Monday, October 26, 2009

Devoções e orações


Há alguns dias atrás, quando nos preparávamos para retornar da convenção nacional de obreiros - http://www.luteranos.com.br/convencao2009/ - vi uma cena que me chamou muito a atenção, a devoção de um rapaz, católico romano, que fazia a sua oração enquanto caminhava pelas ruas. Como eu sabia? Ele rolava os dedos nas contas de um rosário enquanto caminhava. Este jovem seguia o que a bíblia manda: Perseverai na oração, vigiando com ações de graça” (Colossenses 4.2). “Orai sem cessar” (II Tessalonicenses 5.17). A cena muito me chamou a atenção, tanto que comentei com um colega que estava comigo.

O texto de Lucas 18.1 relata: “Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer”. A parábola é a do Juiz Iníquo. Nos tempos de Jesus os israelitas oravam três vezes ao dia. Uma grande devoção.

Os Islamitas são convocados a orar cinco vezes ao dia. Estes também possuem um rosário de contas, o tessubá, que carregam em seus bolsos para poderem sempre fazerem as orações que são prescritas.

Os católicos, seja romanos, seja ortodoxos, tem um sinal de devoção muito forte. Um é o rosário de contas. Tem suas diferenças em numero de contas, mas na base é o mesmo. Estes tem também o “Sinal da Cruz”, não um sinal mágico, mas um sinal de devoção e oração.

Já os cristãos da reforma não tem nada prático ou físico para auxiliar nas orações. Ainda que Lutero seguia bem a ordem beneditina – Ora Et Labora – esta não é a tônica, nem nas igrejas luteranas, nem nas outras igrejas da reforma.

Deus certamente sabe de nossas necessidades antes de pedirmos, mas este espera que façamos nossas orações. A pergunta é como fazer estas orações. Precisamos estar na igreja, no templo? Que palavras digo? Pode ser uma oração decorada? Pode ser escrita? Tem de ser falada?

Existem muitas formas de oração. O livro dos Salmos tem algumas das mais belas orações escritas. Lutero escreveu orações - http://tiny.cc/U7hkd - que pudessem ser lidas. Os budistas tem uma forma interessante, depois de proferida, a oração é escrita e colocada em tonéis giratórios, para que as palavras possam sempre ser agitadas, ou escrevem em bandeirolas, para as palavras serem agitadas pelo vento.

Existe uma tradição em Jerusalém que é de se colocar orações escritas nas frestas das ruínas do templo. Até tem um rapaz que faz isso com que lhe escreve a oração. http://www.tweetyourprayers.info/2009/09/tweet-your-prayers-in-pictures/ Um trabalho muito bonito. Basta fazer sua oração e escrever para ele no twitter - @thekottel – que ele imprime e coloca nas frestas do muro.

Em todos os casos, o que precisamos é recuperar nossa devoção, ou encontrar formas de devoção.

Soli Deo Gloria.

Portas fechadas

Deus também fecha portas -

André Sanchez
Ribeirão Preto, SP, Brazil

Gostamos de portas abertas.



A porta fechada nos desespera, nos dá insegurança, medo e às vezes revolta. Em nossas orações costumamos pedir a Deus que abra portas e não que feche portas.

Muitos acreditam que Deus não fecha portas, que ele somente abre, mas é certo que Deus fecha e mantém fechadas muitas portas em nossas vidas.

Deus fechou a porta diante do apóstolo Paulo, quando este pediu que Ele lhe tirasse o espinho da carne. Deus fechou a porta a Moisés, quando não permitiu que ele entrasse na terra prometida. Deus fechou a porta de uma geração inteira, que morreu no deserto, antes de ver a Terra Prometida.

Deus permanece hoje fechando portas e as portas que Deus fecha devem permanecer fechadas. Deus fechou uma porta perante Jonas. A porta de seu preconceito contra os Ninivitas. Jonas foi lá e quiz arrombar a porta que Deus fechou, resultado? Deus fechou novamente, pois deveria permanecer fechada.

Agimos muitas vezes como Jonas. Não seria melhor deixar a porta fechada e encontrar aquela que Deus tem mantido aberta para nós?

Não creio que determinar a Deus a abertura de portas, como é feito por muitos, seja correto. Precisamos pedir a Deus que mantenha fechadas as portas que devem ficar fechadas, mesmo que isto custe a nós algum sofrimento, pois, afinal, Deus é quem sabe quais são as portas que devem estar abertas e aquelas que devem permanecer fechadas. Confiamos ou não em Deus?

“Atenta para as obras de Deus, pois quem poderá endireitar o que ele torceu?” (Eclesiastes 7. 13)

O que aconteceria conosco se entrassemos pelas portas que Deus fechou?

Thursday, October 08, 2009

Teologia da prosperidade

Cansei dos pastores da prosperidade!

André Sanchez
Ribeirão Preto, SP, Brazil


Ligue a sua Tv e coloque em alguns dos canais que transmitem programas religiosos. Agora veja quantos deles estão falando, que Jesus morreu em uma cruz pelos nossos pecados, que somos pecadores e precisamos nos arrepender, que o crente é sal e luz do mundo, que precisamos ser instrumentos nas mãos de Deus, que precisamos amar o próximo, que precisamos orar, ler a Bíblia, jejuar...?

Já adianto a resposta: NENHUM!!!!!!

Cansei! estou de saco cheio destes líderes cegos, estou de saco cheio destes mercadores da fé. Jesus também teve um desses momentos: "Tendo Jesus entrado no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam; também derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores. (Mateus 21.12-13)

Não pregam a palavra de Deus, não levam o povo a Deus. São traidores, estão transformando a [noiva de Cristo] numa prostituta, quando a fazem amar mais o dinheiro e a prosperidade do que a Deus. Paulo disse bem sobre esse amor destrutivo: "Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores." (1 Timóteo 6:10)

Até quando, "pastores da prosperidade", vocês vão desviar as pessoas de Deus? Até quando vão proceder como loucos, "ensinando os pequeninos" aquilo que não vem de Deus, fazendo-os tropeçar? Até quando vão levar o povo para longe de Deus e da verdadeira vida com Cristo, confundindo "vida abundante" com prosperidade? Vocês não leem a Bíblia? Não ouviram aquilo que Jesus disse: "Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar." (Mateus 18.6)

Deus está de olho em vocês, não ficarão impunes. A justiça de Deus clama contra os maus pastores, que adoram as riquezas e não adoram a Deus. Que fazem as ovelhas se desviarem dos caminhos do Bom Pastor! O tempo da sua ruína está decretado pelo Todo-Poderoso. Aquele que sonda os corações e sabe o que se passa no íntimo de vocês, está olhando e vendo tudo. No tempo determinado irá decretar juízo contra vocês! Como João Batista eu clamo aos pastores da prosperidade: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus." (Mateus 3.2)

Quanto a mim, cansei dos pastores da prosperidade!

Saturday, October 03, 2009

A minha graça te basta!


Sola Gratia! Sola Fide! Sola Scriptura! Solos Christus!

Está escrito forte o suficiente? Como luterano eu penso que isto deveria ser escrito com letras garrafais em nossas igrejas, nos muros das cidades, em páginas centrais dos jornais, em revistas de grande tiragem; ser apregoado do alto das torres de nossas igrejas, nas esquinas, nas praças, nas ruas... e, garanto, ainda não seria suficiente.

Assisti um vídeo — o qual eu já havia assistido antes – que me deixou deveras indignado com a maldade humana, que usa o medo para se beneficiar – assista o vídeo abaixo e se indigne também. Igrejas que se utilizam do medo para angariar membros, que expulsam demônios em cada culto, acusam pessoas de bruxaria, apregoam a força do diabo e prendem pessoas a um medo indescritível. Este medo faz pessoas fazerem coisas que seriam impensáveis sem ele.

O título, acima, é a base da teologia luterana. Todo fazer teológico luterano parte deste princípio básico, sobre o qual está construída a igreja. A graça de Deus, que se fez carne em Jesus Cristo (João 1) se coloca no meio de nós para resgatar o vínculo perdido. Isto é GRAÇA, não nos é pedido nada em troca. “A minha graça te basta” (II Co 12.9).

O que é preciso fazer para ter isto? NADA! Se precisássemos fazer algo deixaria de ser graça, seria negócio! O amor de Deus é incondicional.

Partindo do princípio do amor de Deus e da graça de Deus, o medo perde completamente a sua força, pois “No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo (1 João 4:18).

Como cristãos, como pregadores, como pastores, como profetas, como bispos, como sacerdotes, ou seja lá qual o nome que quisermos dar, somos chamados não só a pregar e a viver este perfeito amor que recebemos de Deus.

Se o amor incondicional de Deus lançou fora o medo em nossas vidas, não lancemos o medo sobre o próximo, mas sim distribuamos do mesmo amor que recebemos.

Soli Deo Gloria!

Abaixo, veja o vídeo. è sobre crianças que são acusadas por um pseudo pastor de serem bruxas.

SE ESTAS COISAS ACONTECEM É POR QUE NÃO PREGAMOS O SUFICIENTE A GRAÇA DE DEUS!!!!!!


Friday, October 02, 2009

Religiões sob ótica humorística

Leandro Hassun expõe de maneira bem humorística as religiões e sua maneira dse portar na sociedade. Posicionamento de um ateu, mas dá o que pensar! Raciocinem...

Wednesday, September 30, 2009

Dureza Pastoral

O lado duro da liderança pastoral
Vlademir Hernandes
Publicado em 28.09.2009

Se examinarmos cuidadosamente a vida dos líderes da Bíblia, principalmente as dificuldades que tiveram e os obstáculos que enfrentaram ao longo do seu ministério, nós, pastores da atualidade, poderemos entender melhor muitos dos problemas pelos quais já passamos, e até prognosticar realisticamente os obstáculos em potencial que ainda poderão se manifestar.
A liderança pastoral tem um lado duro, que colocará à prova muitas virtudes da fé cristã, como a perseverança, a paciência, o domínio próprio, a cordialidade, a confiança no Senhor e o amor às ovelhas. Esta constatação sobre a dura realidade da liderança pastoral, deveria também influenciar nas decisões que os aspirantes ao ministério precisam tomar quanto a manterem ou não suas investidas por se tornarem pastores.
Liderar a igreja de Cristo envolverá a necessidade de superação constante de obstáculos, assim como a necessidade de suportar, com longanimidade, os constantes sofrimentos que serão impostos nas mais variadas esferas desta experiência. Esta realidade é inerente à grandiosidade da tarefa e à desesperada oposição do inimigo, já derrotado, mas temporariamente ativo e aplicado a infringir derrotas aos homens de Deus chamados para pastorear Sua igreja que prevalecerá contra as portas do inferno.
Para suportar esse lado duro, o pastor precisará desenvolver uma "pele grossa" que resiste às inúmeras fontes que podem ferir até mortalmente os mais sensíveis e melindrosos, que logo se perceberão inaptos para o ministério, tamanha a dor que sentem.
Reflitamos em algumas experiências de líderes da Bíblia:
Quando Paulo escreve aos Coríntios, notamos que o apóstolo se defende de algumas críticas injustas que recebia ali. Em 1 Coríntios 9:1-2 Paulo se aplica a defender sua autoridade apostólica, não aceita por alguns crentes carnais daquela igreja. Em 2 Coríntios 10:8-11 Paulo se defende da acusação de ser duro por carta, mas frouxo pessoalmente.
As críticas são como pedras lançadas contra o pastor, visando machucá-lo quando atiradas diretamente ou visando machucar a sua imagem quando desferidas nas fofocas e maledicências praticadas pelas ovelhas menos maduras.
Algumas críticas terão fundamento, outras não. Algumas serão feitas para ferir outras ferirão mesmo que esta não tenha sido a intenção de quem a fez. Precisamos aprender a lidar com elas. Algumas serão proveitosas e fomentarão nosso crescimento, outras deverão ser tratadas como pecado e as medidas bíblicas contra elas deverão ser tomadas corajosamente, mas com o espírito de brandura típico dos maduros na fé, conforme Gálatas 3:1. Já outras, colocarão nosso ego à prova e desqualificarão rapidamente aqueles que não admitem, por orgulho próprio, que sejam atacados, contrariados ou mesmo rejeitados.
Igualmente tão desafiador quanto enfrentar críticas pessoais, quem desempenha a liderança pastoral também tem que tratar com as murmurações. Moisés experimentou essa dura realidade. Em Êxodo 15:24, 16:2, 17:3, Números 16:41 estão alguns relatos do povo murmurando contra Moisés e Arão. Em Números 21:5 vemos o povo murmurando contra o próprio Senhor, que os castiga com serpentes para que se arrependam da sua postura de reclamação.
O pastor sempre encontrará pessoas reclamando de alguma coisa, descontentes com alguma situação, preferindo que as coisas sejam diferentes do que são. A murmuração é uma manifestação de carnalidade, e muitas vezes ela vem de pessoas sobre as quais nutríamos uma expectativa de uma postura mais madura e tolerante, causando em nós frustração e eventualmente, dor por ter que lidar com elas.
E por mencionar manifestações de carnalidade, há de se lembrar que existem outras situações em que os mais carnais lançam comentários contundentes para machucar os pastores.
Lamentavelmente, tem se avolumado os casos de pastores injustamente perseguidos e até destituídos dos seus ministérios sem receber nenhum respaldo. Às vezes porque discordaram de algum membro ou líder influente, ou ameaçaram a hegemonia ditatorial de alguma família que quer exercer primazia, ou porque combateram alguma prática pecaminosa fazendo com que alguns se sentissem ameaçados e vulneráveis.
Há muitos "Diostrefes" por aí perseguindo injustamente homens de Deus, tal como aquele de 3 João, que boicotava os missionários que vinham de longe para pregar o evangelho, não lhes dando acolhida e proibindo o restante da igreja de os receberem, pois "gostava de exercer a primazia" e não dividia sua posição de honra com ninguém.
Neemias foi caluniado, como vemos em Neemias 6:6. Pessoas queriam causar-lhe mal (Neemias 6:2). Eles até subornaram profetas para lhe falar mentiras em nome de Deus, para prejudicá-lo.(Neemias 6:10-14).
Não é difícil entender que um pastor íntegro e comprometido com a Palavra de Deus torna-se facilmente uma ameaça em igrejas corrompidas pela carnalidade. Receber oposição covarde e agressiva nesse cenário não é um fato surpreendente.

A Palavra de Deus nos avisa, em 2 Timóteo 3:12, que todos que quiserem viver piedosamente serão perseguidos. No caso dos pastores piedosos, às vezes a perseguição vem de dentro da sua própria igreja!

Monday, September 14, 2009

Fragilidade humana - encontro com Deus


Salmos 8
1Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, tu que puseste a tua glória dos céus! 2Da boca das crianças e dos que mamam tu suscitaste força, por causa dos teus adversários para fazeres calar o inimigo e vingador. 3Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que estabeleceste, 4que é o homem, para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? 5Contudo, pouco abaixo de Deus o fizeste; de glória e de honra o coroaste. 6Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: 7todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, 8as aves do céu, e os peixes do mar, tudo o que passa pelas veredas dos mares. 9Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra!
Fragilidade Humana e encontro com Deus.

Quão frágeis e pequenos que nós, seres humanos, somos! Somos frágeis e dependentes de tudo quando nascemos e levamos uma infância e uma adolescência toda para adquirirmos independência. Nossa vida é um nada – ou quase nada. Nosso corpo é frágil sujeito a dores e a ataques de doenças de todos os lados. O tempo de nossa vida passa tão rápido que quando nos apercebemos estamos nos encaminhando para a velhice e a morte. Num piscar de olhos, na menor distração, nossa vida pode ser ceifada. Corremos em busca pela vida e acabamos perdendo ela nesta busca. “Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? Ou que diria o homem em troca da sua vida?” (Mc 8.38) Frágeis que somos, não nos apercebemos que o encontro da vida só existe no encontro com o divino.
  • Somente no encontro com o divino deixamos nossas fragilidades.
  • Somente no encontro com o divino encontramos a vida.
  • Somente no encontro com o divino somos fortes, pois ainda que fracos, nele somos fortes, disse o apóstolo.
  • Somente no encontro com o divino, nos tornamos centro da criação, auxiliares de Deus na construção de um mundo novo.
  • Somente no encontro com o divino conseguimos ver a grandeza da criação, e nós dentro dela.
  • Somente no encontro com o divino conseguimos ver o próximo, que de nós precisa.
  • Somente na busca pelo próximo conseguimos encontrar o divino.
  • Somente parando em nosso corre-corre e apreciando a natureza criada por Deus, conseguimos encontrar o divino.
  • Somente saindo de nosso egoísmo na busca do coletivo, conseguimos encontrar Deus.
  • Somente quando abandonamos nossa busca cansativa da vida a qualquer custo, principalmente tendo como custo a vida do próximo, e nos colocamos nas mãos do divino, ele nos concede a graça eterna de sermos divinos.

Sermos FILHOS E FILHAS DE DEUS.

Monday, August 31, 2009

O (não) escolhido!

O (não) escolhido!

Conta-se uma história, que não é do tempo dos zagais, mas é, com certeza, do tempo dos pastores regionais. Havia uma paróquia, há já certo tempo, com seu campo de trabalho vago. Sendo paróquia da IECLB, seguiu os trâmites legais; publicou a vaga no quadro de vagas, comunicou o Pastor Regional, estabeleceu um limite para o envio de currículos e ficou esperando candidatos. Como era uma paróquia bem conceituada e que oferecia muitos benefícios aos seus obreiros, houve muitos candidatos que enviaram seus currículos. Pastores de todos os tipos físicos: magros, gordos, altos, baixos, loiros, morenos; de todas as etnias e raças: alemães, italianos, suíços e até um negro se arriscou – uma raridade na IECLB; Com todos os conhecimentos e formações: que falavam alemão, inglês, italiano, com conhecimentos de mecanografia (informática ainda não existia), com bom domínio de público, com experiência de trabalho com casais, JE, OASE, que fazia programa de TV, rádio, montava boletim com normógrafo e decalco (sem Office, já pensou!); de todas as idades: jovens, meia idade e próximos da aposentadoria.

Muitos foram convidados a se apresentar, cada um, como “laranja de amostra”, fez uma pregação e passou por uma sabatina, onde foi “apertado” por todos. No entanto, ninguém foi escolhido. Todos apresentavam um defeito, ou mais de um defeito. Se era jovem, não tinha experiência, se era velho, próximo da morte. Se sabia trabalhar com os idosos, não sabia trabalhar com a JE. Se trabalhava bem com os homens da LELUT, ia ter problemas com a OASE.

Cada um foi rejeitado depois de ser examinado por um motivo diverso. Alguém disse: Ah! Bom seria se pudéssemos pegar o que cada um sabe de melhor, misturar t
udo e fazer disto um único pastor. Um SUPERPASTOR! O pastor ideal!

Depois de prorrogar o envio de currículos por mais 3 meses não houveram mais inscrições e o conselho paroquial foi buscar socorro junto ao Pastor Regional. Este então disse que mandaria um último currículo a ser estudado e apreciado pela comunidade, mas
ele não faria apresentação, nem estaria disponível para fazer pregação ou ser sabatinado.

A paróquia se resignou e teve de aceitar a proposta.

O currículo era assim:

• Experiência: Nunca trabalhou em uma comunidade, mas passou por muitas, tendo sempre entrado em atrito com os dirigentes políticos locais. Muitas vezes esta divergência chegou ao ponto da violência física.
• Condições de saúde: dificuldades fortes de visão, precisando de auxiliares para escrever seus materiais e estado de saúde que carece cuidados.
• Personalidade e posicionamentos: Extremamente duro e intransigente em seus posicionamentos, somente mudando de posição quando é fisicamente atingido pelas suas próprias posições. Extremamente radical em seus posicionamentos teológicos e sem espaço para negociação.
• Pregação: Costuma fazer longas explanções e conta-se de pregações que passaram das três horas de duração, ao ponto de um dos ouvintes ter pegado no sono e caído da janela onde estava sentado sobre o peitoril, tendo um fratura craniana.
• Informações pessoais: Solteirão convicto que desaconselha o casamento.
• Formação: Formação fora do cristianismo em regime de acompanhamento pessoal e individualizado.

• Backgroud familiar: nascido em família de elite.

• Este currículo é apresentado a partir da secretaria regional, sem nome ou
procedência do candidato, para que não se formem preconceitos.
• Este será o último currículo que será enviado a esta paróquia.


A paróquia estava com o currículo na mão e, desesperados pelas qualificações do candidato, se lastimavam, pois frente a tal currículo, principalmente de alguém que não iria se apresentar, haviam rejeitado tantos candidatos com bem melhores qualificações. Chamaram o Pastor Regional para uma reunião e colocaram seu desespero e que não tinha como aceitar um candidato com as qualificações que estavam sendo apresentadas. Assim seria melhor que eles buscassem um dos candidatos anteriores, pois este último apresentado pelo Pastor Regional era inaceitável e não teria a mínima condição de atuar em paróquia alguma.

O Pastor Regional, muito calmamente mandou que eles pegassem as suas bíblias. Depois que todos estavam de posse delas, foi passando texto por texto para lhes mostrar uma coisa importante. O CANDIDATO QUE ELES ESTAVAM REGEITANDO ERA O APÓSTOLO PAULO!!!!!
O currículo montado pelo Pastor Regional era do Apóstolo Paulo, o maior pregador e pai da Igreja. Quantas vezes nossas paróquias perdem boas oportunidades de ter bons obreiros por ficarem somente procurando os defeitos e pensando nas dificuldades que um obreiro possa ter. Estão tão preocupados com a sabatina à “laranja de amostra”, apertando o candidato para pegá-lo em falhas, que esquecem de imaginar as possibilidades diferentes que um ou outro candidato apresenta.

Não existe um superpastor. Pegar o melhor de cada um e fazer um novo pode produzir um Fanquenstein, um monstro, que não consegue se comunicar. Da mesma forma, às vezes que sabe de tudo, acaba não sabendo nada de nada. “Eu sei que nada sei, e isto é tudo que eu sei”, disse Socrates, mas isso se enquadra às paróquias? Afinal, que se quer de um pastor?