Thursday, August 27, 2009

Sagrado Vs Profano




Sagrado x Profano

“E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo, a terra tremeu, fenderam-se as rochas.” Mt 27.50

Este era o véu que separava o Santo dos Santos do restante do Templo. Este era o local mais sagrado, onde ficava guardada a Arca da Aliança contendo as Tábuas da Lei. De todo o templo, este era o lugar mais restrito, a ele só tinha acesso o sumosacerdote, pois ali acontecia o contato direto com Deus. Somente alguém previamente escolhido e preparado podia ter este contato direto com Deus. Também neste local a pureza devia ser absoluta e o sacerdote tinha de passar por muitos rituais de purificação para entrar ali. O véu fazia uma separação entre o puro e o impuro, o sagrado e o profano, o transcendente e o imanente, Deus e as pessoas.

O rasgar do véu, na morte de Jesus, confirma a encarnação do verbo divino (Jo 1.1) e a eliminação completa desta separação. Não mais um Santo dos Santos separado, mas aberto a participação de todos. Já não é mais uma única pessoa a se colocar perante Deus, mas todos os que recebem este Jesus, recebem o “poder de serem feitos filhos e filhas de Deus”, o se tornarem um povo de sacerdotes (I Pe 2.9-10).

Hoje, olhando para nossas igrejas, principalmente da IECLB, eu me pergunto: O sagrado invadiu mundo ou o mundo invadiu o sagrado? Se sacralizou o secular, ou se secularizou o sagrado? Dependendo da resposta teremos conseqüências para a igreja e para o mundo em que vivemos.

No meu humilde entendimento o rasgar do véu do templo, a encarnação do verbo, a formação de um povo de sacerdotes, traz o sagrado para o seio da vida diária, fazendo com que cada ato de nossas vidas, das vidas do povo de Deus seja guiado pela sacralidade da encarnação do verbo. Jesus torna sagrada cada vida, cada ser que o Pai deu à Jesus (Jo 6.37-40) se torna sagrado pela vontade do Pai e do amor de Jesus e na comunhão do Espírito.

No entanto o que vemos, hoje, no dia-a-dia, é uma banalização da vida. Dentro de nossas igrejas há uma banalização do sagrado. Em muitas comunidades nada mais é sagrado. Entendemos que o sagrado invadiu o mundo, mas vivemos como se nem dentro de nossos templos o sagrado não existisse. Somos todos sacerdotes, mas agimos como se ninguém fosse sacerdote de nada.

A conexão com Deus se dá através do espaço sagrado. “tira as sandálias que o chão que pisas é terra santa”(Ex 3.5). Se o véu do templo foi rasgado, abrindo este espaço para todos, cabe à nós irmos em busca deste espaço! O sagrado, para nós, luteranos, está ali onde o indivíduo assume a sua função de sacerdote. O sagrado está ali onde a comunidade se reúne como “corpo de cristo” (I CO 12). O sagrado está onde se cumpre a vontade amorosa de Deus.

ASSUMAMOS A NOSSA POSIÇÃO DIANTE DO SAGRADO.

Friday, August 21, 2009

Você tem experiência????????




Nas muitas entrevistas que prestei nos últimos tempos sempre veio a pergunta: "Você tem experiência com.... ?" Na maioria das vezes fiquei sem ação diante da pergunta, mas hoje, ao pensar e refletir cheguei a uma conclusão de que experiência é relativa.

Na minha igreja, a IECLB, as relidades são tão distintas de uma região para outra, tão distintas quanto são as realidades regionais no Brasil. Tem comunidade carismática, progressista, ME, PPL, pietista, tradicional, CML e por aí afora. Tem realidade urbana, rural, metrópole, megalópole... Cada comunidade com seu jeito de ser. Será que a experiência numa pode ser aplicada noutra?????

Por outro lado eu fico a pensar na questão teológica. Sem querer me comparar, qual dos profetas tinha experiência? E dos patriarcas, que experiência Deus exigiu deles? Davi tinha muuuuuita experiência em ser rei! Os apóstolos, chamados por Jesus, eram extremamente experientes - em cobrar impostos, em pescar, em pastorear rebanhos.... Meu predileto é o apóstolo Paulo! Quando Deus o derrubou do cavalo ele era extremamente experiente.... em perseguir e matar cristãos!

Que experiência exigir de um pastor? Trabalho de casais? JE? OASE? LELUT? Grupos de estudo? Ensino? Mas será que o jeito de ser e fazer igreja de uma comunidade é aplicável noutra? Volto a minha premissa básica, as raízes luteranas devem ser preservadas, no mais cada comunidade, cada grupo, cada paróquia deve encontrar seu caminho. Isto é o que é o que mais me apaixona na minha IECLB.

Assim, experiência se constrói em conjunto. De outro jeito as devidas diferenças não serão respeitadas e teremos uma Igreja engessada, dura, distante dos anseios das pessoas.

Sei lá... acho que precisa se voltar ao básico. Encontrei um texto, já bastante velho, mas que fala do ter experiência. É assim:

Você tem experiência? leia o texto e responda?

Num processo de seleção da Volkswagen, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta: "Você tem experiência?" A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos. Ele foi aprovado e seu texto está fazendo sucesso, e ele com certeza será sempre lembrado por
sua criatividade, sua poesia, e acima de tudo por sua alma .

Experiência!!!!!!!!!!

"Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar.
Já me queimei brincando com vela.
Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto.
Já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista.
Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora.
Já passei trote por telefone.
Já tomei banho de chuva e acabei me viciando.
Já roubei beijo.
Já confundi sentimentos.
Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro.
Já me cortei fazendo a barba apressado.
Já chorei ouvindo música no ônibus.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrela.
Já subi em árvore pra roubar fruta.
Já caí da escada de bunda.
Já fiz juras eternas.
Já escrevi no muro da escola.
Já chorei sentado no chão do banheiro.
Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante.
Já corri pra não deixar alguém chorando.
Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.
Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado.
Já me joguei na piscina sem vontade de voltar.
Já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios.
Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.
Já senti medo do escuro.
Já tremi de nervoso.
Já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.
Já apostei em correr descalço na rua.
Já gritei de felicidade.
Já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade. Já deitei na grama de madrugada vi a Lua virar Sol.
Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.

Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração.
E agora um formulário me interroga? Me encosta à parede e grita: "Qual sua experiência?". Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência. Experiência... Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência?
Não!
Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta: Experiência? Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova.

Saturday, August 08, 2009

Patinação ArteRodas dançando Thriller

Patinação Arte Rodas, de Sobradinho - RS, faz uma homenagem ao Rei do Pop em 2008, durante o seu show intitulado Uma Viagem Pelo Mundo do Cinema, apresentado durante o Natal das Estrelas, no Parque da FEJÃO.


Monday, July 20, 2009

Você tem fome de quê?



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Você tem fome de quê?
“Graça e paz, da parte daquele que era que é e que sempre será!”
Prezada Comunidade, irmãos e irmãs em Cristo.
Um rock composto por Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto, intitulado “Comida” iniciava dizendo:
“Bebida é água. comida é pasto. você tem sede de que? você tem fome de que?”
Qual é a fome que nos traz aqui? Qual é a sede que nos traz aqui? O que nós queremos de Jesus? O que nós queremos da Igreja? O que nós queremos da vida? (fazer breve silêncio para as pessoas pensarem).
Havia uma grande multidão que seguia Jesus onde quer que ele fosse. O que buscava esta multidão? O que queria esta multidão? Depois da multiplicação dos pães, quando Jesus alimento 5.000 pessoas com cinco pães e dois peixes, a multidão só aumentou. Esta multidão erra carregada atrás de Jesus pelas suas muitas necessidades; fome, sede, doença, medo, miséria.... e muitos milagres Jesus tinha feito. Quando da multiplicação dos pães Jesus os viu como “um rebanho sem pastor” e teve compaixão deles.
Qual era a fome que os movia? Qual era a sede que os empurrava?
A população de Cafarnaum, bem como de quase toda a Palestina era de uma pobreza bastante grande, ao que se acrescenta a exploração do império Romano, com seus impostos extorsivos. Todo este povo estava sem assistência nenhuma. Tendo como preocupação maior a sobrevivência. Jesus parece ser a última esperança. Nele e em seus milagres este povo vê a solução para seus problemas mais prementes e urgentes. Jesus é a solução para tudo que é negado pelos governantes e pelo sistema. É desta preocupação tão natural ao ser humano que Jesus se refere quando pergunta pelo pão que o povo procura. A busca pela sobrevivência é o que nos coloca no mesmo nível dos animais. Não é pra menos que Jesus chama a multidão de “rebanho sem pastor”. Aliás, quando Jesus se reporta a esta questão como em Mt 6, quando fala de nossa ansiedade pela sobrevivência, coloca que os animais e as plantas se encontram, muitas vezes, em um patamar superior, pois vivem na certeza de que Deus provê.
Na busca pela sobrevivência e por ter a necessidades atendidas a multidão não se iguala aos animais apenas, mas também perde a sua noção do outro.
O que queria a multidão? Alguns queriam que Jesus continuasse os alimentando, dando o pão de cada dia e a cada dia; outros buscavam o linimento para as diversas doenças e dores e outros queriam tão somente acompanhar o espetáculo dos muitos milagres. Pão e circo!
Jesus não condena por esta busca, ela é essencial para a sobrevivência do indivíduo. Seus milagres e sinais atendiam esta solicitude pela sobrevivência, seja curando leprosos, portadores de deficiência, possessos ou alimentando 5.000 pessoas famintas. O que Jesus faz é alertar que para haver humanidade, ou semelhança com Deus, é preciso muito mais.
Jesus chama a si mesmo de “pão da vida” em que quer dar muito mais do que solucionar problemas momentâneos de indivíduos, Jesus quer dar vida “e vida em abundância”. Isto significa que quer auxiliar na sobrevivência, sim, mas quer que as pessoas também busquem mais.
Assim como ao se alimentar do pão, cujas vitaminas passam a fazer parte de nosso corpo, assim se alimentar do “pão da vida” também toma conta de nosso corpo, passa a fazer parte de nosso ser. “Já não sou eu que vive, mas Cristo que vive em mim” disse Paulo. Jesus propõe, além da busca por pão, a busca que é do próprio Deus, a busca por Vida, no sentido mais amplo da palavra e vida para todos!
Olhando para o nosso viver, descobrimos que nos encontramos na mesma situação do povo em Cafarnaum. Vivemos na maior parte em uma ansiosa solicitude pela vida. Nós mesmos costumamos dizer que vivemos correndo atrás da máquina! Que não vivemos, mas apenas sobrevivemos. Vivemos carregados de ansiedades pelo dia de hoje e pelo de amanhã, mas qual é a sede que nos move? Qual é a fome que nos movimenta? O que dá sentido a nossa vida no dia-a-dia?
O corre-corre diário também tem tirado a humanidade das pessoas. Andamos junto com o rebanho, mas é um rebanho sem pastor. Vivemos na busca ansiosa pela vida, mas esquecemos de viver. “Quem quiser ganhar sua vida, perdê-la-á”, disse Jesus. Jovens correm atrás da vida em um hedonismo desenfreado, de festa em festa, de boate em boate; adultos correm atrás do dinheiro para ter um padrão de vida inalcançável; idosos correm atrás da saúde perdida na juventude e na idade adulta. Qual são a sede ou a fome que nos movimentam?
Qual é a sede que nos trás às igrejas ou as inúmeras religiões concomitantes?Onde se participa de duas ou mais religiões, com confissões aparentemente excludentes? Alimenta a nossa sede e fome a participação clubista nas comunidades? Será que a busca por batizado, confirmação, casamento e sepultamento, é só o que eu preciso da igreja?
Na vida social nos acomodamos em receber os nossos direitos públicos, mas não queremos nos envolver com a transformação de um país de um mundo onde se podem colocar sinais do Reino de Deus.
Jesus chama para trabalhar “não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna”. Esta é sede que nos movimenta, esta é a fome que nos empurra e não nos damos conta. Muito mais do que viver, precisamos vida plena, em abundância, por completo. Jesus se apresenta como o “pão da vida”, o pão que alimenta muito mais do que o corpo, que atinge os nossos mais profundos anseios. Deixar-se alimentar por este pão devolve-nos a humanidade, retira-nos da bestialidade da sobrevivência e faz-nos ver o rebanho como um todo. O amor de Jesus, sua morte e ressurreição, nos fazem descobrir que a vida é muito mais do que comer, beber e morrer. Ele nos mostra sinais de reino de Deus, onde o próprio Deus se coloca como nosso pastor e nos concede vida.
Buscar a Jesus pelo pão da vida é poder dizer também as outras palavras da poesia de Arnaldo Antunes.
a gente não quer só comida,
a gente quer comida, diversão e arte.
a gente não quer só comida,
a gente quer saída para qualquer parte
a gente não quer só comida,
a gente quer bebida, diversão, balé.
a gente não quer só comida,
a gente quer a vida como a vida quer.
a gente não quer só comer,
a gente quer comer e quer fazer amor.
a gente não quer só comer,
a gente quer prazer pra aliviar a dor.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer dinheiro e felicidade.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer inteiro e não pela metade.
bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de quê?
você tem fome de quê?
Que nossa fome e sede nos levem sempre a buscar este pão da vida
Amém

Tuesday, June 23, 2009

Linkado com Deus


Estes dias eu assistia a um programa na TV sobre a busca pela “Arca da Aliança”. Aquele artefato, construído em acácia, cuja ordem de construção foi dada pelo próprio Deus (Ex 25.10). Nesta arca estariam colocadas as tábuas com os “dez mandamentos” e a aliança estabelecida com Deus. Este artefato sumiu, provavelmente, durante o tempo de Jeremias, na primeira destruição do templo e ninguém mais teve notícias dela. Muitos têm tentado encontrá-la e muito já rendeu esta busca, em termos de romance e de filmes.

Esta busca não vem ao caso, mas sim a necessidade que se havia de marcar a presença física de Deus entre o povo, o que a arca executava muito bem (Ex 30.6). Este artefato conseguia, ao mesmo tempo, dar uma resposta a necessidade humana por uma conexão concreta com Deus e respeitar o segundo mandamento “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra” (Ex 20.4). A arca não é uma imagem, não é Deus, não se adora esta arca, no entanto ela representa o poder, a força, o amor e a aliança estabelecida por Deus. A arca era uma maneira de se criar uma ligação concreta com este Deus. Usando a linguagem atual, ela linkava o povo com Deus.

Hoje, entre os cristãos das diferentes denominações se discute muito o uso de imagens na adoração, Esta discussão começou já durante a primeira grande cisão, onde se discutia a diferença entre ícones e esculturas como imagens de veneração – veneração é diferente de adoração. Durante a Reforma esta discussão voltou forte, havendo inclusive iconoclastia nas igrejas da Europa. Nos dias de hoje, quando o movimento ecumênico entra em crise, esta discussão parece ganhar uma certa força novamente.

Em Jr 3.16 o profeta Jeremias prevê que num futuro ninguém em Jerusalém iria mais precisar da arca, pois o próprio Deus iria habitar no meio de seu povo. No Salmo 132.8 se pede à Jahweh que este venha habitar o santuário construído e não ser preciso nenhum símbolo pra linkar com Deus, mas poder se referir diretamente com Deus. Em Jesus Deus se faz presente fisicamente em Jerusalém e no Espírito Santo, entregue no Pentecostes (At 2) esta presença se mantém. Desta forma, o próprio Deus nos liberta da necessidade de termos um link físico com Deus, pois o próprio Deus se coloco não só ao nosso lado, mas dentro de nós.

No entanto, o ser humano tem necessidade do concreto, do físico, do palpável. Assim precisamos de nossas igrejas, carregadas de simbologias, para podermos estabelecer uma conexão com este Deus, ainda que saibamos, que sintamos, que presenciamos a sua presença, principalmente nos sacramentos. Aqui cabe a consideração clara de respeito a esta necessidade de termos imagens e símbolos de veneração, pode não ser uma estátua, ou um ícone, mas são objetos sagrados que nos conectam com o Deus, que não está, nem é este objeto.

Tuesday, June 02, 2009

IECLB - Nossa Igreja

A IECLB é uma igreja que existe no Brasil desde que o primeiro imigrante germânico chegou ao Brasil em 1824. Desde lé ela se mantém fiel aos princípios da teologia luterana.

Palavras conseguem contar muito pouco, mas imagens mostram. Vejam o vídeo institucional criado para divulgação


e

Trabalho da IECLB!!!!

A IECLB é uma igreja pequena em número de membros, mas o seu trabalho diaconal é expressivo. Na semana de oração pela unidade dos cristãos o Jornal Nacional da Rede Globo mostro um destes trabalhos, o do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, na região de Pelotas, RS. Ainda existem outros, que deveriam ser mostrados.

A reportagem foi ao ar no dia 29 de Maio de 2009.

Monday, March 09, 2009

Água


Ping, ping, ping, ping...

Como o tic-tac de um relógio, marcando o passar do tempo, a água pinga fazendo um barulhão. Talvez esteja pingando na beirada de uma pedra, ou no telhado, quando chove plenamente. Quem sabe é de uma torneira mal fechada onde o recurso mais precioso e vital da sociedade é inconscientemente desperdiçado.
O barulho da água pingando é saudado com alegria, depois do tempo da seca. O som destas gotas atingindo o solo traz a promessa de transformação, de sementes germinando, de plantações trazendo frutos, de esperança para o futuro, de frescor. Este gotejar é também o som da justiça.
Há mais de dois mil anos o profeta Miquéias chamava a humanidade para as três dobras da espiritualidade da resistência e da persistência. “Pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andes humildemente com o teu Deus” . É para espiritualidade da persistência, para esta espiritualidade da sustentabilidade que nós, cristãos, somos chamados quando a inicia um novo tempo da quaresma.
Séculos atrás o profeta romano Oviedo disse que o gotejar da água quebra a pedra, não por força, mas por persistência. Numa sociedade onde tudo é apressado e de soluções instantâneas, as virtudes da disciplina da quaresma não são fáceis de serem vendidas. O tripé da espiritualidade de Miquéias nos chama a sermos a água gotejando sobre a pedra, continuamente, para salientar os temas da água e da justiça em nossas próprias comunidades e através do mundo.
Loren Kerkof, um padre franciscano, dos EEUU, também nos encoraja a desenvolver o tripé da espiritualidade como resposta à realidade ecológica de nosso planeta, realidade que aponta para a necessidade de aprofundar a relação com Deus; o senso de responsabilidade moral e o chamado para promover o reino de justiça de Deus.
“A eco-espiritualidade se dá conta que a terra é um reflexo do divino; esta vê o universo como um sacramento de Deus, uma encarnação de Deus. Contemplar a beleza e a presença de Deus em todas as coisas pode nos levar a uma metanoia, uma conversão que nos move a responder à crise enfrentada por nosso planeta, nossa casa, a criação de Deus.”
Como o cervo que anseia pelas correntes de águas puras no Salmo 42, há o anseio para que em nosso mundo as coisas sejam diferentes, por água límpida, por uma relação mais profunda com Deus, por uma maneira mais justa de relacionamentos e vida entre as pessoas.
A crise de água e a falta de justiça no acesso à água é parte da crise em que nosso planeta se encontra. Kerkof diz que a questão que enfrentamos hoje é tão somente “Como então iremos viver?”
Desta maneira quaresma é muito mais sobre tomar tempo de se questionar, olhar para a maravilhosa criação de Deus, se dar conta de como cada um de nós leva a vida nos dias de hoje e está conectado ao todo da vida neste precioso e frágil planeta, e perguntar a nós mesmo o que significa, frente a esta realidade, seguir Jesus. É sobre contemplar um belo lago, uma fonte de água pura ou apenas um copo de água gelada. É também assumir um compromisso de ser parte da longa luta por justiça e água para todos.
Enquanto andamos humildemente com Deus através da quaresma nós também olhamos adiante, para a promessa de um mundo de valores transformados oferecidos pela ressurreição de Cristo na Páscoa. Esta transformação precisa começar por cada um de nós.
Conseguir justiça e água para mais de um bilhão de pessoas em nosso planeta, que não tem acesso à água pura e limpa para beber não vai acontecer de um dia para o outro. Este será sempre um longo processo de defesa gotejando, de campanhas e ação direta. Algumas vezes vai parecer como se não tivesse impacto algum. Exige de nós não só o compromisso intelectual e político, mas também precisa da espiritualidade da persistência, que nos sustenta enquanto seguimos Jesus e tentamos ser água que coroe as montanhas de injustiça.
A promessa é de Cristo, a fonte de água viva, nos sustentará enquanto caminhamos adiante e regamos as novas sementes de justiça.
Amém.

Água é o tema proposto para meditação para a quaresma pelo Conselho Mundial de Igrejas. Visite em http://www.oikoumene.org/en/activities/ewn-home/resources-and-links/seven-weeks-for-water.html

Saturday, June 07, 2008

Ecumenismo e eu

Minha Igreja no movimento ecumênico


Uma frase que ouvi de um renomado doutor em teologia: “Eu amo minha IECLB”. Esta frase foi proferida pelo P. Dr. Gottfried Brackemeier em uma atualização teológica aos pastores do Sínodo Centro-Campanha Sul, em 2005 e reflete um posicionamento do qual compartilho.

Fui batizado dentro da IECLB, mas sou apenas a segunda geração de minha família nesta Igreja. Os Hollas através do mundo são, em sua maioria, Católicos Romanos, meu avô se tornou luterano por opção, pois foi habitar em uma localidade onde havia somente a “Igreja do Sínodo Luterano”. Em todos os casos, a IECLB é a Igreja onde fui batizado, educado, confirmado, me
casei e batizei minha filha, sem contar que fui ordenado pastor, função que cumpro em uma paróquia com nove comunidades.


É importante falar do amor pela IECLB, pois com ela partilho e dela aprendi minhas convicções teológicas e confessionais e isto inclui meu posicionamento radical de respeito às demais confissões e religiões. A minha IECLB é ecumênica por excelência, ainda que parte dos membros desta igreja não entenda assim, e isto também é por força de seu posicionamento de respeito às diferentes opiniões.

Criei-me em meios diversos dentro de uma mesma igreja e isto moldou muito meu modo de sentir e ser igreja. Enquanto meus pais viviam um modo tradicional, pendendo ao pietismo, participava dos meios carismáticos da IECLB nos arredores de São Leopoldo. Na época da Faculdade, Escola Superior de Teologia, ainda mantinha esta dualidade, sem ser esquizofrênico.

Enquanto me aproximava de movimentos mais ligados à Teologia da Libertação, mantinha minha membrezia na comunidade onde havia sido confirmado,na Scharlau.

“Unidade na Pluralidade” não foi somente um discurso, mas sempre consegui visualizar e manter a minha fé e confissão mesmo em ambientes que para muitos parecia tão diverso, por um lado freqüentar uma comunidade ligada ao movimento carismático na IECLB, por outro me interessar pelos rumos mais revolucionários da teologia, ou por uma teologia que atendesse mais aos anseios sociais e antropológicos dos membros. Por um lado, o anseio pelo mágico do carismatismo, por outro as necessidades físicas e sócias das pessoas.

Este convívio com extremos dentro de uma mesma Igreja faz perceber que também dentro das diversas denominações há divergências, mas que quando olhadas como parte de uma mesma fé produzem crescimento e partilha.

Da mesma maneira é o convívio e relacionamento com outras religiões. Muitos usam o termo tolerância, mas de minha parte eu prefiro utilizar respeito. Lembro que em minha entrevista de admissão na EST – então chamada de FACTEOL – me foi perguntado sobre o meu posicionamento com relação às outras religiões, como cristão. Lembro-me que falei que eu era cristão e que o cristianismo o único caminho, até que alguém me provasse o contrário. Um dos professores então analisou de eu não estar firme na minha fé, ao que eu respondi que não foi o que eu tinha falado, mas que devemos sempre considerar a possibilidade de o outro poder estar certo, respeitando a sua opinião, pois quando colocamos de antemão o posicionamento de que o outro está errado, fechamos automaticamente a possibilidade de diálogo. Este é um posicionamento que tenho para a minha vida, seja no diálogo com outras denominações, seja no diálogo com outras religiões. Eu parto do princípio que, no ponto de vista do interlocutor este está certo, bem como eu, de meu ponto de vista.

Em meus trabalhos paroquiais tive experiências diversas. Na primeira paróquia, Gravataí, em meio ao movimento carismático da IECLB, não havia a possibilidade de trabalho conjunto com as igrejas históricas, mas havia possibilidade e cooperação com as igrejas pentecostais e batistas. Em Sobradinho, onde estou atualmente, sempre houve diálogo e cooperação mútua, seja com a Igreja Católica Romana, seja com as igrejas pentecostais e igreja batista. Com a Igreja católica Romana chegamos a co-celebração mútua, seja na matriz católica, seja no templo da IECLB. Também a colaboração mútua com as igrejas pentecostais e celebração conjunta em eventos públicos.

Não há como fugir da ecumene, ela é parte integrante da fé cristã. Se nos desligamos dela sofremos o risco de nos tornarmos guetos, trancados em nós mesmos que perdem o sentido de ser, ou a base de ser cristão, a busca pelo outro, pelo próximo, pelo diferente, pelo apartado, pelo marginalizado.