâneos de indivíduos, Jesus quer dar vida “e vida em abundância”. Isto significa que quer auxiliar na sobrevivência, sim, mas quer que as pessoas também busquem mais.
Assim como ao se alimentar do pão, cujas vitaminas passam a fazer parte de nosso corpo, assim se alimentar do “pão da vida” também toma conta de nosso corpo, passa a fazer parte de nosso ser. “Já não sou eu que vive, mas Cristo que vive em mim” disse Paulo. Jesus propõe, além da busca por pão, a busca que é do próprio Deus, a busca por Vida, no sentido mais amplo da palavra e vida para todos!
Olhando para o nosso viver, descobrimos que nos encontramos na mesma situação do povo em Cafarnaum. Vivemos na maior parte em uma ansiosa solicitude pela vida. Nós mesmos costumamos dizer que vivemos correndo atrás da máquina! Que não vivemos, mas apenas sobrevivemos. Vivemos carregados de ansiedades pelo dia de hoje e pelo de amanhã, mas qual é a sede que nos move? Qual é a fome que nos movimenta? O que dá sentido a nossa vida no dia-a-dia?
O corre-corre diário também tem tirado a humanidade das pessoas. Andamos junto com o rebanho, mas é um rebanho sem pastor. Vivemos na busca ansiosa pela vida, mas esquecemos de viver. “Quem quiser ganhar sua vida, perdê-la-á”, disse Jesus. Jovens correm atrás da vida em um hedonismo desenfreado, de festa em festa, de boate em boate; adultos correm atrás do dinheiro para ter um padrão de vida inalcançável; idosos correm atrás da saúde perdida na juventude e na idade adulta. Qual são a sede ou a fome que nos movimentam?
Qual é a sede que nos trás às igrejas ou as inúmeras religiões concomitantes?Onde se participa de duas ou mais religiões, com confissões aparentemente excludentes? Alimenta a nossa sede e fome a participação clubista nas comunidades? Será que a busca por batizado, confirmação, casamento e sepultamento, é só o que eu preciso da igreja?
Na vida social nos acomodamos em receber os nossos direitos públicos, mas não queremos nos envolver com a transformação de um país de um mundo onde se podem colocar sinais do Reino de Deus.
Jesus chama para trabalhar “não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna”. Esta é sede que nos movimenta, esta é a fome que nos empurra e não nos damos conta. Muito mais do que viver, precisamos vida plena, em abundância, por completo. Jesus se apresenta como o “pão da vida”, o pão que alimenta muito mais do que o corpo, que atinge os nossos mais profundos anseios. Deixar-se alimentar por este pão devolve-nos a humanidade, retira-nos da bestialidade da sobrevivência e faz-nos ver o rebanho como um todo. O amor de Jesus, sua morte e ressurreição, nos fazem descobrir que a vida é muito mais do que comer, beber e morrer. Ele nos mostra sinais de reino de Deus, onde o próprio Deus se coloca como nosso pastor e nos concede vida.
Buscar a Jesus pelo pão da vida é poder dizer também as outras palavras da poesia de Arnaldo Antunes.
a gente não quer só comida,
a gente quer comida, diversão e arte.
a gente não quer só comida,
a gente quer saída para qualquer parte
a gente não quer só comida,
a gente quer bebida, diversão, balé.
a gente não quer só comida,
a gente quer a vida como a vida quer.
a gente não quer só comer,
a gente quer comer e quer fazer amor.
a gente não quer só comer,
a gente quer prazer pra aliviar a dor.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer dinheiro e felicidade.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer inteiro e não pela metade.
bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de quê?
você tem fome de quê?
Que nossa fome e sede nos levem sempre a buscar este pão da vida